MARIA JOÃO GUIMARÃES
17/06/2015 - 16:06
Governador do Banco Central de Atenas avisa que sem um acordo o país enfrenta uma “crise incontrolável”, com a saída do Euro e provavelmente também da União Europeia.Tsipras não está disposto a ceder a uma " fixação incompreensível" PAUL HANNA/REUTERS
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, continua a mostrar-se inflexível, dizendo que a resposta do seu governo a um mau acordo para a Grécia será “um rotundo não”. Por outro lado, não fechando a porta à negociação, diz que se houver um “compromisso honrado” não irá levá-lo a referendo ou convocar eleições, mas assegurar-se de que é aprovado no Parlamento.
“Se a Europa insistir nesta fixação incompreensível, se os dirigentes insistirem, é preciso aceitar o preço das consequências que não beneficiarão ninguém na Europa”, disse Tsipras referindo-se à exigência de cortes nas reformas, ao lado do chanceler austríaco, Werner Faymann, em Atenas. Faymann deu um apoio inesperado a Tsipras com esta viagem em que declarou estar em desacordo com algumas medidas propostas à Grécia pelos credores, defendendo que as medidas a aplicar não deviam “fazer aumentar o desemprego e a pobreza”.
Isto enquanto as negociações entre a Grécia e os credores se aproximam de todos os prazos finais, e quando responsáveis já avisaram para uma possibilidade de não haver um acordo no encontro entre os ministros das Finanças dos países da zona euro de quinta-feira, que era visto como a última hipótese de uma aproximação de posições. Segue-se novo momento-chave numa cimeira europeia – a reunião de líderes já prevista, de dia 25 de Junho, ou uma cimeira extraordinária a ser marcada entretanto.
As declarações de vários responsáveis fazem adivinhar um maior temor de que não haja acordo. O que acontecerá, segundo o aviso do governador do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras, será o "incumprimento do pagamento por parte da Grécia, saída do país da zona euro e, muito provavelmente, saída da União Europeia”.
Stournaras deixou o alerta esta quarta-feira no seu relatório ao Parlamento grego sobre a situação do país, referindo ainda a quantia que já foi retirada dos bancos gregos – cerca de 30 mil milhões de euros entre Outubro e Abril.
O responsável do Banco Central grego disse que, por outro lado, se houver um acordo isso irá “afastar os riscos imediatos para a economia, reduzir a incerteza, e assegurar uma perspectiva de crescimento sustentado”. Falando também para fora, pediu aos credores que honrassem uma promessa de alívio da dívida feita na negociação do segundo empréstimo ao país em 2012.
Reino Unido faz plano de contingência
Com o cenário de incumprimento a ser cada vez mais mencionado, o Governo britânico anunciou, na manhã desta quarta-feira, que está a fazer planos de contingência para “os graves riscos económicos” de uma saída da Grécia do euro.
Em Portugal, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, garantiu que o país está preparado para esta eventualidade: “se alguma coisa de mais grave acontecer com a Grécia, Portugal não cai a seguir”.
A preocupação estende-se ao outro lado do Atlântico: o secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, telefonou a Tsipras pedindo-lhe posições pragmáticas que conduzam a um acordo. Os EUA têm feito pedidos repetidos à Grécia e à Europa para evitar o que vêem como uma possibilidade de grande desestabilização da economia mundial justamente quando esta recupera da crise que começou em 2008.
Na Europa, a retórica tem endurecido com a aproximação de prazos reais de pagamentos que a Grécia pode não conseguir fazer – a 30 de Junho tem de pagar cerca de 1,5 mil milhões de euros ao FMI e é também nessa data que expira o actual acordo – o país perderia então a hipótese de receber os 7,2 mil milhões de euros, a última tranche do empréstimo da troika que continua dependente das actuais negociações (o último dinheiro que a Grécia recebeu foi em Agosto do ano passado).
Na Alemanha o clima de “falta de paciência” com a Grécia estende-se aos dois principais partidos do centro – os sociais-democratas têm feito declarações destas nos últimos dias, desde Sigmar Gabriel, o vice-chanceler, até ao líder dos sociais-democratas no Parlamento Europeu, Martin Schulz (que num debate deixou escapar: “os gregos, especialmente Varoufakis, enervam-me”). Já Andreas Scheuer, secretário-geral da CSU (o partido-gémeo da CDU na Baviera), disse numa entrevista ao jornal Rheinische Post que os gregos “estão a portar-se como palhaços que se sentam na última fila da sala de aula, apesar dos avisos de todos os lados de que vão chumbar.”
Um irritado presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou o governo grego de não apresentar claramente as propostas que lhe são feitas e de mentir ao público grego.
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17/06/2015 - 16:06
Governador do Banco Central de Atenas avisa que sem um acordo o país enfrenta uma “crise incontrolável”, com a saída do Euro e provavelmente também da União Europeia.Tsipras não está disposto a ceder a uma " fixação incompreensível" PAUL HANNA/REUTERS
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, continua a mostrar-se inflexível, dizendo que a resposta do seu governo a um mau acordo para a Grécia será “um rotundo não”. Por outro lado, não fechando a porta à negociação, diz que se houver um “compromisso honrado” não irá levá-lo a referendo ou convocar eleições, mas assegurar-se de que é aprovado no Parlamento.
“Se a Europa insistir nesta fixação incompreensível, se os dirigentes insistirem, é preciso aceitar o preço das consequências que não beneficiarão ninguém na Europa”, disse Tsipras referindo-se à exigência de cortes nas reformas, ao lado do chanceler austríaco, Werner Faymann, em Atenas. Faymann deu um apoio inesperado a Tsipras com esta viagem em que declarou estar em desacordo com algumas medidas propostas à Grécia pelos credores, defendendo que as medidas a aplicar não deviam “fazer aumentar o desemprego e a pobreza”.
Isto enquanto as negociações entre a Grécia e os credores se aproximam de todos os prazos finais, e quando responsáveis já avisaram para uma possibilidade de não haver um acordo no encontro entre os ministros das Finanças dos países da zona euro de quinta-feira, que era visto como a última hipótese de uma aproximação de posições. Segue-se novo momento-chave numa cimeira europeia – a reunião de líderes já prevista, de dia 25 de Junho, ou uma cimeira extraordinária a ser marcada entretanto.
As declarações de vários responsáveis fazem adivinhar um maior temor de que não haja acordo. O que acontecerá, segundo o aviso do governador do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras, será o "incumprimento do pagamento por parte da Grécia, saída do país da zona euro e, muito provavelmente, saída da União Europeia”.
Stournaras deixou o alerta esta quarta-feira no seu relatório ao Parlamento grego sobre a situação do país, referindo ainda a quantia que já foi retirada dos bancos gregos – cerca de 30 mil milhões de euros entre Outubro e Abril.
O responsável do Banco Central grego disse que, por outro lado, se houver um acordo isso irá “afastar os riscos imediatos para a economia, reduzir a incerteza, e assegurar uma perspectiva de crescimento sustentado”. Falando também para fora, pediu aos credores que honrassem uma promessa de alívio da dívida feita na negociação do segundo empréstimo ao país em 2012.
Reino Unido faz plano de contingência
Com o cenário de incumprimento a ser cada vez mais mencionado, o Governo britânico anunciou, na manhã desta quarta-feira, que está a fazer planos de contingência para “os graves riscos económicos” de uma saída da Grécia do euro.
Em Portugal, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, garantiu que o país está preparado para esta eventualidade: “se alguma coisa de mais grave acontecer com a Grécia, Portugal não cai a seguir”.
A preocupação estende-se ao outro lado do Atlântico: o secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, telefonou a Tsipras pedindo-lhe posições pragmáticas que conduzam a um acordo. Os EUA têm feito pedidos repetidos à Grécia e à Europa para evitar o que vêem como uma possibilidade de grande desestabilização da economia mundial justamente quando esta recupera da crise que começou em 2008.
Na Europa, a retórica tem endurecido com a aproximação de prazos reais de pagamentos que a Grécia pode não conseguir fazer – a 30 de Junho tem de pagar cerca de 1,5 mil milhões de euros ao FMI e é também nessa data que expira o actual acordo – o país perderia então a hipótese de receber os 7,2 mil milhões de euros, a última tranche do empréstimo da troika que continua dependente das actuais negociações (o último dinheiro que a Grécia recebeu foi em Agosto do ano passado).
Na Alemanha o clima de “falta de paciência” com a Grécia estende-se aos dois principais partidos do centro – os sociais-democratas têm feito declarações destas nos últimos dias, desde Sigmar Gabriel, o vice-chanceler, até ao líder dos sociais-democratas no Parlamento Europeu, Martin Schulz (que num debate deixou escapar: “os gregos, especialmente Varoufakis, enervam-me”). Já Andreas Scheuer, secretário-geral da CSU (o partido-gémeo da CDU na Baviera), disse numa entrevista ao jornal Rheinische Post que os gregos “estão a portar-se como palhaços que se sentam na última fila da sala de aula, apesar dos avisos de todos os lados de que vão chumbar.”
Um irritado presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, acusou o governo grego de não apresentar claramente as propostas que lhe são feitas e de mentir ao público grego.
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