Luanda - Em Angola os “teóricos da conspiração” são no mínimo pouco criativos, pelo que já é com algum tédio que vamos tomando contacto com as diferentes “teses” que entre nós têm surgido com esta chancela, sempre que a atribulada trajectória do país crie a mínima oportunidade para tal.
Fonte: Rede Angola
E a mínima aqui é mesmo isso.
Pode ser qualquer coisa, por mais insignificante que seja, desde que permita o aproveitamento político, com o propósito evidente de ganhar alguma vantagem sobre o adversário, mesmo que seja apenas por algumas horas.
Temos assim a “teoria da conspiração” em Angola a andar pelas ruas da amargura, o que só vem agravar o seu já de si muito baixo potencial em matéria de credibilidade, tendo em conta a história da sua existência.
Como se sabe, mesmo as mais famosas peças desta “arte”, por mais elaboradas que sejam, raramente têm conseguido convencer as pessoas. De uma forma geral todas elas têm sido atiradas para o caixote dos papéis velhos, onde se encontra o tal lixo da história.
Sempre têm, contudo, alguma utilidade como material de consulta para as mais diferentes pesquisas em torno da criatividade humana, considerando o nível da sofisticação de algumas delas.
Nesta “teoria” há sempre o chamado “gato escondido com o rabo de fora”, a tramar qualquer coisa no escuro, sobretudo quando acontecem as grandes tragédias, como foi o caso do ataque de Bin Laden a Nova-Yorque em 2001.
No super-mediático caso do 11 de Setembro, os “teóricos de serviço” chegaram a conclusão que tudo aquilo não tinha passado de uma encenação, pois quem tudo organizou na sombra foi o próprio Governo dos Estados Unidos para arranjar um forte pretexto que justificasse o ataque e a invasão do Iraque e do Afeganistão.
Em Angola, surgiu nos últimos dias uma oportunidade extraordinária para termos de volta e em força a “teoria da conspiração”, com a tragédia ocorrida a semana passada nos arredores da Vila da Caála, província do Huambo.
Para além dos policias mortos, ainda está por se apurar o número exacto das restantes vítimas, num ambiente de intensa mas justificada especulação, pois como se sabe a natureza tem horror ao vazio.
Antes mesmo de sabermos o que se tinha passado e como se tinha passado, de imediato começamos a ouvir falar em “forças estranhas e caóticas” e em “mãos negras” como estando por trás dos sangrentos acontecimentos que trouxeram para a ribalta a figura franzina de um cidadão com um nome extremamente musical que vai, certamente, ficar na história deste país.
Um lugar que neste momento ainda não é fácil de definir em todos os seus contornos e parâmetros mais definitivos, se estivermos preocupados em identificar os lados certos/errados da história, como prateleiras estanques na dinâmica de uma sociedade.
José Kalupeteka já tem o seu lugar garantido na história angolana por ter sido no período do pós-guerra, 13 anos depois das armas se terem calado e num dia 13, o protagonista do primeiro grande enfrentamento entre um movimento religioso e as autoridades policiais.
O abundante sangue derramado colocou as primeiras dúvidas mais sérias em relação à consistência do processo de paz e reconciliação nacional, numa vertente que estava longe de ser tida ou achada entre os perigos mais imediatos que espreitam o presente e o futuro dos angolanos.
As redes sociais serviram (e continuam a servir) de palco para este acalorado desfile da “teoria da conspiração” com a apresentação de “provas” e “contra-provas” sobre o alegado envolvimento do tal “gato escondido com o rabo de fora” que estaria a manipular os fiéis com propósitos inconfessos, mas sempre apontados para a desestabilização política do país.
Felizmente, e certamente já com um maior domínio da situação em termos do que realmente se passou, surgiu a “voz do Chefe” para acalmar as hostes e deitar a recomendável água fria na fervura de um confronto ainda virtual, mas que já estava a ultrapassar alguns limites, com todas as consequências para a própria coabitação pacífica.
No meu Facebook registei esta entrada como uma lufada de ar fresco.
A oportuna mensagem do Presidente da República à Nação teve exactamente este condão, retirando da agenda político-mediática qualquer base mais sólida de sustentação, para se continuar a alimentar a “teoria da conspiração”.
No meio de tanto ruído de fundo, o Presidente da Republica soube estar acima do fogo cruzado, mesmo depois do seu MPLA ter falado em forças estranhas.
Com o dedo firme apontado apenas a uma pessoa, JES passou olímpicamente ao lado de todas as acusações e contra-acusações, suspeitas e suspeições, no âmbito da propagação do “vírus da partidarização” que tanto mal continua a fazer a este país, prometendo vir a fazer ainda mais, se lhe deixarem, é claro.
Em abono da verdade, em Angola a “teoria da conspiração” acaba por ser uma grande companheira do referido vírus que tem efectivamente uma dimensão nacional.
Para já o único “conspirador” que vai continuar de pé e a dar que falar é mesmo o próprio Kalupeteka, embora a sua última e deplorável imagem não seja a mais encorajadora para os seus fiéis.
A sua doutrina que não constitui qualquer novidade, faz parte das várias “teorias da conspiração” de índole apocalíptica, com a agravante de ser uma daquelas que tem dimensão global, isto é, que atenta contra o próprio planeta, com o anúncio para o último dia deste ano do “fim do mundo”.
Sem comentários:
Enviar um comentário
MTQ