25-06-2015
O Procurador-geral da República de Angola confirmou, quarta-feira, a detenção pelas forças de segurança de 15 jovens angolanos que estariam alegadamente a preparar uma insurreição para derrubar o Governo do Presidente José Eduardo dos Santos.
Segundo o Procurador, general João Maria de Sousa, a sua instituição deu "luz verde" a uma operação policial para a detenção dos 15 jovens na sequência de uma denúncia de que os mesmos estavam reunidos para preparar "a destituição do Governo constituído (...)".
"Estavam a preparar-se para uma acção de insurreição e desobediência colectiva que visava a deposição do Governo e a destituição do Presidente da República", indicou o magistrado em declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA, estatal).
João Maria de Sousa disse que esses actos "constituem crimes contra a segurança do Estado, mais propriamente o crime de rebelião", pelo que os órgãos competentes do Estado "têm que tomar as medidas necessárias para evitar o pior”.
Sousa não avançou a identidade dos detidos, mas precisou que as primeiras detenções ocorreram a 20 deste mês, no bairro da Vila Alice, na capital angolana, Luanda, envolvendo 13 pessoas, e as duas restantes separadamente a 21 e 23 do mesmo mês.
Nestes últimos casos, disse, um deles foi detido quando pretendia atravessar a fronteira da Santa Clara, na província meridional do Cunene, em direcção à vizinha Namíbia, enquanto o outro é um oficial da Força Aérea Nacional.
João Maria de Sousa disse ainda que as primeiras 13 detenções "ocorreram em flagrante delito e foram observados todos os preceitos legais para a detenção destes jovens".
Algumas informações veiculadas na imprensa local antes desta reacção do procurador indicavam que os jovens foram detidos na residência de um deles, a 20 de Junho, "durante um encontro de reflexão pacífica sobre a situação dos direitos humanos e a governação".
Também admitia-se a possibilidade de haver mais pessoas detidas, argumentando-se que alguns jovens também presentes na reunião em causa não voltaram a ser vistos desde sábado. (RM Panapress)
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"Um civil desarmado vai fazer um golpe de Estado?"
A questão é colocada pela mãe de Nito Alves, um dos ativistas detidos desde sábado em Angola. Um grupo de cidadãos pede a libertação imediata dos ativistas. Caso contrário, planeia-se a realização de um protesto.
Ativista angolano Nito Alves (foto de arquivo)
O Governo do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, poderá enfrentar uma manifestação em grande escala se as autoridades não libertarem imediatamente os ativistas detidos no sábado (20.06) por alegado incitamento à rebelião - o aviso é de Emílio Catumbela, um dos ativistas do Movimento Revolucionário que escapou à detenção.
"Vamos mandar uma carta à Procuradoria-Geral da República para a libertação imediata [dos ativistas]. Se eles não os libertarem, vamos utilizar o artigo 47 da Constituição da República de Angola", diz Catumbela. Nesse artigo, garante-se a todos os cidadãos a liberdade de reunião e de manifestação pacífica, sem necessidade de qualquer autorização, bastando apenas informar as autoridades.
Nito Alves, Luaty Beirão e Domingos da Cruz interrogados
Na tarde desta terça-feira (23.06), três dos cerca de vinte ativistas detidos na capital angolana começaram a ser interrogados por um procurador afeto ao Serviço de Investigação Criminal (SIC). Foram ouvidos Nito Alves, Luaty Beirão e o jornalista Domingos da Cruz, autor do livro ''Ferramentas Para Destruir o Ditador e Evitar uma Nova Ditadura''.
"Um civil desarmado vai fazer um golpe de Estado?"
Enquanto decorria o interrogatório, vários ativistas e familiares dos jovens detidos concentraram-se frente às instalações do SIC perante a vigilância de dezenas de agentes da Polícia de Intervenção Rápida e dos serviços secretos.
Entre os presentes esteve a mãe de Nito Alves, Adália Chivonde, que acusou o Presidente José Eduardo dos Santos de orquestrar manobras políticas para incriminar os ativistas e instalar o medo no seio da população.
"Um civil, sem arma, vai fazer um golpe de Estado?", questionou.
Adália Chivonde denunciou que ainda não esteve com o seu filho desde que ele foi detido.
"O meu filho entrou no sábado e, até hoje, não o vi. Esta terça-feira, passámos lá todo o dia e não o vimos. Enquanto isso, estávamos a ser controlados, com carros atrás de nós, como se fôssemos gatunos."
Ativista Mbanza Hamza
"Quem não deve, não teme"
A mãe do ativista Mbanza Hanza também se mostrou revoltada com a situação.
"Quem não deve, não teme. Se é um Presidente, vai ter medo de uma criança que está a estudar simplesmente um livro?", perguntou Leonor João.
"[Os agentes] foram a minha casa, levaram os meus computadores e os meus telefones. Levaram tudo, até subiram ao telhado. Não há armas em minha casa. Nem o Mbanza, nem eu temos armas. Um golpe de Estado começa com generais. O Mbanza e o Nito nunca foram militares. Meus Deus, eles são estudantes, são crianças."
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Data 24.06.2015
Autoria Nelson Sul D'Angola (Benguela)
Palavras-chave Angola, Luanda, ativistas, detenções, Nito Alves, Mbanza Hanza
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