sábado, 31 de outubro de 2015

"A captura do tubarão não vai resolver o problema",

 afirma a Dra. Sandra Silva

sandraNa sequência do ataque de tubarão a uma senhora, na baía de Inhambane, que viria a perder a vida no hospital provincial local, a Administração Marítima de Inhambane desencadeou caça ao referido animal. 
A vítima encontrava-se numa faina de camarão, tendo sido surpreendentemente atacada. Na mesma semana, um outro pescador, em Maxixe, travou uma luta renhida com um tubarão, que disputava um cesto de peixe. O pescador perdeu um dos braços, e viria a ser socorrido para o Hospital Rural de Chicuque, onde se encontra a receber tratamentos.
Desde então, uma equipa da Administração Marítima de Inhambane está na baia numa operação sem precedentes com vista a captura ou abate do tal tubarão, presumível autor dos ataques.
Entretanto, a Profª. Doutora Sandra Silva, do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Universidade Edurdo Mondlane (UEM), especialista em Zoologia, esclareceu que a captura do animal não vai resolver o problema, pois, segundo ela, nada garante que seja o mesmo tubarão que atacou as duas vítimas. “O Tubarão não vive sozinho, vive num grupo”.
“Há espécies diferentes de tubarões e duas delas (Tubarão Touro e Tubarão Tigre) têm capacidade de viver em águas com pouca profundidade, o que significa que pode haver na Baía de Inhambane mais do que um Tubarão”, disse Profª. Sandra, que apontou para a necessidade de se fazer um estudo com vista a apurar a espécie existente naquele local, seguido de um trabalho de sensibilização às populações sobre os cuidados a ter em conta para evitar ataques e aproximação dos animais às comunidades.
Adverte que a morte de um tubarão pode trazer consequências incomensuráveis para a biodiversidade marinha dado que os tubarões, que se alimentam de peixes e de outros tubarões mortos, desempenham o papel de limpadores dos oceanos. “Os tubarões eliminam peixes doentes e feridos que podiam contaminar a água. A eliminação de uma espécie pode gerar um desequilíbrio para a natureza”, esclareceu.
Acrescentou que “o tubarão não sai da água para vir nos atacar, nós é que entramos no seu habitat a procura do nosso sustento”, disse.
Sobre as razões que levam um tubarão a atacar o homem, ela explicou que estes animais são atraídos pelo sangue que para eles significa alimento. O tubarão detecta uma gota de sangue em um milhão e meio de gotas de água, a uma distância de trinta metros. "É preciso evitar entrar na água com feridas", disse.
Por outro lado, segundo a nossa interlocutora, através de receptores localizados em seu focinho, o tubarão pode detectar insignificantes correntes eléctricas causadas pela contracção muscular como a batida de um coração no corpo da vítima. Estes receptores guiam o tubarão em direcção à presa. Profª. Sandra fez notar que os tubarões não vão atrás das pessoas, mas sim são atraídos pelo sangue e correntes eléctricas produzidas pelas peças de metal das pessoas que se encontram na água e, em resposta instintiva aos sinais atacam as pessoas, fonte desses sinas.
Por isso, ela é de opinião de que os pescadores devem evitar fazer-se a água com roupa reluzente ou joias, pois a luz que reflecte pode parecer, aos tubarões, escamas dos peixes de que eles se alimentam. Outra medida sugerida pela nossa fonte é evitar nadar em águas pouco claras ou com algas. Estas atraem peixes pequenos que por sua vez atraem tubarões.
Nos últimos 13 anos o país registou 4 ataques a seres humanos protagonizados por tubarões, três dos quais na província de Inhambane e um na Ponta do Ouro.
No mundo todo, entre 80 e 100 pessoas sofrem anualmente ataques perpetrados por tubarões
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