Por Fernando Lima
A imagem do corpo ensanguentado
de um catedrático
moçambicano
estatelado no alcatrão
quente da Eduardo Mondlane
correu mundo na terça-feira. Mesmo
antes de o seu corpo ferido de
morte ter sido removido para o
hospital.
Para consumo interno, é como se o
seu corpo tivesse sido lançado junto
ao granito dos degraus do gabinete
do Presidente Nyusi. Os ingredientes
factuais, aqueles que estão para
já acessíveis, assentam como uma
luva na teoria da conspiração.
Gilles Cistac, ainda em vida, argumentou
a constitucionalidade
de um Estado descentralizado. O
que não agradou objectivamente à
Comissão Política(CP) do Partido
Frelimo, e, por arrastamento aos
mastins de serviço que nos últimos
anos cumprem um vai-vém ritual
entre a sede do Comité Central ,
as redacções da comunicação social
pública e os seus satélites. Por
“delito de opinião”, Cistac foi vandalizado,
foi “decapitado” ao nível
mais torpe e mesquinho por um
“jihadismo” em desespero de causa.
Pôs-se em dúvida o seu conhecimento
constitucional, a sua nacionalidade
adquirida. Até a raça foi
Um pacote armadilhado para Nyusi
atirada à praça pública. Quando se
compara Nyusi a Raúl Domingos,
com as devidas distâncias históricas
no que toca ao negociador-chefe da
Renamo, evidenciam-se quão profundas
são as frustrações e o lamber
de feridas pelos corredores frios do
prédio branco da antiga Rua Pereira
do Lago. Afinal, as recompensas
quedaram-se num vice, um assessor,
o responsável por uma institui-
ção inconsequente e um encontro
para apaziguamento dos ânimos.
Muito pouco para meses e meses
de poeiras e noites mal dormidas
no país profundo, caquis “Banana
Republic” e bonezinhos a condizer,
moldando à imagem do chefe um
país que, mesmo com eleições inquinadas,
mostrou estar longe das
maquinações de George Orwell e
do mais maquiavélico assessor da
pátria de Kim Il Sung.
As “regiões autónomas” e a esquizofrenia
da CP produziram o desejado
efeito Pavlov nas desmoralizadas
hostes dos escribas a soldo.
Afinal foram anos recentes de labor
intenso, a começar pela desmontagem
de “intocáveis” no movimento
de libertação como Marcelino dos
Santos, Jorge Rebelo, Oscar Monteiro,
Sérgio Vieira. Mesmo Graça
Machel e Joaquim Chissano não
escaparam a violentas estocadas
porque contrariavam a ordem dominante.
Luisa Diogo fica para um
“estudo de caso” à parte. Se Marcelino
e Vieira foram enxovalhados
pela medida grande, quem é o tal
de Cistac, de sotaque gaulês, aspirante
ao Tribunal Africano dos Direitos
Humanos e à nossa nacional
comissão de eleições?
O desvario permitido e incentivado
acumulou, não tiros mas autênticas
rajadas de Kalashnikov sob uma
instituição que carrega a responsabilidade
histórica de ter levado os
moçambicanos ao limiar da liberta-
ção e da independência. E as rajadas
permitem as colagens abusivas.
A tudo isso, e até ver, é omissa a
intervenção de Nyusi. Assim sendo,
por que é que o corpo de Cistac
tem que ser arremessado às escadarias
da Presidência? Por que tem
que ser ele a pagar a factura?
Aí, revela-se a parte complementar
da teoria conspirativa. Se Nyusi não
tivesse ido ao encontro de Dhlakama,
se não tivesse mostrado cordialidade,
se não lhe tivesse dado
asas para enviar ao parlamento
uma proposta de descentralização
territorial, não teria havido a “subversão”
Cistac por via televisão, não
teria que se mandar uma parte da
CP para as províncias para tentar
apagar os discursos incendiários do
líder da Renamo. Se…
Com 47 dias de governação, Nyusi
não merece, não merecia este cená-
rio, não merecia o rebobinar do pesadelo
Cardoso que se abateu sob a
governação Chissano. Nem sequer
merece o comunicado intimidató-
rio e snaspiano emitido esta quarta-feira
pela CP do partido político
que detém o poder, tentando calar
tudo e todos em nome de uma falsa
unidade de propósitos. Ele que vincou
liberdade e a diferença numa
notável intervenção depois de ser
investido com a mão sobre a Constituição.
Embora a história a Frelimo tenha
vários episódios de facas pelas costas
e cartas-bomba, a última coisa
que Nyusi não precisava mesmo era
esta encomenda armadilhada.
Assassinato,
Gilles Cistac, concedeu uma entrevista ao SAVANA onde queixou-se do crescimento dos níveis de intolerância. Para Cistac, o estágio em que as coisas chegaram mostra que atingimos um nível de intolerância bastante preocupante. Cistac disse que estamos a viver intolerância em várias vertentes, desde política, académica e até rácica. “Há um grupo de pessoas que a todo custo tentam matar a democracia, a liberdade de opinião e de pensamento através de discursos racistas e descriminarias. Como moçambicanos devemos estar atentos a estes discursos porque perigam a democracia”, disse para depois acrescentar que “temos que contrariar este movimento que está a tentar destruir o convívio colectivo tentando pôr em causa a liberdade”. O constitucionalista sublinhou que é penoso que pessoas que defendem a união de Estado publicamente, venham depois promover a divisão desse mesmo Estado através de promoção de práticas discriminatórias. Continuou referindo que há um comportamento visando dividir os moçambicanos. Essas pessoas, que apelidou de criminosos, lançam ideias discriminatórias com vista a confundir a opinião pública, criar confusão e desconfianças entre as pessoas e por fim criar divisionismo. Para tal, este grupo procura a todo custo buscar bodes expiatórios para encontrar culpados na confusão que eles próprios fomentam. Na mesma entrevista Cistac disse que não temia pela sua integridade física porque é uma pessoa honesta e sem nada a esconder. Todas suas opiniões eram do domínio público e as suas investigações académicas estavam todas publicadas em livros. Acrescentou que o esquema de tentar limitar a sua liberdade de pensamento, académica e de expressão estava muito abaixo do capital símbolo que as mesmas ideias transmitem a sociedade. Referiu que não era oportuno indicar nomes mas, o grupo que fomenta intolerância era bastante forte. “Não vou avançar nomes mas depois da investigação do ministério, esses criminosos serão expostos em público. O MP deverá desmantelar esta rede mostrando as caras, as organizações que financiam este tipo de actos bem como as respectivas motivações porque na minha optica é um atentado a democracia. Queixa crime O debate em torno de dois centros de poder no seio do partido no poder bem como da reacção da Comissão Política da Frelimo, após os encontros entre o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi e o Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, assim como as questão da regiões autónomas terá sido o polo da questão. Depois do constitucionalista e académico Gilles Cistac ter vindo ao público referir que as exigências da Renamo, de governar as províncias onde saiu vencedor nas eleições de 15 de Outubro, bem formuladas, podem ter enquadramento legal, várias opiniões foram lançadas em ataque ao jurista. Nas redes sociais foram publicados vários textos acusando o académico de estar a instigar a violência, divisão do país para além de distorcer o direito. No meio dos ataques, o mais grave, de acordo com o ofendido, foi quando, um cidadão, identificado nas redes sociais, pela alcunha de Calado Calachinicov publicou um texto acusando Cistac de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta e por vias corruptas e de estar a fomentar a divisão do país para obter ganhos obscuros. Segundo Gilles Cistac, os escritos deste facebookeiro constituem um verdadeiro atentado a honra e ao seu bom nome pelo que optou por avançar pela via judicial para exigir a reposição dos danos. “Os níveis de intolerância são insuportáveis” Gilles Cistac na última entrevista que concedeu SAVANA Em declarações ao SAVANA Gilles Cistac referiu que as acusações de Calachinicov constituem o ponto mais alto da intolerância bem como da violação dos direitos fundamentais. “Dos mesmos comentaristas já senti sinais de intolerância política, académica e até do racismo. Ignorei-os, agora aparecem acusar- -me de prática de actos criminosos. Acho que já basta. Tenho que agir. Não posso admitir que esse grupo de criminosos continue a manchar o meu nome. Vou avançar com uma queixa crime junto Procuradoria”, desabafou. Gilles Cistac diz que exprimiu sua opinião convencido que estava numa sociedade democrática onde o debate de ideias é um acto salutar e que contribua para a fortificação do sistema democrático. Porém, foi com algum espanto que, em vez das pessoas usarem também argumentos jurídicos e académicos para rebater a sua tese optaram por injúrias e descriminação racial. “Esses comportamentos são um atentado a democracia e a construção de um Estado de Direito Democrático pelo que devem ser desencorajados na medida em que estão a pôr em causa os direitos fundamentais dos cidadãos como a liberdade de opinião, de expressão bem como ao pensamento acadé- mica”, advertiu. Gilles Cistac diz que vive e trabalha em Mo- çambique desde 1993. Durante 22 anos serviu o Estado moçambicano em várias vertentes. Foi assessor de Aguiar Mazula quando dirigia o Ministério de Administração Estatal e mais tarde no Ministério da Defesa Nacional, do Ministro de Turismo, Fernando Sumbana, do Tribunal o Administrativo assim como da Assembleia da República. “Contribuiu grandemente na organização do sistema administrativo moçambicano bem como na formação de juristas moçambicanos. Posso afirmar com toda certeza que não há nenhuma província ou universidade que não tenha um jurista que não tenha contado com a minha formação académica”. Reconhecendo que o autor da acusação usa nome emprestado, o nosso entrevistado referiu que o Ministério Público tem técnicas apropriados para a investigação e confia nas suas capacidades. Cistac diz que há uma necessidade urgente de desmantelar essas redes porque através de intrigas procuram enfraquecer o Estado e criar certa confusão entre as pessoas. Gilles Cistac diz que a acusação é grave pelo que vai pedir ao Ministério Público para que pune exemplarmente os infractores.
Assassinato,
Gilles Cistac, concedeu uma entrevista ao SAVANA onde queixou-se do crescimento dos níveis de intolerância. Para Cistac, o estágio em que as coisas chegaram mostra que atingimos um nível de intolerância bastante preocupante. Cistac disse que estamos a viver intolerância em várias vertentes, desde política, académica e até rácica. “Há um grupo de pessoas que a todo custo tentam matar a democracia, a liberdade de opinião e de pensamento através de discursos racistas e descriminarias. Como moçambicanos devemos estar atentos a estes discursos porque perigam a democracia”, disse para depois acrescentar que “temos que contrariar este movimento que está a tentar destruir o convívio colectivo tentando pôr em causa a liberdade”. O constitucionalista sublinhou que é penoso que pessoas que defendem a união de Estado publicamente, venham depois promover a divisão desse mesmo Estado através de promoção de práticas discriminatórias. Continuou referindo que há um comportamento visando dividir os moçambicanos. Essas pessoas, que apelidou de criminosos, lançam ideias discriminatórias com vista a confundir a opinião pública, criar confusão e desconfianças entre as pessoas e por fim criar divisionismo. Para tal, este grupo procura a todo custo buscar bodes expiatórios para encontrar culpados na confusão que eles próprios fomentam. Na mesma entrevista Cistac disse que não temia pela sua integridade física porque é uma pessoa honesta e sem nada a esconder. Todas suas opiniões eram do domínio público e as suas investigações académicas estavam todas publicadas em livros. Acrescentou que o esquema de tentar limitar a sua liberdade de pensamento, académica e de expressão estava muito abaixo do capital símbolo que as mesmas ideias transmitem a sociedade. Referiu que não era oportuno indicar nomes mas, o grupo que fomenta intolerância era bastante forte. “Não vou avançar nomes mas depois da investigação do ministério, esses criminosos serão expostos em público. O MP deverá desmantelar esta rede mostrando as caras, as organizações que financiam este tipo de actos bem como as respectivas motivações porque na minha optica é um atentado a democracia. Queixa crime O debate em torno de dois centros de poder no seio do partido no poder bem como da reacção da Comissão Política da Frelimo, após os encontros entre o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi e o Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, assim como as questão da regiões autónomas terá sido o polo da questão. Depois do constitucionalista e académico Gilles Cistac ter vindo ao público referir que as exigências da Renamo, de governar as províncias onde saiu vencedor nas eleições de 15 de Outubro, bem formuladas, podem ter enquadramento legal, várias opiniões foram lançadas em ataque ao jurista. Nas redes sociais foram publicados vários textos acusando o académico de estar a instigar a violência, divisão do país para além de distorcer o direito. No meio dos ataques, o mais grave, de acordo com o ofendido, foi quando, um cidadão, identificado nas redes sociais, pela alcunha de Calado Calachinicov publicou um texto acusando Cistac de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta e por vias corruptas e de estar a fomentar a divisão do país para obter ganhos obscuros. Segundo Gilles Cistac, os escritos deste facebookeiro constituem um verdadeiro atentado a honra e ao seu bom nome pelo que optou por avançar pela via judicial para exigir a reposição dos danos. “Os níveis de intolerância são insuportáveis” Gilles Cistac na última entrevista que concedeu SAVANA Em declarações ao SAVANA Gilles Cistac referiu que as acusações de Calachinicov constituem o ponto mais alto da intolerância bem como da violação dos direitos fundamentais. “Dos mesmos comentaristas já senti sinais de intolerância política, académica e até do racismo. Ignorei-os, agora aparecem acusar- -me de prática de actos criminosos. Acho que já basta. Tenho que agir. Não posso admitir que esse grupo de criminosos continue a manchar o meu nome. Vou avançar com uma queixa crime junto Procuradoria”, desabafou. Gilles Cistac diz que exprimiu sua opinião convencido que estava numa sociedade democrática onde o debate de ideias é um acto salutar e que contribua para a fortificação do sistema democrático. Porém, foi com algum espanto que, em vez das pessoas usarem também argumentos jurídicos e académicos para rebater a sua tese optaram por injúrias e descriminação racial. “Esses comportamentos são um atentado a democracia e a construção de um Estado de Direito Democrático pelo que devem ser desencorajados na medida em que estão a pôr em causa os direitos fundamentais dos cidadãos como a liberdade de opinião, de expressão bem como ao pensamento acadé- mica”, advertiu. Gilles Cistac diz que vive e trabalha em Mo- çambique desde 1993. Durante 22 anos serviu o Estado moçambicano em várias vertentes. Foi assessor de Aguiar Mazula quando dirigia o Ministério de Administração Estatal e mais tarde no Ministério da Defesa Nacional, do Ministro de Turismo, Fernando Sumbana, do Tribunal o Administrativo assim como da Assembleia da República. “Contribuiu grandemente na organização do sistema administrativo moçambicano bem como na formação de juristas moçambicanos. Posso afirmar com toda certeza que não há nenhuma província ou universidade que não tenha um jurista que não tenha contado com a minha formação académica”. Reconhecendo que o autor da acusação usa nome emprestado, o nosso entrevistado referiu que o Ministério Público tem técnicas apropriados para a investigação e confia nas suas capacidades. Cistac diz que há uma necessidade urgente de desmantelar essas redes porque através de intrigas procuram enfraquecer o Estado e criar certa confusão entre as pessoas. Gilles Cistac diz que a acusação é grave pelo que vai pedir ao Ministério Público para que pune exemplarmente os infractores.
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