24.09.2015
CRISTINA AZEVEDO
Há pelo menos cinco grandes ordens de razões que nos devem fazer temer um número muito significativo de abstenções e votos nulos nas próximas eleições.
1. Estou-me nas tintas para a política e para os políticos. São todos iguais.
A mais antiga, a mais recorrente e, porventura, a mais irreversível de todas as razões. A classe política não tem sabido, aqui como lá fora, credibilizar a sua função e inspirar os cidadãos. Preparação, integridade e modernização na visão estratégica e no discurso são ingredientes em falta senão, mesmo, em extinção.
2. O Passos aguentou isto, mas está muita gente muito mal.
Os créditos, factuais, de um primeiro-ministro em funções que aguentou uma legislatura inteira em condições muito difíceis sem que Portugal tenha sido exaurido de recursos e de esperança, ao contrário do que se passa designadamente na Grécia, não chegam para contrabalançar a frustração ou mesmo a zanga de quem, no meio da refrega, perdeu o emprego ou a casa.
3. Perdi o meu emprego mas os socialistas deixaram isto num descalabro.
Mas, do outro lado, Costa não tem sabido apontar o futuro a partir do presente, consumindo-se na tentativa de se descartar de uma governação que, também factualmente, teve de pedir assistência financeira externa.
4. Estou em Lisboa. Não posso pagar 50 euros para ir ao Porto votar.
Depois há os problemas compostos de afastamento cívico e dificuldades conjunturais (logísticas e financeiras). Talvez aqui o país pudesse ter tido mais cuidado e criatividade, indo atrás dos eleitores aonde eles estão. Esta franja é muito típica nos jovens, que já não têm a mais pequena memória histórica e já dão como absolutamente adquirido o valor democrático do voto ou da sua recusa.
5. Eh pá, quero lá saber. Vou mas é ao futebol.
E por último a mais vergonhosa das razões. Ir à bola. Mas aqui cabe essencialmente perguntar que raio de país é este em que ninguém, nem o presidente da República, coloca o simples bom senso à frente de qualquer outra justificação: votar é importante, somos cada vez menos a votar. O futebol é uma poderosa tentação. Não pode, pura e simplesmente, haver jogos neste dia.
Há e são mesmo os quatro grandes a jogar. Depois admirem-se se o Governo for eleito por metade ou menos dos recenseados.
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