OPINIÃO
Voltou esta semana a velha discussão sobre o assassinato de D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe.
Por causa de uma gaffe de José Alberto de Carvalho, da inauguração de um museu e de uma conta mal feita (o regicídio não foi há 105 anos), voltou esta semana a velha discussão sobre o assassinato de D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe. Para começar, convém dizer que o rei foi o principal responsável pelo ambiente de histerismo e de revolta que levou à violência. De resto, com óptimos propósitos. O “rotativismo” (o que modernamente se chama “alternância”) estava esgotado; e D. Carlos, influenciado pela generalidade da opinião pública, resolveu reformar o sistema partidário. Como? Deixando o Partido Regenerador (a direita) intacto e promovendo a fusão entre o Partido Progressista (que tinha uma velha história de esquerda) com o Partido Regenerador Liberal de João Franco, que se proclamava moderno, legalista e democratizante.
O Partido Progressista, na pessoa do seu chefe, José Luciano de Castro, aceitou ao princípio uma aliança parlamentar. Mas depressa se verificaram duas coisas. Primeiro, o rei não podia “deixar cair” João Franco, que era a sua criatura e representava a “renovação” do regime. Segunda, e como corolário, o Partido Progressista devia a prazo desaparecer: e o Partido Regenerador seria submetido por força a uma longa cura de oposição. Ou seja, a maior parte do pessoal dirigente da Monarquia Liberal, e não só o Partido Republicano (PRP), tinha de se afastar definitivamente da política. Isto provocou, como se calculará, uma conspiração contra a Coroa da ala revolucionária do Partido Progressista (a Dissidência Progressista) e a facção terrorista do Partido Republicano.
Os monárquicos compraram armas. Buíça e Costa forneceram o pessoal. Só que, antes disso, os “notáveis” do PRP quiseram antecipar um atentado com um golpe de Estado, mais cordato e bem dentro das tradições do Portugal Representativo. Foram presos logo no princípio da aventura e condenados por decreto ao desterro para as colónias – decreto que o rei assinou ainda em Vila Viçosa. Quando chegou a Lisboa, com a cidade no cume da excitação, Buíça e Costa esperavam por ele. Consumado o acto, os chefes da conjura foram imediatamente postos na rua. A classe média católica e monárquica nem arranjou coragem para ir ao enterro, enquanto o “bom povo de Lisboa” peregrinava aos túmulos (em campa rasa) de Buíça e Costa. Mas já não havia dúvida: o país não resistiria a uma insurreição republicana.
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