A Renamo, principal partido de oposição moçambicana, considerou hoje uma "palhaçada" o anúncio da polícia da abertura de um processo criminal contra o líder do movimento por homicídio, na sequência dos incidentes registados na passada sexta-feira.
"Eu acho que é palhaçada. A polícia vai abrir um processo contra o presidente da Renamo e não abre um processo contra a pessoa que matou as tais 23 pessoas da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]?", questionou o porta-voz do partido de oposição, António Muchanga.
Qualificando como infeliz o anúncio do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Muchanga defendeu que as autoridades deviam abrir um processo criminal contra os membros das forças de defesa e segurança envolvidos no incidente.
Sem mencionar o paradeiro do líder do partido, o porta-voz da Renamo afirmou que Afonso Dhlakama apela para a calma e está empenhado em evitar que o país volte a uma nova guerra.
"A nossa prioridade agora é restabelecer o bom ambiente, para que Moçambique não volte à situação que passou durante 16 anos", disse António Muchanga, aludindo à guerra civil que o país viveu até ao Acordo Geral de Paz, em 1992.
A polícia moçambicana anunciou a abertura de um processo criminal, por homicídio, contra o líder da Renamo, principal partido de oposição, relacionado com o incidente de sexta-feira entre as forças de defesa e segurança e homens armados do movimento.
"O líder da Renamo [Afonso Dhlakama] também faz parte dos que vêm no processo. Estamos à espera de dados completos para saber onde está Dhlakama, disse o porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique, Inácio Dina, citado hoje na imprensa moçambicana.
Dina afirmou que, além do líder da Renamo, a ação criminal visa igualmente todos os integrantes da sua comitiva e que as autoridades pretendem identificar o autor do disparo que matou o motorista de um carro de transporte de passageiros.
As autoridades afirmam que foi na sequência do disparo que matou o motorista que as forças de defesa e segurança se deslocaram ao local para repor a ordem e acabaram por se envolver em confrontos com a escolta do líder do principal partido da oposição.
No final da sessão do Conselho de Ministros, o porta-voz do órgão, Mouzinho Saíde, disse, na terça-feira, que o número de mortos no incidente com a comitiva do líder da Renamo subiu de 20 para 24.
Segundo o porta-voz do Conselho de Ministros, 23 militares da Renamo morreram no incidente, a que se somou um civil.
O líder da Renamo disse à Lusa na sexta-feira que foi alvo de uma emboscada das forças de defesa e segurança, mas a polícia rebateu esta versão, sustentando que foi a comitiva de Dhlakama que provocou o incidente ao assassinar o motorista de um 'chapa' (carrinha de transporte semipúblico) que passava no local.
A Renamo afirmou que resultaram desde incidente sete mortos entre a comitiva de Dhlakama e dezenas entre os alegados atacantes, um balanço bastante abaixo dos primeiros números divulgados pela polícia e agravados na terça-feira pelo Governo.
Dhlakama encontra-se em lugar desconhecido desde sexta-feira, embora a Renamo assegure que esteja bem de saúde e a controlar o seu partido, apelando para a não-retaliação.
Este é o segundo incidente em menos de duas semanas que envolve o líder da Renamo, depois de no passado dia 12 de setembro a comitiva de Dhlakama ter sido atacada perto do Chimoio, também na província de Manica.
Na altura, a Frelimo acusou a Renamo de simular a emboscada, enquanto a polícia negou o seu envolvimento, acrescentando que estava a investigar.
Em entrevista ao semanário Savana, o ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, também negou o envolvimento do exército.
Moçambique vive sob o espetro de uma nova guerra, devido às ameaças da Renamo de governar pela força nas seis províncias do centro e norte do país onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 15 de outubro do ano passado.
PMA (AYAC/EYAC/HB) // EL
Lusa – 30.09.2015
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