Sobre a indignação de quem paga as contas

Sobre a indignação de quem paga as contas

QUARTA, 21 OUTUBRO 2015 08:40 SÉRGIO VIEIRA

Carta a muitos amigos

Qualquer pessoa que compra um objecto ou contrata um serviço paga a sua conta, espera que lhe entreguem um artigo não deteriorado e com garantia e que nem lhe prestem um mau serviço, violando os termos contratuais. Normal que se faça assim em todo o mundo. Em Moçambique também?

Vejamos alguns exemplos:

                Habito no que me dizem tratar-se do bairro mais populoso da capital. Ora bem:

                De memória das gentes que aqui vivem e pagam a taxa do lixo nunca se viu por cá aparecer um camião para a recolha do lixo. A meio da Rua da Linha existe um contentor, quando mais que transborda lá aparece o camião. Nem sonhar que como na cidade possamos deixar na rua um bom caixote, ninguém o recolherá e se nele pegarem apenas o roubo existe na motivação. Mas o município por que razão nos cobra uma taxa para um serviço que não nos vai prestar? Financiamos a quem e porquê?

                Jamais aqui veio um carteiro e bem se pode procurar por uma estação dos correios.Bairro mais populoso ou mais ignorado?

                Existe uma imitação de esquadra da polícia numa loja abandonada na zona dita doRomão. Que se saiba não possuem uma viatura de patrulha e combustível e para todos efeitos práticos com recolher obrigatório pelas 17 ou 18 horas;

                Polícias circulando? Quanto muito os de trânsito, frequentemente durante o dia, claro abstendo-se de controlar chapas e my love, os travões, pneus, faróis, pisca-pisca, respeito pelas lotações, cintos de segurança, seguros e… A carta do condutor se profissional para transportar passageiros se, ela até inexistente para muitos dos ditoschapeiros. Cobrando refrescos?

                Que tal procurar um piquete da EDM num fim-de-semana longo sobretudo como os que passamos em Setembro e Outubro?

                Catembeiros que deixam passageiros à deriva horas e horas? Como ficam avariados sem que ninguém alerte? Quem paga os sofrimentos das pessoas? Certamente que isso não passa pela cabeça de quem dirige a Trans-Marítima;

                Valas para escoamento das águas? Olhem para a Dona Alice, agora Cândido Mondlane. Parecem valas para acumulação de lixos, produção de mosquitos, rãs, cobras e magníficas incubadoras de cólera.

Nas últimas semanas zonas inteiras da capital do país estiveram sem energia e água.

Já se calculou o custo deste apagão para as pessoas e empresas? Quem vai compensar?

Não existe responsabilidade dos técnicos e dirigentes da empresa em assegurarem a manutenção, as peças essenciais de reposição?

Com tantos engenheiros na empresa há que fazer vir de fora do país quem diagnostique o mal e nos faça importar de longe e com muito tempo de espera o necessário?

Porque nos cortam a energia e de preferência nos Sábados e Domingos, para trabalhos de manutenção? Fazem isso noutros países, se não fazem eles será porque não passam de idiotas?

Desde quando nos contam histórias sobre a construção duma linha que ligue a HCB ao Sul do país sem dependermos da África do Sul? Caetano fez isso para ligar o apartheid à defesa do império em Moçambique.

Ainda estamos lá 40 anos depois? Quais as alternativas que a EDM cria para não nos privar de energia quando faz as ditas manutenções?

Existem PCA das empresas públicas, deputados da Assembleia da República eleitos pela cidade, edis, vereadores, Governadora da Cidade, administradora de bairro, secretários de quarteirão, todos pagos pelos nossos mais variados impostos.

Como se ocupam eles das nossas vidas, preocupações, v quando se trata de caçar votos para assegurarem as mordomias?

Porque não criar um organismo efectivamente independente com autoridade real para controlar todos estes magnatas da política das empresas públicas e pô-los na rua se não desempenham correctamente as suas tarefas?

São nossos empregados e devem trabalhar para justificarem os salários! Se o teu mainato só queima a roupa e o cozinheiro estraga o que prepara o que se faz nas nossas casas? Promovemos, damos bónus ou despedimos?

País maravilhoso Moçambique com tantos feriados e se a data cai num Sábado ou Domingo, há direito a pontes e pontecas, no país, no município, no distrito. Viva o pretexto de se irem às cerimónias!

Lá apenas encontramos o costume, criancinhas trazidas das escolas, alguns membros da OJM, da OMM e dos partidos, o leader religioso que nos diz uma oração. O resto das gentes goza a folga.

Pergunto ao Ministro da Economia e ao Ministro do Trabalho se já fizeram a comparação entre a duração das férias, os números de feriados e pontes em Moçambique e outros países como a China, o Japão, o Vietnam, a Alemanha, os Estados Unidos? Quem fica a ganhar neste campeonato? Ah que bom! Medalha de ouro ou prata ganhamos. Já agora quanto custam estas benesses à economia nacional e quem as paga? Os donativos? Os nossos impostos? Os custos das empresas?

Quem ganha e quem paga?

Demagogicamente e talvez não, apenas para apagarmos as mágoas do colonialismo e opressão dos trabalhadores sobretudo não brancos fizemos leis laborais que põem em causa o desempenho da economia.

Perguntemos honestamente, se uma empresa sofre prejuízos ou lucros que mal compensam os custos incluindo os juros bancários, quanto tempo levará ela a começar a reduzir a força de trabalho? Quem garante o emprego na indústria, serviços, comércio?

A resposta, apenas o desempenho económico da empresa. Porque se importaram filipinos e outros estrangeiros para o carvão, gás, plantações? Porque trabalham e na segunda-feira ou após um feriado não chegam com babalaza ao trabalho. Não faltam porque uma vizinha faleceu, casou, ficou doente. Sem assumirmos estas realidades sofre a economia, sofrem as empresas por isso vão buscar algures quem trabalhe, assegure a manutenção dos equipamentos e saiba atempadamente alertar quando uma peça essencial se está a desgastar e assegurar a rápida reposição.

Como funcionam as telefonias móveis e a internet? A quem oferecemos o prémio do pior serviço e quem fiscaliza? Sem rede, número inexistente, número errado? Quem nunca recebeu estas respostas, quantas vezes repetimos a mesma chamada? Quantas vezes nos cobram por cada mau serviço? Sancionem a indecência por favor!

Um abraço ao trabalho árduo para nos libertarmos da miséria.

P.S. Matar gentes, queimar viaturas, afastar as pessoas das machambas, centros de saúde e escolas, ameaçar as autoridades não cabe isto na definição do terrorismo? Democracia ou terrorismo?