terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Adelino Buque e a sua aversão às verdades


Quinta, 10 Dezembro 2015

À MEDIDA que fui lendo à violenta reacção do empresário Adelino Buque ao meu artigo que publiquei no último dia 8 neste mesmo matutino, saltou-me logo à vista um facto tão gordo que não escapa mesmo aos leigos: que ele não percebeu bem o que eu digo nesse meu artigo, cujo título ė: Há patrões hipócritas.
Para evitar responder ao que não percebe bem, aconselho-o a prestar muita atenção a tudo que vê, ouve e lê, porque como dizem os ingleses, ė muito perigoso quando a gente não percebe bem. Dizem eles que é melhor não perceber nada, do que perceber mal, porque caso seja uma receita médica que se entende mal, como se deve tomar um certo medicamento, incorre-se no risco de não se medicar correctamente, e assim não se curar ou mesmo morrer.
A sua reacção condenatória ao meu artigo è definitivamente prova de que não o entendeu. Creio que não compreendeu, porque em nenhum momento revelo-me adverso aos patrões, muito pelo contrário.
Logo desde o título “Há Patrões Hipócritas” fica muito claro que não estou a dizer que os patrões são hipócritas, que seria o mesmo que meter no mesmo saco todos os patrões moçambicanos e estrangeiros que tem negócios em Moçambique. Vejo que confundiu o termo ‘’Há’’ como o termo ‘’Os’’. Se eu disser que há moçambicanos ladrões, não estou a mentir, porque de facto há moçambicanos que são gatunos, e muitos de nós fomos vítimas deles, mas não estou a dizer que os moçambicanos são ladrões, que seria o mesmo que acusar todos os moçambicanos de serem ladrões.
Como pode ver, não sou nada adverso aos patrões, mas sou adverso aqueles patrões que são hipócritas, isto è, que estiveram ai a apregoar o que não pensam nem fazem. E não vale negar que não há, porque há muitos tal como há muitos moçambicanos ladrões.
Mas do mesmo modo que eu e o empresário Buque somos adversos aos ladrões, eu sou de facto muito adverso aos patrões que pagam deliberadamente mal ou muito mal aos meus compatriotas que trabalham nas suas empresas, e que são de facto quem produz as riquezas desses patrões. Sou, como digo nesse meu artigo do dia 8, adverso aos patrões que não pagam impostos ao Estado, que não pagam os direitos alfandegários, que exportam ilegalmente os recursos que exploram no nosso pais, sou adverso aos empresários que praticam a especulação, sou adverso aos patrões que não canalizam ao INSS os valores que descontam aos seus trabalhadores, sou adverso aos patrões cuja conduta é contrária às leis.
Portanto, convido-o a reler o meu artigo e verá que não há um único parágrafo em que acuso lanço pedras a todos os patrões que há em Moçambique. Uso uma linguagem que separa os bons patrões dos maus. Na verdade, o meu artigo incidiu sobre os que falaram no MOZEFO-2015 que teve lugar no Campus da prestigiada UEM.
Quanto à sua tentativa de me apresentar como estando contra o MOZEFO, volto a dizer que não entendeu bem também. Antes de explicar a razão que me levou a revelar que há os que dizem que ‘’este’’ MOZEFO-2015 tem objectivos inconfessos, faço questão de transcrever a frase com que se valeu para dar a errónea explicação de que sou contra esta iniciativa: ‘’Confesso que fiquei mais convencido que neste MOZEFO-2015 iria se denunciar que a maioria dos patrões em Moçambique não partilha justamente a riqueza que é produzida pelos seus trabalhadores, quando pouco antes do seu começo, se exibiu um videio do justiceiro Samora Machel, retratando o momento em que proclamava a independência do nosso país, que ele tanto queria fosse o começo da humanização do nosso país à imagem e semelhança do paraíso. Mas toda esta utilização de Samora não passou dum chamariz para se atrair mais atenção aquele desfile constituído maioritariamente pelos que comem sozinhos, e depois atiram as culpas aos outros, como se de Pilatos fossem. Confesso que fiquei muito desiludido, e podem ter razão os que dizem que este Mozefo-2015 tinha outros objectivos inconfessos’’.
Como pode depreender, faço questão de separar claramente os bons dos mãos patrões, dai que digo …fiquei mais convencido que NESTE Mozefo-2015 iria se DENUNCIAR que a MAIORIA DOS PATROES em Moçambique não partilha JUSTAMENTE a riqueza que è produzida pelos seus trabalhadores… e volto a vincar a partir da palavra DESFILE constituído MAIORITARIAMENTE pelos que comem sozinhos…
Quanto à minha revelação, quiçá em primeira mão, de que há os que dizem que ESTE Mozefo2015 tinha outros objectivos inconfessos, não vejo que me valha uma condenação por ‘’noticiar’’ que há os que não vêem com bons olhos pelo menos ESTA MOZEFO-2015. Como jornalista que de facto sou, que faço tudo para cumprir a missão de contador de factos, sejam factos bons ou maus, sejam doces ou amargos, nada mais fiz senão noticiar que há os que entendem que ESTA Mozefo2015 tinha outros objectivos que não os que foram anunciados. Não se trata de nenhum diz-se diz-se como insinua Buque. Ouvi muita gente ai na MOZEFO2015 e fora dela questionar os seus propósitos.
Mas já agora, será que o caro Buque acredita mesmo que toda a gente olha com bons olhos a MOZEFO? A experiencia ensinou me que não há nada neste mundo que seja criada e que tenha o aplauso de todos. Mesmo a Frelimo que foi quem nos libertou do colonialismo, tem o apoio da maioria dos moçambicanos, mas há os que não a apoiam. Tem os que não gostam dela e que acham que tudo o que apregoa de bom não passa de diabólicas. No entanto, alguns dos seus membros são também os que integram o Comité de Honra da MOZEFO, e que no seu entender, tal bastara para que não haja quem seja contra esta organização de Daniel David. Meu compatriota Buque, não haja emocionalmente, para não ser ingénuo. Mesmo as igrejas, como a Católica, que tanto quanto nos ensinam, foi crida pelo Único filho legítimo de Deus, Jesus Cristo, mas como sabes, apesar da sua santidade, ele próprio foi morto neste mundo. Como acha que estou a inventar que há os que encaram a Mozefo como tendo objectivos inconfessos? Será o seu criador mais santo que Jesus Cristo, ou será mais abençoado que Eduardo Mondlane, que foi morto não obstante tenha fundado uma organização que visava a nossa libertação do tenebroso colonialismo? Caro Buque, se após ler esta minha resposta e reler o meu artigo, acreditar ainda que sou adverso aos patrões, então o problema já não e ‘meu, e seu.’


Mavie “versus” Buque um problema de escala (1)
Sexta, 11 Dezembro 2015

Caros Gustavo Mavie e Adelino Buque,
VIVER nesse quarteirão apinhado, em que se transformou o círculo entre as cidades de Maputo e Matola é como estar perdido no mato: as árvores que vos rodeiam não vos deixam ver a floresta. Saiam um bocadinho para o campo e verão que as paixões que vos dividem, aparentemente, são as mesmas que afinal vos unem.
Li com inusitado interesse as vossas opiniões publicadas neste mesmo jornal nos dias 8 e 9 de Dezembro de 2015. Espero que depois desta leitura possam perceber o porquê do “inusitado”. Confesso também que achei interessante a rapidez com que o Adelino Buque, quiçá de tão chocado, conseguiu assegurar que a sua opinião fosse publicada imediatamente no dia seguinte, no espaço cada vez mais concorrido em que se transformou esta página do “Notícias”, logo seguido duma reacção do primeiro autor. Vocês sabem melhor do que eu de que portas se servem.
Devo confessar também que o assunto que vos une entra-me por um ouvido e sai-me pelo outro. Vou tentar explicar a seguir.
Tento recordar-me e não consigo. O tempo voa. Acho que a primeira vez que ouvi falar do MOZEFO deve ter sido algures em Dezembro de 2014, a escassos dias do Natal, ou então em Agosto do ano seguinte bem juntinho do final do mês. Foram as duas vezes mais recentes em que estive num dos hotéis-vila mais chiques da capital do país, lá para as bandas da Sommerschield, para testemunhar dois eventos em tudo semelhantes: Bodas de Prata. Em ambas as ocasiões ia acompanhado pela minha filha mais nova, a que vive em Maputo e por isso substituía a mãe durante aquelas inconsequentes ausências que felizmente chegaram ao fim. Parabéns Tela.
Vivendo o Gustavo Mavie e o Adelino Buque no pequeno quintal chamado Maputo-Matola, devem pensar que esse assunto do MOZEFO é muito conhecido, muito popular. Desafio-vos a fazerem um inquérito à escala nacional. Acredito que conhecem a teoria da amostragem em exercícios deste tipo e sabem que não será necessário fazerem um censo. Aposto que irão descobrir que a vossa disputa é apenas um problema de escala.
Os que dizem que as árvores não deixam ver a floresta referem-se à floresta na sua plenitude, não aos pedaços. Estando aí dentro, claro que vocês conseguem ver muitos troncos e até identificar as espécies de árvores. Mas duvido que possam descrever esse habitat em que vegetam e onde até chegam a assassinar-se intelectualmente.
De há alguns anos para cá vivo praticamente fora desse quintal que infelizmente é tido por muitos como se fosse o país inteiro, e por isso consigo vê-lo ao longe um pouco melhor que vocês. Oiço-o melhor que antes. Os barulhos que vos ensurdecem, vindos das barracas, de viaturas estacionadas ou em verdadeiros ralis, ou mesmo das discotecas improvisadas em quase todas as esquinas dessa urbe não conseguem vencer a distância e não me alcançam. Vivo num perfeito silêncio, quebrado agradável e suavemente pelo chilrear dos pássaros e pelas hélices das ventoinhas que nos aliviam o sofrimento em dias de calor intenso.
Num dos eventos a que me referia, realizados no hotel-vila, acabávamos de sentar, eu e a minha filha, eu ainda atordoado naquele ambiente meio escuro e muito colorido, para mim pouco habitual, sentindo-me demasiado pequeno perante aquela gente tão grandiosa, quando ela, apontando subtilmente para alguém, perguntou-me se seria a apresentadora do MOZEFO. “MOZEFO? O que é isso?”, repliquei surpreendido. Riu-se de tanta ignorância. E foi assim que ouvi falar pela primeira vez desse folclore que afinal é tão popular.
Aqui neste paraíso vejo pouca televisão. Não tenho acesso a canais nacionais nos meus aposentos e estando a escassos quilómetros da fronteira com a África do Sul no Grande Limpopo, até com uma antena rudimentar recebo com nitidez o sinal de quatro canais sul-africanos. São eles que me mantêm minimamente informado e me entretêm com novelas e desporto à sua maneira quando estou menos ocupado. Canais modestos.
Quis o destino que na noite em que a STV passou durante horas consecutivas rostos, discursos, elogios, prémios, roupas, arranjos de luxo e comidas caras, estivesse com amigos numa esplanada aqui no distrito onde me encontro. Foi nesta coincidência que tive a sorte de testemunhar algumas imagens do fórum, sem prestar a mínima atenção ao que diziam os oradores. Meio mundo no sítio onde me encontrava reclamava pelo facto de a STV ter embarcado numa espécie de auto-promoção, falando de mais nada senão do MOZEFO. E cada vez que o PCA aparecia no écran, de pé no podium ou sentado no seu criteriosamente escolhido lugar, ao lado de figuras históricas e emblemáticas, não faltava um comentário pouco abonatório. Alguém chegou a afirmar que o conhecia desde pequeno e revelou-nos a sua apetência pelas aparições. Que mal tem isso? Quem é que não gosta de aparecer na televisão? “Só que”, intercedeu um dos presentes, “para apareceres na midia não precisas de ser dono duma estação de televisão nem dum jornal”… Rimo-nos.
Atrevi-me a perguntar quanto teria custado aquele aparato todo e porquê estariam a passar, aparentemente em directo num canal aberto, aquela luxúria toda para qualquer pobre ver. Nesse instante um dos presentes enviou-me um vídeo que reportava o aniversário de luxo duma adolescente angolana. Só vi o vídeo mais tarde nessa noite. Recordei-me então dum casamento de luxo que há alguns anos atrás também mereceu uma transmissão directa e em exclusivo no mesmo canal onde naquela noite passou horas a fio o MOZEFO. Dessa vez tratava-se de moçambicanos. Alguns dirão que é inveja.
Dias depois viajei a Maputo para a incontornável visita familiar e nas conversas com amigos sobre o MOZEFO 2015, assunto da actualidade, ouvi pela primeira vez alguém mencionar a teoria da conspiração montada pelo Grupo SOICO, com o apoio financeiro de poderosas forças externas, não se sabe bem com que finalidade. Julgo que é isso que o Mavie preferiu chamar de “objectivos inconfessos”.
Acho pois, estranho que Adelino Buque, um cidadão urbano com todas as ligações que possui, por isso melhor informado que eu, manifeste total ignorância por esta teoria e atribua a sua autoria a Gustavo Mavie. É igualmente estranho que sem fundamentar a sua opinião nalguma pesquisa, o Adelino aposte que esta iniciativa do Grupo SOICO tem o apoio de muita gente e que “os que estão contra o MOZEFO (quem serão?) não são suficientemente fortes em contraposição aos que estão a favor”. Não o estou a desmentir. Só estou a achar estranho. Cheira a gato aqui. Posso questionar?
O MOZEFO é mesmo um Fórum Económico e Social? Ou uma gala de personalidades destinada a promover certos objectivos (não quero usar adjectivos que não são da minha autoria)?
Vendo ao longe, sem ouvir o que se dizia, pareceu-me mais uma gala. Questiono, por exemplo, que critérios são ou foram utilizados na escolha dos oradores: Mérito? Popularidade? Beleza? Fama? Conhecimento científico? Experiência em cargos governamentais? Como é que os cientistas e académicos podem participar? - como oradores, não como espectadores. Como é que os camponeses podem participar? Como é que os vulneráveis se podem fazer representar? Existe alguma comissão organizadora aberta a receber propostas de comunicações, a avaliar a sua validade e relevância e, se for o caso, incluí-las no programa? Era assim que se fazia no passado.
Já agora, podem revelar-nos números e resultados? Qual foi o orçamento do 1o Grande Fórum MOZEFO? Quem pagou? Quem saiu beneficiado com esse investimento? Nós que estamos neste debate (Mavie, Buque, eu e outros menos barulhentos)? O povo moçambicano? O Grupo SOICO? O País? Ou, se calhar, o Estado, através da universidade pública detentora do espaço onde decorreu o evento e do Instituto Nacional de Comunicações que cobra taxas de emissão às estações de televisão?
SILVA J. MAGAIA

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