EDITORIAL
O Banif vai exigir escolhas decisivas por parte do primeiro-ministro
Agora talvez se perceba melhor a razão pela qual o PS manifestou tão depressa um claro desinteresse em dialogar com a coligação aquando das negociações para a formação do Governo. O mais certo é António Costa ter percebido muito cedo a dimensão dos problemas que o anterior Governo tinha varrido para debaixo do tapete, não querendo dar grandes oportunidades para ficar numa fotografia de onde de certeza sairia muito chamuscado. Primeiro foi o logro da devolução da sobretaxa, agora é o Banif, veremos o que ainda virá por aí. Perante este tipo de casos, é difícil dizer o que é pior: se a repugnante cobardia com que todos os envolvidos descartam responsabilidades pelas situações criadas, se o aviltamento das instituições democráticas que se têm sucessivamente demitido de exercer a justiça e a equidade em toda a dimensão da sua exigência ética. Doa a quem doer, custe o que custar.
Depois dos casos do BPP, BPN, BCP e do BES, praticamente inconsequentes à luz dos danos morais e patrimoniais causados à generalidade dos portugueses, surge agora o Banif. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém é responsável. Pedro Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque, o Banco de Portugal, o Conselho de Administração, mais o silêncio inqualificável de Paulo Portas, todos dão a certeza de terem feito o seu melhor, o que manifestamente não chega para cobrir o buraco que os contribuintes vão ter de pagar.
Ontem, António Horta Osório, o banqueiro português que está à frente do Lloyds Group utilizou o adjectivo “chocante” para qualificar o tema Banif, reclamando uma auditoria externa e o “apuramento claríssimo de responsabilidades”. Tem toda a razão. Como tem Catarina Martins ao exigir mudanças drásticas na regulação e nas regras do sistema financeiro, como condições paraviabilizar o Orçamento Rectificativo. Do que se trata é escolher entre manter tudo como está, ou dar uma machadada definitiva na impunidade dos detentores dos cargos públicos. Neste caso particular, evita ainda ficar na perversa dependência de quem criou o problema. O que não é despiciendo.
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