EDITORIAL
Até parece que tem sido tudo bom para a maioria. Mas não tem.
Depois das más notícias da passada quarta-feira, o Governo respirou fundo nesta sexta-feira com os dados sobre o desempenho orçamental divulgados pelo Ministério das Finanças. Tudo conseguido à custa de um crescimento significativo da receita do Estado, especialmente do IVA. Não há dúvida, os portugueses estão a consumir mais, e estes números só vêm confirmar aquilo que as Contas Nacionais Trimestrais divulgadas esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística tornaram evidente: a poupança das famílias caiu para um nível historicamente baixo.
Contrariando todo o sentido das suas políticas económicas, baseadas no aumento das exportações e na contracção da procura interna, não será de estranhar que o Governo venha agora capitalizar a seu favor o crescimento do consumo, enquanto dado revelador do índice de confiança das famílias. Para trás vão ficar todas as palavras abjurando os malefícios da economia dinamizada a partir do consumo e todo o rol de pragas que se abateriam sobre os portugueses, caso fosse seguido tal caminho. As eleições justificam que o Governo tenha sido subitamente assaltado por uma amnésia bastante conveniente e não será certamente a oposição a avivar-lhe a memória e a apontar-lhe as contradições.
Esta tem sido, de resto, a história desta campanha: a capacidade da coligação de fazer reverter a seu favor, mesmo os seus momentos de maior fragilidade. Veja-se o que aconteceu com a divulgação dos dados sobre o défice ou quando Passos Coelho trocou um reembolso de obrigações do tesouro por um pagamento antecipado ao FMI. Enquanto do lado da maioria o discurso era um só, no PS a cacofonia foi total. E a troca do primeiro-ministro foi transformada num “lapsismo” inconsequente. Enquanto isso, o Governo continua a comprometer-se com um número mágico do défice que nenhuma instituição prevê. E que não pode ser comprovado antes das eleições. As boas notícias para uns serão maus augúrios para outros?
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