EDITORIAL
Tsipras fez denúncias ridículas e Passos e Rajoy foram fazer queixinhas a Bruxelas.
Depois dos disparates e das rasteiras de Passos Coelho e Mariano Rajoy ao Governo grego em benefício do seu campo político, coube agora a Alexis Tsipras igual dose de dislates também em nome de interesses políticos particulares. Para justificar os problemas em casa, o chefe do Governo grego usou do estratagema clássico da conspiração externa. Já não é só a Alemanha, a Comissão, o Eurogrupo, agora, segundo Tsipras, também Portugal e Espanha encabeçam uma espécie de conspiração contra Atenas cujo objectivo é derrubar o Executivo do Syriza. É o eixo do mal, versão ibérica, para distrair as atenções de quem, em Atenas, já contesta os acordos feitos com as autoridades europeias. Pelo meio houve queixas a Bruxelas por parte de dos governos de Madrid e Lisboa tudo a contribuir para elevar o ridículo da situação a níveis absolutamente desproporcionados.
As primeiras provocações partiram dos governos ibéricos. Dentro e fora de portas não perdiam ocasião para isolar os gregos, rejeitando qualquer compromisso que pudesse comprometer a versão de que não há alternativa ao modelo de austeridade desenhado pela troika, mesmo se é a própria Europa a mostrar que as regras estão a mudar.
A repetição ad nauseaum da frase “Portugal não é a Grécia” e a deselegância do primeiro-ministro português ao qualificar de “conto para crianças” o programa que o povo grego sufragou nas urnas são, para além de tudo o mais, reveladoras da indisfarçável fragilidade da situação caseira. Por muito que Portugal esteja melhor do que a Grécia – e está, nada é tão mesquinho e até vil do que servir-se das dificuldades de quem é mais fraco para se promover junto dos mais fortes. O método costuma ter efeito boomerang e jamais serviu para ganhar o respeito de quem se quer impressionar. O sr. Schäuble até pode ter palavras de simpatia para com os seus amigos do Governo português, mas isso não impede a Comissão Europeia de continuar a exibir a nossa miséria secular, como ainda fez esta semana ao incluir Portugal no clube de países sob vigilância por “desequilíbrios macroeconómicos excessivos”, com considerações e avisos contraditórios entre si, a velha hipocrisia de sempre.
O Syriza, simpatize-se ou não com as suas causas, parecia uma lufada de ar fresco. Tinha a vantagem de não estar ligado à crise, novos protagonistas, uma informalidade surpreendente. Nas duras negociações com Bruxelas foi ganhando simpatia de milhões de europeus. Em Portugal, uma sondagem deu larga vantagem aos que se diziam do lado dos gregos e esse facto foi decisivo para o governo suavizar o seu discurso sobre a Grécia. Mas não basta tirar a gravata e vestir casaco de couro para ser diferente, se à primeira contrariedade, se deita mão ao estafado método de sempre. Tsipras deu um tiro no pé e uma inesperada ajuda aos seus “adversários”. Quanto aos três governos envolvidos, todos fizeram uma triste figura.
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