OPINIÃO
Perigosos são os senhores de ontem, a quem António Costa interrompeu um futuro que julgavam brilhante.
O eleitorado da direita, depois de andar uns dias de cabeça perdida, como se o dr. Costa fosse uma nova versão do apocalipse, começa agora a tentar viver com o mundo que temos. Uns, como sempre, e já disse isso anteontem, procuram um lugar quentinho neste inesperado regime de esquerda: um ministro conhecido, um secretário de Estado vaidoso e abordável, uma velha amiga que de repente apareceu num lugar importante. Outros, na televisão e nos jornais, descobrem de mansinho virtudes na política do PS e ajudam com aprovação e o seu conselho. Era de esperar. De resto, as várias espécies, que se manifestam no artigo e no queixume público, tudo visto e considerado, não são as mais perigosas. Perigosos são os senhores de ontem, a quem António Costa interrompeu um futuro que julgavam brilhante.
A primeira ideia que lhes veio à cabeça foi a de fazer uma oposição geral e ferrenha a qualquer coisa que saísse da esquerda, com a marca infamante da ilegitimidade: o que se compreendia se a esquerda precisasse deles. Desta carga de baioneta a intransigência baixou para tácticas mais subtis: votos sobre a Europa, sobre o Orçamento ou sobre assuntos miudinhos que não incomodassem o português pacífico. Infelizmente a ambição (e a frustração) de alguns rebanhos de patetas do PSD e do CDS descobriu que, temporariamente impossível a ascensão no Estado, ainda lhes ficava uma carreira no partido. Apareceram então murmúrios sobre a utilidade do fim da coligação e da necessidade que Costa haveria de ter, talvez dentro de um ano ou menos, de se voltar para a direita. O conúbio com o inimigo não lhes parecia torpe, passava por uma enorme esperteza.
Só pensavam no afastamento de Coelho e Portas, que seriam sem dúvida um obstáculo, para arranjar uma frincha por onde se meter. Publicaram artigos doutos nos jornais e mostraram publicamente as suas dúvidas. Não perceberam na sua ingenuidade que a direita e a esquerda estão separadas por mais do que um incidente eleitoral e que hoje a menor condescendência ou entendimento com Costa (não justificada por um óbvio interesse nacional) equivaleria ao suicídio do autor da façanha: na altura em que o Bloco, o PC e o PS se uniam, a coligação que aguentara os quatro anos de crise caía aos bocados por falta de poder e disciplina ou, mais francamente, por falta de bananas para a macacada. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas não se propõem com certeza cometer esse erro trágico
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