Felício Zacarias, quem não o conhece o «Velho Leão»?
«O Governo abdicou da sua função de prover bens e serviços para a população e limitou-se a obedecer o seu líder, e o resultado disto é que houve recrudescimento da insatisfação popular porque as promessas prometidas não eram implementadas, com enfoque para os sectores dos transportes, água, infra-estruturas, alimentar, educação e saúde, que não registaram melhorias.»
«Nyusi está a renovar o partido com vista a fazer dele mais dialogante e desta forma criar alicerces para o fortalecimento da democracia.»
«[…]é preciso que haja uma renovação ideológica para eliminar o medo que ainda persiste em alguns membros.»
«Volvidos mais de 100 dias de governação, há sinais de melhorias e funcionalidade das instituições políticas e públicas, porque há uma cedência e acomodação de algumas exigências da oposição e da sociedade civil, o que anteriormente era impensável.»
«Na altura que havia liberdade de expressão, poder e autonomia, os governantes tomavam decisões e não esperavam pela ordem central para elaborar, implementar e ou buscar parcerias para colmatar o défice financeiro para a materialização de qualquer projecto de desenvolvimento no nosso território.»
Dediquei um tempinho à estas passagens dos ditos do FZ ao "Debate". Esta mesma entrevista já foi objecto de outros comentários ou "análises". Eu não vou analisar. Vou comentar, com o foco nas passagens aqui citadas.
O FZ foi Governador na administração de Joaquim Chissano e Ministro na administração de Armando Guebuza. Quando ele diz «[N]a altura que havia liberdade de expressão, poder e autonomia, os governantes tomavam decisões…», a que altura se refere? Quando é que na Frelimo não houve «liberdade de expressão»? Na Frelimo, o FZ nunca foi coibido por ninguém a exprimir o seu pensamento. Ele está claramente a mentir, como todos os outros que se expressam no mesmo diapasão! A percepção de que Armando Guebuza coarctou a liberdade de expressão dos seus camaradas não passa disso: percepção. Realidade nunca foi. Aliás, como poderiam essas pessoas falarem da "falta de liberdade de expressão" se não houvesse liberdade para falarem? O que não verdade ocorreu foi que Guebuza não acomodou os seus críticos internos do jeito que eles desejavam serem acomodados. Deixar-os falar, ele (Guebuza) sempre deixou; e acatou, quando considerou útil o que diziam.
«[…]houve recrudescimento da insatisfação popular porque as promessas prometidas não eram implementadas, com enfoque para os sectores dos transportes, água, infra-estruturas, alimentar, educação e saúde, que não registaram melhorias.» Aqui, o FZ está a denunciar-se a si próprio como alguém que conspirou silenciosamente contra Armando Guebuza. Com efeito, na altura a que ele se refere nesta passagem, ele era Ministro de Obras Públicas e Habitação, que era a entidade do Governo responsável pela formulação, implementação e direcção das políticas de habitação, infra-estruturas e abastecimento da água. Como Ministro do pelouro, ele era não apenas gestor, mas antes de mais um conselheiro do Presidente da República em assuntos ligados à habitação, infra-estruturas e abastecimento da água. Ele (FZ) não desempenhou este papel e agora aparece em público a justificar o seu próprio fracasso. Os fracassos não para serem justificados, mas sim reconhecidos e assumidos com responsabilidade. Quando o FZ se distancia dos fracassos registados no tempo quando ele era governante, atirando covardemente culpas dos erros cometidos aos outros, ele está denunciar o seu alto grau de desonestidade. Ajudou a estragar, deixando estragar. Quedou-se simplesmente pelo aproveitamento das facilidades que os cargos que ocupou lhe proporcionaram—de modo que hoje ele é "empresário"*—e mandou passear todo o mundo, incluindo aqueles que lhe convidaram para fazer parte das suas equipas governamentai, nomeadamente Joaquim Chissano e Armando Guebuza.
É muito arrepiante saber que uma pessoa que alguma vez confiamos pode virar tão covarde e ingrato assim! E o Guebuza aprendeu a lição, e a passou ao Filipe Nyusi, mesmo publicamente, quando na decurso da IV Sessão Ordinária do Comité Central da Frelimo disse:
«[…]quando nos elogiam, é porque querem que continuemos a errar.»
«Nyusi está a renovar o partido com vista a fazer dele mais dialogante e desta forma criar alicerces para o fortalecimento da democracia… é preciso que haja uma renovação ideológica para eliminar o medo que ainda persiste em alguns membros… Volvidos mais de 100 dias de governação, há sinais de melhorias e funcionalidade das instituições políticas e públicas, porque há uma cedência e acomodação de algumas exigências da oposição e da sociedade civil, o que anteriormente era impensável». Isto denuncia que o FZ quer fazer uma nova vítima emFilipe Nyusi. Trata-se de uma atitude de busca de aproximação com o actual líder da Frelimo, para repetir com este o ciclo de traições que FZ perpetrou contra os anteriores líderes. Gente como este "camarada" não merece confiança de ninguém. É só deixar falar e olhar, no respeito pelos seus direitos constitucionais. Levar a sério um indivíduo como FZ é equivalente a suicidar-se!
Na Frelimo, feliz ou infelizmente, há outras pessoas como FZ (e.g. Sérgio Vieira, Jorge Rebelo—este considerado por alguns de nós como «reserva moral da Frelimo»—Óscar Monteiro, Teodato Hunguana, entre outros). Se o Filipe Nyusi cometer a asneiras de confiar nestas e outras pessoas assim para a dita «renovação ideológica» da Frelimo, aposto que não terá sorte diferente dos seus antecessores, a saber: Samora Machel era teimoso e até «morreu por causa da sua teimosia»; Joaquim Chissano «deixou andar» e foi afastado da liderança da Frelimo por causa disso; Armando Guebuza «não deixou falar, reprimiu e isolou» militantes proeminentes e foi obrigado a renunciar por causa disso. Não é exercício difícil adivinhar o que Filipe Nyusi ser, principalmente se não «acomodar» estas pessoas e as suas ideias sempre melhores e actuais para todas as situações.
Mas atenção: a crítica que estas pessoas fazem não deixa de ter mérito por vir delas; uma coisa é a opinião das pessoas, outra coisa são as próprias pessoas. Num debate de ideias que se quer profícuo, é preciso separar as pessoas das suas ideias e avaliar a validade dessas ideias com o cuidado necessário para avaliação não fique contaminada pelo sentimento que se tem sobre as pessoas. Por isso eu tenho dito: há sempre sempre boas coisas escondidas entre as coisas que detestamos.
---
Ps: "empresário"* = na realidade FZ não é um verdadeiro empresário. Ele tem participações em empresas de capitais estrangeiros que operam em Moçambique, na área de mineração de carvão, bauxite e gemas (pedras preciosas). Neste tipo de empresas, os moçambicanos não passam de mero facilitadores da pilhagem dos nossos recursos por empresas estrangeira. Pouco ou nada entendem os nossos compatriotas sobre as operações reais das empresas de que são "accionistas", de modo que se quedam por satisfeitos com as migalhas que são passadas no acto da "distribuição" de lucros. É um cenário triste, este! Ainda temos muito caminho para andar até sabermos tomar bem conta dos negócios chorudos que se f azem com custa dos nossos recursos. Até lá, o país pouco ou nada ganhará com exploração dos nossos recursos naturais por outrem. Sermos accionistas em empresas de capitais estrangeiros que operam no nosso país não é garantia de que obtenção de algum ganho para nós. Ter conhecimento do que se faz, como para quê e porquê, isto é, ter o "know-how" e o "know-why", é que é fundamental para assegurarmos ganhos com a exploração dos nossos recursos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
MTQ