A OTAN convocou uma reunião extraordinária do Conselho do Atlântico Norte para esta terça-feira, a nível de embaixadores após o incidente com o avião russo Su-24, derrubado pela Turquia na Síria, revelou à agência russa de notícias Sputnik um representante da aliança.
O Conselho do Atlântico Norte é a mais alta instância política da aliança.
– A reunião do Conselho do Atlântico Norte deve ser realizada no final da tarde desta terça-feira a pedido da Turquia” – disse o porta-voz, destacando que “até o momento não foi previsto nenhum evento para a imprensa”.
O avião russo Su-24 foi derrubado na manha desta terça-feira na Síria, próximo à fronteira da Turquia. O lado turco afirma que a aeronave havia violado o espaço aéreo do seu país e que a mesma foi avisada antes de ser derrubada.
O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, garantiu ter provas objetivas de que o avião não violou o espaço aéreo turco e realizava o voo estritamente sobre o território sírio.
O incidente foi tratado como uma “provocação internacional” pelo Conselho da Federação (câmara alta do parlamento russo). Enquanto isso, Kremlin pediu para que não fossem feitas suposições prematuras antes de uma apuração mais completa dos fatos.
‘Golpe nas costas’
O presidente da Rússia comentou a catástrofe que aconteceu na manhã desta terça-feira na Síria.
– O incidente com Su-24 russo está fora da luta convencional contra o terrorismo – disse.
Segundo líder russo o avião foi abatido sobre o território sírio por um avião turco.
– O avião russo Su-24 foi abatido por um míssil ar-ar (a partir de um) avião turco – declarou o presidente da Rússia.
Segundo Putin, nem pilotos russos, nem o avião ameaçavam a Turquia, “é óbvio”, disse.
O presidente sublinhou que “o avião estava desempenhando o papel direto de combate contra o Estado Islâmico por meio de ataques contra terroristas”.
O presidente destacou que o avião russo foi atacado na Síria, em 1 km da fronteira com a Turquia, mas caiu em 4 km.
– A tragédia do avião russo na Síria terá consequências sérias para as relações entre Moscou e Ancara – declarou Putin.
– A Turquia, em vez de estabelecer contatos com a Rússia imediatamente após o incidente do Su-24, se dirigiu à OTAN, como se tivesse sido abatido um avião deles – disse.
De acordo com Putin, a Rússia “não só tem tratado a Turquia como um país vizinho, mas também como país amigável. Não sei quem precisou disso, mas não fomos nós”.
Estas declarações foram feitas durante a reunião de Putin com o rei da Jordânia, Abdullah II bin Al-Hussein.Estas declarações foram feitas durante a reunião de Putin com o rei da Jordânia, Abdullah II bin Al-Hussein.
O avião militar russo Su-24 acidentou no território sírio, os dois pilotos conseguiram catapultar-se, mas o seu destino continua sendo investigado.
O Ministério da Defesa russo confirmou a queda do avião num comunicado e declarou que o avião não violou o espaço aéreo turco e que estava estritamente no território sírio.
A OTAN fará em breve uma declaração devido ao incidente do avião militar russo na Síria, disse uma fonte na Aliança à agência noticiosa russa RIA Novosti.
Guerra eletrônica
A Rússia pode começar a usar meios de guerra eletrônica no espaço aéreo sírio para proteger os seus pilotos, disse general Yevgeny Buzhinsky.
A Rússia será obrigada a usar na Síria meios de combate radioeletrônico e usar aviões de missões especiais para prevenir incidentes parecidos com o que aconteceu na fronteira entre a Síria e a Turquia e assegurar voos seguros dos bombardeiros russos, disse o general Yevgeny Buzhinsky, ex-oficial do Ministério da Defesa russo.
– Quanto às consequências que este incidente terá para o decorrer da operação [russa] no futuro, penso que os nossos pilotos prestarão mais atenção e, se os turcos continuarem comportar-se do mesmo modo, a Rússia será obrigada a usar meios de neutralização radioeletrônica e guerra eletrônica, bem como e usar aviões de missões especiais para proteger os nossos pilotos contra disparos de mísseis – afirmou o general.
Buzhinsky acrescentou que os meios de controle permitem determinar como e onde foi abatido o bombardeiro russo, excluindo divergências em relação a esta questão.
O ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov deu nesta quarta-feira uma coletiva na sequência da derrubada do Su-24 na Síria. O ministro turco expressou as suas condolências ao chanceler russo, disse Lavrov. Todavia, o ministro turco tentou justificar as operações turcas afirmando que a Turquia não sabia que o avião era da Rússia.
– Duvidamos que tenha sido um acidente, a gravação preparada da derrubada do avião faz pensar o contrário – disse Lavrov. “Parece mais uma provocação planejada”.
O incidente ocorreu depois de a aviação russa ter realizado ataques contra caminhões-cisterna de petróleo do Estado Islâmico, afirmou Lavrov.
Na reunião da OTAN de ontem foram ditas palavras estranhas sobre a tragédia do Su-24 russo. Não recebemos quaisquer condolências nem da OTAN, nem da União Europeia, afirmou Lavrov.
Lavrov lembrou que os aviões russos estavam no espaço aéreo sírio. Mas, se os caças russos violaram o espaço aéreo turco podem ser colocadas questões sérias porque a Turquia não usou as comunicações de emergência com a Rússia antes de abater o bombardeiro russo, disse o ministro.
– Lembrei [o chanceler turco] de que sob a iniciativa russa foi estabelecida uma linha direta entre o Centro de Controle de Defesa Nacional russo e o Ministério da Defesa turco. A linha foi estabelecida no início da operação da Força Aeroespacial russa na Síria e não foi usada nem ontem, nem antes disso, o que levanta muitas perguntas sérias – disse Lavrov aos jornalistas.
Lavrov também expressou as suas dúvidas sobre a coordenação das ações turcas com os EUA.
– Ao que sei, o nosso avião foi abatido por F-16 norte-americano. Seria interessante saber se a exigência dos americanos aos seus parceiros de receber autorização norte-americana para usar aviões militares recebidos dos EUA abrange ou não a Turquia – disse Lavrov.
A Rússia ainda está à espera de desculpas da Turquia quanto à derrubada do avião russo.
– Não pretendemos travar guerra contra a Turquia – disse Lavrov respondendo à questão dum jornalista.
Segundo Lavrov, “a atitude ao povo turco não mudou”.
– Temos perguntas a fazer somente ao atual governo turco – notou Lavrov.
O chanceler russo acrescentou que todos os acordos com a Turquia serão revisados. Em particular, a chancelaria russa recomendou aos russos não visitar a Turquia.
Segundo Lavrov, Moscou não fecha os olhos ao fato de que os islamistas usam a Turquia como plataforma de preparação de atentados na Síria e em outros países.
– Tentamos considerar os interesses dos nossos vizinhos turcos e explicar a nossa posição através do diálogo”, afirmou o chanceler russo. “Tentamos persuadi-los a promover uma política mais equilibrada, não destinada somente a derrubar Assad de todos os modos possíveis e, consequentemente, a cooperar com vários grupos extremistas – destacou Lavrov.
Lavrov disse que Moscou apoia a proposta do presidente francês François Hollande de fechar a fronteira entre a Turquia e a Síria.
Ontem o chanceler russo cancelou a sua visita à Turquia depois do incidente do Su-24.
– O presidente declarou de forma clara que isso iria afetar as relações russo-turcas. Neste contexto foi decidido cancelar a reunião entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Turquia que estava marcada para esta quarta-feira em Istambul – disse Lavrov aos jornalistas.
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, instou nesta quinta-feira os partidos políticos do país a trabalhar rapidamente para formar um novo governo, dizendo que os egos devem ser deixadas de lado e a história irá julgar qualquer um que ficasse pelo caminho.
Em sua primeira aparição pública desde que a eleição parlamentar de domingo privou o partido governista AKP da maioria no Parlamento, Erdogan disse que seu papel como o primeiro presidente eleito da Turquia é crucial e vai desempenhá-lo com os poderes que lhe foram dados pela Constituição.
Os opositores acusam Erdogan de exceder sua autoridade, intrometendo-se no governo e fazendo campanha pelo AKP, que ele deixou formalmente no ano passado, quando assumiu a presidência com o objetivo de conseguir poderes mais amplos para o cargo.
– Todos devem pôr de lado seus egos e formar um governo o mais rapidamente possível – disse Erdogan em um discurso para estudantes na câmara do comércio de Ancara.
– Esta é a nossa maior responsabilidade para com as nossas 78 milhões de pessoas. Nenhum político tem o direito de dizer ‘eu’. Temos de dizer ‘nós – disse ele.
A moeda turca, a lira, que desde o início do ano vem sendo abalada duramente pela incerteza política, se estabilizou com o tom de Erdogan, que os mercados consideraram mais conciliador, após semanas de inflamada retórica durante a campanha eleitoral.
Qualquer instabilidade será observada com preocupação pelos países aliados da Otan, que valorizam a Turquia como um amortecedor contra um Oriente Médio cada vez mais instável.
Militantes do Estado Islâmico estão nas suas fronteiras e há o receio de que a violência no sudeste do país, de maioria curda, poderia reacender se as negociações de paz forem prejudicadas por divergências na formação de uma coalizão de governo.
A votação de domingo pôs fim a mais de uma década de governo de um único partido no país, candidato à UE, e representa um revés para as ambições de Erdogan de desempenhar um forte papel executivo. Alguns críticos viram o resultado eleitoral como uma reviravolta na trajetória do presidente da Turquia.
Erdogan fundou o partido AK em 2001 e tem dominado a política do país desde essa época. Ele esperava que seu partido conquistasse uma maioria forte o suficiente para mudar a Constituição e introduzir um sistema presidencial no estilo norte-americano.
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