Militares americanos admitem que ainda há 700 combatentes do Estado Islâmico na cidade que o Governo iraquiano disse ter sido libertada
O Exército iraquiano anunciou a libertação de Ramadi, capital da província e bastião sunita de Anbar, e o primeiro-ministro Haider al-Abadi não esperou pelo fim das operações para visitar cidade resgatada ao Estado Islâmico (EI). Os jihadistas sofreram ali um dos piores reveses militares até à data, mas a reconquista de Mossul – que Bagdad prometeu para os próximos meses – continua tão distante quanto incerta.
Mais do que estratégica, a tomada de Ramadi, a única grande cidade que o EI capturou desde que Abadi chegou ao poder, em Setembro de 2014, tem uma importância simbólica para Bagdad e o primeiro-ministro não poupou nas palavras nem nos gestos. “2016 será o ano da grande e final vitória, quando nos livraremos da presença do Daesh no Iraque”, disse Abadi, segunda-feira, numa discurso na televisão. Menos de 24 horas depois, viajou de helicóptero até à cidade, a Oeste da capital, e passeou-se pelas ruas do centro sob forte protecção militar, antes de se reunir com soldados no complexo governamental tomado domingo aos jihadistas, hasteando frente ao edifício a bandeira nacional.
O entusiasmo foi temperado pela queda de três morteiros a cerca de 500 metros de um dos locais que visitou (o que obrigou à sua saída precipitada), contam as agências. Já nesta quarta-feira, um responsável da coligação militar liderada pelos Estados Unidos revelou que haverá ainda 700 jihadistas entrincheirados em Ramadi e nos subúrbios a Leste, e que o centro da cidade está literalmente semeado de engenhos explosivos.
A reconquista, concordam os analistas, é moralizadora para o Exército iraquiano, que ruiu como um castelo de cartas quando, há ano e meio, o EI avançou sobre Mossul e abocanhou a província de Anbar, proclamando um califado sobre territórios que se estendem até à Síria. Ainda mais porque, ao contrário de sucessos anteriores, foram os militares iraquianos a protagonizar a ofensiva e não os peshmergas curdos (como em Sinjar) ou as milícias xiitas (caso de Tikrit).
Ramadi, tal como Falluja, é território sunita e a população teme mais as forças irregulares apoiadas por Teerão do que os jihadistas. Abadi, pressionado por Washington, relegou-as para segundo plano nesta operação e garante que a cidade ficará entregue a combatentes das tribos locais, que à semelhança das forças especiais que conduziram a ofensiva foram treinados e armados nos últimos meses pela coligação internacional contra o EI. “Ramadi é um exemplo daquilo que o Exército quer para as próximas batalhas”, disse à Reuters o analista iraquiano Hisham al-Hashimi.
Os militares americanos dizem-se convictos de que os iraquianos serão capazes de segurar Ramadi (uma cidade que não é estratégica para os intentos do EI, explicam observadores). Mas são os primeiros a relativizar a promessa de Abadi de libertar Mossul em breve e “desferir o golpe fatal” sobre os jihadistas. Reconquistar a segunda maior cidade do Iraque “vai exigir muito esforço, muito treino, muito equipamento e muita paciência”, disse o coronel Steve Warren, porta-voz da coligação. Antes disso está Falluja, a segunda maior cidade de Anbar e que, como Mossul, é mais densamente povoada e está há mais tempo em poder dos jihadistas, recorda o New York Times.
Além do pesadelo operacional e do risco de arrastar o Exército para um cenário de guerrilha urbana, a ofensiva sobre Mossul é ainda complicada pelas tensões entre curdos, árabes sunitas e xiitas, todos com interesse em dominar a grande cidade. Bagdad teme que os curdos aproveitem a operação para se apoderar da metrópole, mas o ministro das Finanças, Hoshiyar Zebari, um curdo, admitiu numa entrevista à Reuters que “não será possível tomar Mossul sem os peshmerga”.
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