Segunda, 21 Setembro 2015
COMEMORA-SE esta sexta-feira, dia 25 de Setembro, o dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique - FADM. Essa nomenclatura substituiu a das extintas FPLM – Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM).
Há 51 anos, esta data, marcou o início da luta armada de libertação nacional, do jugo colonial português com o “primeiro-tiro” protagonizado por Alberto Chipande em Chai, na província nortenha de Cabo Delgado.
Detalhes à parte, consta que essa luta foi conduzida pela Frelimo Sim, e, a mesma durou cerca de dez anos tendo culminado com a assinatura do Acordo de Lusaka, na cidade zambiana do mesmo nome, isto a 7 de Setembro de 1974.
Com um total de 18 pontos, o Acordo de Lusaka, assinado pelo Governo colonial português e a Frelimo SIM, conduziu à independência total e completa de Moçambique no dia 25 de Junho de 1975, em Maputo.
Neste pequeno texto, não é do Acordo de Lusaka que quero falar, nem tão pouco da independência nacional, mas sim, das comemorações do dia das nossas heróicas forças armadas.
Aliás, há que considerar que a criação das FADM (antes FPLM) está intimamente ligada à independência nacional, e esta, com o Acordo de Lusaka. Daí três realidades quanto à mim, indissociáveis.
Mais precisamente, quero reflectir criticamente em torno do espectáculo que será orquestrado pela “team de sonhos” moçambicana, juntando a outra oriunda de Angola, nosso “país irmão” (?)!
Trata-se de um evento que está sob a égide da Bang Entretenimento e que terá lugar entre os dias 24 e 25 de Setembro, a par das comemorações do dia das FADM, no Campo de Maxaquene, em Maputo.
Sem reserva de dúvidas, a Bang Entretimento é um conjunto que tem vindo a fazer muito em prol do desenvolvimento da música jovem moçambicana, quer no panorama nacional, quer ainda no panorama internacional.
E isso deve-se muito a autoridade empresarial e artística que o jovem que preside essa congregação construiu ao longo dos últimos anos, tendo lançado alguns dos mais destacados artistas da actualidade.
A título das comemorações do dia 25 de Setembro, achei um pouco infeliz a decisão tomada pela Bang Entretenimento e seus parceiros.
Note-se que parte considerável dos artistas que subirão ao palco neste dia, são de nacionalidade angolana e, ao contrário senso, poucos moçambicanos o farão.
De acordo com a reportagem do programa “Batidas” da Tv Sucesso, a “team de sonhos” angolana é composta por 29 artistas, quando a moçambicana, por apenas 16.
Se o 25 de Setembro é dia das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, então faz sentido que a festa seja feita por moçambicanos e para os moçambicanos.
Quero com isso dizer que a “team de sonhos” moçambicana não devia ter investida exacerbadamente no convite aos músicos e cantores da “team de sonhos” angolana.
Numa altura em que o discurso político do dia fala de promoção da unidade nacional e exaltação da nossa moçambicanidade, aparece-nos um megaconcerto que exclui músicos moçambicanos e promove dos angolanos, em nosso solo pátrio.
Quantos cantores e músicos moçambicanos podiam estar no lugar dos angolanos a actuar? Acredito que tantos, incluindo aqueles que há muito desaparecem da cena artística moçambicana.
Além disso, com bastante dor, pude verificar que o evento conta com o apoio e patrocínio de certas empresas prestigiadas da nossa praça que raramente, apoiam concertos envolvendo artistas nacionais.
Aliás, sobre isso, Dércio Tsandzana escreve num dos seus artigos publicados neste espaço privilegiado reservado a opinião e análise de temas da actualidade política, económica, social, desportiva, cultural e recreativo do país. Ele afirma que afirma que “(…) não é audível nem cabe nas mente de alguns moçambicanos a ideia de que os músicos como: Neyma, Euridse Jeque, Slim Nigga, DJ Ardiles,…Júlia Duarte…não faça parte da tal team”.
A propósito disso, nas laudas do seu texto, Tsandzana deixa claro que tal “inclusão/exclusão” dependente muito dos ditames dos grandes patrocinadores do evento, que ele próprio menciona no artigo.
Outra questão que para mim também constitui um motivo de incómodo é o valor da compra do bilhete de ingresso para o local do evento em alusão que chega a custar cerca de 1500Mt (mil e quinhentos) meticais.
Este valor, em si mesmo, constitui em uma exclusão social. Deixa transparecer que o evento em alusão, não é para todos os moçambicanos, apesar de se realizar numa data comemorativa moçambicana e por causa desta.
Quantos moçambicanos, em particular os residentes na província e cidade de Maputo têm interesse em participar deste evento? De certeza, muitos. E dentre os tantos, encontramos os desprovidos de capitais para aderir ao evento.
À semelhança do que se fez durante os 40 anos da independência nacional no majestoso Estádio da Machava, por que não se faz com este evento, visto que se trata de uma data comemorativa importante para o país!
Deste modo, penso que continuamos a dar muitos passos mas sem sair do mesmo lugar. Ao invés de “moçambicanizar” o 25 de Setembro com músicas, danças e humor nacionais, estamos a “angolanizar” o 25 de Setembro, efeméride que aos angolanos pouco ou quase nada significa.
Para terminar, gostava de chamar a reflexão sobre a necessidade de repensar na forma como realizamos os eventos no nosso país, principalmente quando os mesmos se realizam em datas comemorativas nacionais e por causa destas.
Caríssimos, a unidade nacional, o patriotismo, a fraternidade e a moçambicanidade não se fazem com discursos. É preciso agir. É preciso materializar esses ditos, e, a cultura ocupa um lugar privilegiado nesse processo.
PS: Não fiquem surpresos se no dia do espectáculo se aplaudirem mais os artistas angolanos que subirão ao palco em detrimento dos moçambicanos. O pico da vergonha em solo pátrio. Mais não disse!
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