sábado, 2 de maio de 2015

Proposta para Jorge Ferrão

 

EDITORIAIS
TIPOGRAFIA
Informar-se, como tudo na vida, aprende-se!

Má informação, indigestão ao self-service de informação impressa, electrónica, vaga de rumores e ou fofocas, especulações, gangrena complotistas...
Informar-se bem ou como deve ser torna-se, como diria o outro, um imperativo nacional!
Informar-se bem, ou como deve ser, torna-se numa questão de saúde pública!
Nesta quarta república, esta evidência impõe-se!
Precisa-se de educação aos media e a informação, por favor, centros do saber!
Este é tempo de se reflectir de outro modo a informação e a educação. É aqui que entra Jorge Ferrão.
O desafio é crucial, Sr. ministro. Saber informar-se, e poder fazer escolhas, exercer o seu espírito crítico e participar na vida cidadã.
Para a qualidade do "viver em conjunto", informar-se bem torna-se tão importante como o comer bem!
Devemos começar, agora, a assegurar um bom crescimento intelectual e informativo aos mais vulneráveis de entre nós, as crianças, para permitir que se realizem plenamente sob o plano social e pessoal.
Para permitir que encontrem o seu lugar, nesta sociedade que se reinventa debaixo dos nossos narizes.
Qual é a enfermidade mais traiçoeira que ameaça a nossa sociedade?
1. Não saber colocar questões.
2. Não poder recuar no tempo, tomar a distância.
3. Não saber colocar-se no lugar do outro.
4. Ter humor.
5. Confrontar-se aos argumentos.
Eis o terreno gerador de rompimentos, de paralisia, de percursos de vida medíocres e parados, de renúncias que desencadearão o fechar-se em copas, frustração, violência e vinganças.
Vamos ultrapassar este estado de coisas em deslocação com o mundo em que a informação cai diária e semanalmente a todos.
Vamos ao fundo da questão: como aprender a informar-se?
Como construir uma verdadeira prática da informação, e isso, desde a pré-primária?
Porque as crianças não esperam a secundária ou a universidade para empanturrar-se com o youtube e as redes sociais, suas fontes de informações mais preferidas.
Sejamos porém claros: pedimos demais ao Ministério da Educação, aos professores, mas, não podemos encarregá-los de todas as missões, umas mais pesadas do que outras, sem partilhar com eles as competências que se tornaram caras para todos.
Nós outros, os jornalistas, temos instrumentos, as técnicas que constituem a base da nossa profissão.
Partilhemo-las com os professores. Jornalistas e professores vamos mutualizar as nossas forças!
A proposta para o ministro Ferrão é a seguinte: formemos os futuros professores a prática da informação. Por exemplo, sob a forma de um módulo" técnicas de base do jornalismo" nas Escolas Superiores de Formação de Professores, para futuros professores das escolas primárias.
O objectivo: transmitir a caixinha de instrumentos de colecta da informação.
A começar pelas questões, aquelas 5, aliás 6: Quem? O quê? Onde? Quando? Porquê? Como? e Quanto, também?
Estas técnicas consistem igualmente a conduzir uma entrevista, classificar as fontes, verificar as informações.
Este módulo criado com a prática e o trabalho de equipa, como numa redacção, poderia ser assegurado por jornalistas já professores ou formadores reconhecidos.
Nessa ordem de ideias, os futuros professores das escolas dominariam esta caixinha de instrumentos e poderiam formar centenas de alunos que eles teriam ao longo das suas carreiras.
Assim, haveria, enfim, um valor acrescentado para o professor. Quanto às crianças, elas familiarizar-se-iam com os instrumentos de pesquisa, que lhes serviriam para toda a sua escolaridade e até mais: para as suas vidas. E estas crianças estarão já preparadas na fabricação e ou construção de um média de qualidade em cada escola, liceu, universidade.
É que antes dos dez anos, é a idade ideal em que a curiosidade da criança só pede para ser estimulada e estruturada.
Antes de levarmos as crianças a "sarfarem" nestas maravilhas tecnológicas, ensinemos-lhas a saber olhar à volta delas, a questionar o mundo que as rodeia e através da entrevista.
É preciso saber conduzir ou sofrer este exercício para compreender o quanto é complicado recolher respostas satisfatórias, quanto é irritante descobrir as suas palavras adulteradas, deformadas. O quanto a linguagem não verbal é importante que se pode apenas descodificar frente a frente.
O rigor, a clareza, e o justo pedem uma atenção a cada instante.
Não há nada melhor para informar-se bem, do que formular ou colocar questões.
O verdadeiro desafio, nesse caso, na informação é: como fazer com que as crianças gostem de informar-se?
Como fazer para que a informação se torne um elemento natural da sua vida na sociedade?
Não se trata aqui de virarmos todos jornalistas, nada disso. Ninguém é tão ingénuo ao ponto de acreditar que todos os moçambicanos que “viram” doutores serão ministros, nem que todos os que aprendem a cozinhar serão cozinheiros, quero dizer chefes.
Há uma lição a reter dos apaixonados sejam eles de cozinha, da escrita. Sem prazer não há bons resultados, mesmo quando dói! O gosto de fazer é determinante.
Vamos então fazer trabalhar as crianças sobre o que a elas diz directamente  respeito. No espírito da lição das coisas, versão jornalística. Levemos as crianças a interessarem-se pelos seus temas favoritos: as suas sapatilhas, óculos de sol, comida, os actores da sua vida real, a história dos seus pais  e das suas famílias. Levemos as crianças a compreenderem por si mesmas o preço das coisas e o valor dos percursos humanos que as cercam.
E isso pode-se fazer em ateliers práticos, em workshops, nas turmas que conduzirão a construção de um media  sob a orientação de um professor conhecedor  das técnicas de base jornalísticas. 
Irene Macuiu

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