Uso a entrevista abaixo para uma reflexão sobre o nível de compromisso e responsabilidade com a tal mudança na continuidade que constituiu a base da campanha do novo ciclo de governação.
Começo por perguntar onde estavam os críticos de Guebuza durante o seu mandato e se o presidente Nyusi começar a errar, terão a mesma verticalidade de criticá-lo, como fazem agora com o ex-presidente Guebuza, de preferência ainda no seu mandato? Ou a tal crítica existia apenas "nos canais próprios onde devem ser expressas as opiniões dos militantes?" Esse tipo de crítica me preocupa, não só pela sua (relativa) extemporaneidade, mas porque me leva a questionar até onde é que o interesse nacional se sobrepuja aos estreitos interesses, lealdades e conveniências partidárias e de outra índole. Pessoas que em grande medida são do regime - sendo ou não do círculo restrito do governo do dia - não podem se distanciar do que houve no governo do seu partido da noite para o dia. Com honrosas excepções, das quais destaco de Jorge Rebelo, grande parte dos críticos de ocasião que agora tendem a pipocar e se desfazer em críticas inflamadas só deveriam falar nestes termos (com tal nível de desresponsabilização) por duas razões: porque têm o direito de expressão que a constituição consagra, e porque todos temos o dever de respeitar e lutar por esse direito (mesmo quando não concordamos com as suas ideias), relevando que eles não tenham tido o mesmo compromisso com a sociedade quando o mesmo é cerceado por pessoas do seu partido e do regime que apoiam. Tirando isso, não me parece que esse discurso seja sério, a não ser que seja acompanhado também de acções de responsabilização. Até porque algumas das mazelas dessa governação - se é que foi tão danosa assim como a descreve, não sei com base em que elementos (a bem da objectividade, seria importante explicá-lo para não ser demagogia de ocasião) - ainda se fazem sentir. A questão é se terão a coragem de dar um passo à frente, ou apenas ficarão na pose para ficar bem na foto da posteridade.
Essa elite a mim não impressiona e nem inspira confiança e já o disse antes (vide aquihttp://www.oplop.uff.br/coluna/josemacuane/2419/guebuza-hoye). Por isso, não penso que seja linear que a substituição do presidente Guebuza da direcção da Frelimo seja necessariamente um sinal de compromisso com mudanças profundas na governação do país, o que implicaria levar mais a sério questões como a inclusão, a despartidarização do Estado e a credibilização das instituições estatais, começando de forma imperiosa pelas instituições eleitorais e a descentralização, deixando de diabolizá-la na forma de divisão do país, como tem sido o discurso do dia). Até aqui, ainda não há sinais claros do sentido dessa mudança, fica apenas a impressão de que pode ter sido uma forma de realinhamento de interesses internos dentro do partido Frelimo; uma luta interna de elites que governam este país. Críticas como estas, que fazem tábua rasa do contexto e da história política recente deste país e criam um distanciamento inverosímil em relação ao que houve nos últimos dez anos, não podem por si só sinalizar a existência de um compromisso com as mudanças políticas profundas que o país precisa para sair da crise de legitimidade das instituições políticas que actualmente enfrenta. Creio que a mudança nestes termos requer um outro nível de crítica e comprometimento político com o país, que passa pela assunção das responsabilidades que todos temos no processo histórico e politico deste país. E eu não vejo isso neste tipo de crítica e postura pública.
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