terça-feira, 1 de dezembro de 2015

UM BARCO À DERIVA CHAMADO BANCO DE MOÇAMBIQUE

1 DE DEZEMBRO DE 2015 BY REDACÇÃO


Texto escrito por Dino Foi

Quando há alguns anos, renomados economistas Moçambicanos advertiram os decisores deste país, sobre o efeito cascata da crise financeira mundial, o Banco de Moçambique foi uma das instituições que veio ao terreiro dizer que a nossa economia não estava exposta , pois a nossa intervenção nos mercados financeiros internacionais era mínima.

Uma explicação que só se aplica se o país se chamasse Coreia do Norte. É que naquele país, nem Internet funciona, portanto há apenas uma intranet, que só funciona dentro das fronteiras geográficas e, naturalmente ,a sua população pensa que a Coreia do Norte teve uma grande Guerra contra os imperialistas Americanos e ganhou!

Numa altura em que a economia está globalizada, fica difícil ir dormir bem , sem pensar o que poderá acontecer no Burma que não tenha um efeito sobre o seu bolso, ou porque quando o crude está “ em alta “ os preços são altos, ou porque os preços se mantêm altos , quando o mesmo crude está em baixa, como actualmente.

A apetência em tentar entender esta matéria, que anteriormente “só” interessava aos economistas está a aumentar um pouco pelo país e, cada vez mais e mais Moçambicanos , querem de facto perceber o que foi que aconteceu. Senão vejamos , como ainda há pouco, nos últimos 15 anos , Moçambique foi exemplo de economias emergentes com um crescimento de quase 10%, o que fez com que não só fosse o foco de afluência de Investimento Direto Estrangeiro, mas, verdadeiramente uma economia resiliente.Só para lembrar, até o Governador do Banco ganhou o prémio do melhor banqueiro de África, no ano passado.

Adicionado a isso, o mercado bancário moçambicano é (era) um dos mais apetecíveis do mundo, onde lucros dos bancos iam até aos 33%, o carvão estava aos biliões em Tete, para não falar do gás de Palma, receita completa para um futuro risonho.

Pessoalmente, nunca acreditei no modelo de exploração do nosso carvão. Se por um lado havia um “bottleneck” na ferrovia , por outro havia o maior dos problemas : o não processamento do mineral em solo pátrio , para alavancar outras pequenas indústrias, que poderiam aproveitar-se dos cerca de 11 “resíduos” que saem do processamento do carvão de coque.

Com um Estado que apenas detêm 15% das reservas do carvão, fica difícil mudar toda uma estratégia desenhada e implementada por multinacionais. Arregaçamos as mangas, com o Primeiro-Ministro falamos, quadros seniores do Estado incluindo 3 Ministros , levamo-los a um país algures, para irem aprender novas estratégias e, enviamos 100 Moçambicanos para se formarem, num investimento privado de cerca de 10 milhões de dólares.

E mesmo assim ,nada! Uma economia circular na área do carvão é o que se propunha, onde múltiplos portos e caminhos de ferro, incluído uma paralela à do Sena, deveriam ser construídos para flexibilizar o escoamento do carvão, a divida era para as operadoras e não para o Estado.

O Estado batia-se com as Indianas RITES & Ircon numa empreitada mal feita na linha do Sena, que nem se quer cobriria as necessidades anuais de uma operadora, a Vale! Quando as perdas da Rio Tinto que iam a 20 milhões por mês, começaram a ficar insuportáveis, os accionistas mandaram simplesmente desligar a ficha, numa operação de 50 milhões de dólares, contestada pelo Governo Moçambicano.

É que um acionista espera lucro, se nesse negócio está a perder dinheiro, o mais justo é desfazer-se do negócio nem que seja ao menor preço.Por isso alguns compatriotas nunca entenderam, como a International Coal Ventures Private Limited (ICVL) poderia adquirir aqueles activos numa indústria em declínio.

Apesar da razão deste escrito , nada ter a ver com a viabilidade ou não do projecto , a partir do momento em que a energia Indiana é em 55% dependente do carvão , e o consórcio que ficou com os activos da Rio Tinto, é do Estado Indiano, é claro que sabemos que todo o carvão não irá para os mercados internacionais, mas sim para Índia, de modo que os preços dos mercados internacionais são irrelevantes para eles.

A 67 dólares a tonelada nos principais mercados, e sem expectativas de grande subida senão em 2020, aliado aos grandes custos de produção, mais os 18 dólares que os CFM cobram pela tonelada, o nosso carvão começa a ser mais caro , antes de entrar no navio no porto da Beira. Entretanto, me parece que os nossos decisores tomaram algumas decisões , baseados num carvão a USD 120 por tonelada porque os gastos que se seguiram, parecia-nos que alguém sabia algo mais que muitos de nós não sabíamos!

É que até um jato Presidencial compramos! E o que se seguiu todos vimos, na verdade estamos a ver. Anti-pátria ,foram rotulados aqueles que tinham ideias diferentes sobre as nossas políticas macroeconómicas e, fomos até ao cúmulo de termos de novo, os Moçambicanos originais e não originais.

O certo é, que a não ser que você tenha reservas suficientes, não politize a economia, pois as leis de procura e oferta , são iguais para todos, numa economia em pleno funcionamento.

Há 3 anos que venho dizendo que o nosso câmbio estava a ser manipulado, porque o verdadeiro deveria estar na casa dos 45 Meticais por cada unidade do dólar, só que quando o dólar decidiu chegar ao patamar onde deveria ter estado foi com uma pressão tal , que até chegou a 60 meticais , fazendo com que o nosso Metical seja no momento , a moeda mais desvalorizada, apenas atrás do Kwacha Zambiano.

A depreciação do Metical em 21 porcento numa única semana ,é um sinal inequívoco , do grau de exposição da nossa moeda. Mas ainda assim, os mesmos defensores do indefensável, quando confrontados há meses, disseram e de boca bem cheia, que “o Rand também desvalorizou e, como a nossa principal parceira nas importações é a África do Sul a inflação estaria controlada”.

O que vimos foi o Banco de Moçambique a trazer medidas administrativas , para travar o dólar, num claro sinal de que não dispunha de capacidade em divisas para poder parar o fenómeno. A partir do momento em que o banco central não intervêm no mercado cambial, os bancos comerciais avançam para outra fase: vendem a moeda entre eles, compram de exportadores ou fontes externas ao sistema. Aqui está a resposta do “porquê tanta disparidade nos câmbios dos bancos comerciais?!”

Na altura em que escrevo esta nota o Banco de Moçambique já iniciou (não está a propor) o corte dos gastos em cartões de débito e crédito (o autor foi atingido ontem) e mais medidas administrativas serão postas na mesa, como , a obrigatoriedade de converter 50% do resultado das exportações.

Não tarda nada , serão 2 medidas para fechar o ciclo administrativo de uma política monetária falhada: trocar compulsivamente as divisas em contas de nacionais e, proibir contas e moedas estrangeiras, o que nos levará ao pináculo, o não funcionamento no estrangeiro dos cartões emitidos em Moçambique.

As medidas são para controlar o fluxo de Metical dentro e do Dólar fora, mas não trarão mais dólares para a economia. De modo que não é isso que a nossa economia precisa.

A nossa economia precisa sim , de uma injeção de dinheiro novo, quer em exportações, Investimento Directo Estrangeiro ou venda de activos nefastos à economia: barcos atracados no porto de Maputo ou jato estacionado na base aérea, poderiam ser o começo.

Não esquecendo, que daqui a poucos meses, devemos pagar a tranche da EMATUM!

Tempos tenebrosos!

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