domingo, 1 de março de 2015

HÁ BARULHO NA RENAMO

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
―O curso de História permite antever, mesmo sem rigorosidade, o futuro. Mas não nos autoriza a sermos surdos nem indiferentes. O que possui chifres não se embrulha a ponto de ser indescodificável por longo tempo.Excerto de uma conversa com o amigo Nkulu
Quem me acompanha nestes Centelha sabe que não falo à toa, apesar de aumentar o número de críticos e de críticas contra mim. Sabem que sou frontal e destemido, capaz de dar a melhor vaca leiteira para não entrar no clube dos difamadores, caluniadores, intriguistas, cobardes, fofoqueiros, pedantes, salafrários, iconoclastas, mas entregaria custa o que custasse, até uma manada delas para não sair de um combate de ideias despretensiosas e construtivas, sem golpes baixos nem falso anonimato. Por isso, os que gratuitamente me apodam de G40, pela via da lógica, são exactamente as duas faces do que não sou. Sim, mudo de ideias e não de alma, muito menos de carácter. Pessoalmente, nunca me zanguei com quem quer que seja por motivos políticos, tão-somente por questões de carácter. Eu até os compreendo, porque “Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam.Mais uma vez o tempo apressou-se em dar-me razão.
Tenho dito muitas vezes que a Renamo está a percorrer os caminhos da perdição, uma peregrinação que a levará ao precipício. Não porque meia dúzia de membros abandonaram o partido ou porque certas figuras deproa fazem comentários públicos que desabonam o comando partidário, o que é comum e salutar em democracia, mas fundamentalmente devido a guerra palaciana e pela “desorganização organizada” entre os seus militantes que pura e simplesmente se sentem incomodados por terem sido substituídos em campo. Este comportamento revela, em qualquer organização, ausência de trabalho de equipe, ambição e ganância. O apelidado “incendiário”, António Muchanga foi destituído do cargo de porta-voz do Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, logo a seguir, talvez no mesmo minuto, o assunto caiu nas redes sociais como uma bomba atómica. Não tardou para que o destituído do cargo viesse à tona explicar os contornos daquela decisão, quando devia estar mais preocupado em dinamizar as actividades do seu partido, uma vez que não está em jogo o seu bom nome, a integridade moral ou qualquer outro dolo, porque cargos políticos não são profissões nem identidade de uma pessoa.
Conquista-se de várias formas, uma delas é por competência e confiança. Quantos dirigentes deste país deixam de o ser da noite para o dia, mas que em circunstância alguma fizeram tanto alarido? Esta atitude não é nem novo nem recente na Renamo. Joaquim Vaz e outros que ocuparam cargos de relevo no partido vieram à terreiro explicar em entrevistas as supostas causas das “chicotadas políticas”.
O normal seria o partido Renamo gerir os seus problemas no fórum próprio (interno), como recomenda oditado “roupa suja lava-se em casa”. Sabe-se agora que o ambiente interno na Renamo é de agitação, porque o líder reconhece que chegou o tempo de arrepiar caminho, de usar outras armas inofensivas para o combate político, como por exemplo, incorporar sangue novo nas fileiras, formar um partido onde a miscigenação da cor entre os dirigentes seja uma realidade e não uma quimera. Insisto, é tempo do General Dhlakama descansar para melhor escrever suas memórias.
É mais útil na retaguarda do partido como conselheiro do que cavaleiro de batalha contra a ideia desudanização do país. Note-se que Joaquim Chissano, Xanana Gusmão, entre outros líderes, aposentaram-se voluntariamente sem criar arruaça. A menos que o General Dhlakama tenha vontade de receber retroactivos duma juventude mal passada. Não me parece que a decisão de dividir o país em regiões autónomas (lembro que esta ideia surge como uma imposição pela derrota nas eleições passadas e não uma vontade do povo) seja uma ideia do autoproclamado “pai da democracia” e sim de alguns frenéticos. Percebe-se que haja uma situação de mal-estar e nervosismo de alguns membros que querem um pouco mais, nem que para isso façam o próprio calvário, para parecer heróis. Se existe um problema que sempre acompanha a Renamo é a distração. Não aprende as lições da história.
Comete os mesmos erros, ignorando os sinais do tempo. Não respeita os “timing políticos”, por essa razão ataca aquilo que os devia unir. Não aprendeu que o inimigo que te suga está na própria veste, prefere atacar com toda a força um “amigo” eterno e figadal que é a Frelimo. A distração é uma coisa terrível porque destrói num ápice, o que foi preciso anos para construir com abnegação. Este não é tempo de compensações e choros, impera o trabalho duro e em sintonia. Termino esta Centelha com as palavras de Martin Luther King: “Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realizaçãoÉ possível a reorganização da Renamo. O povo precisa da Renamo. A Renamo é parte do processo democrático do país. Todos juntos, independentemente da cor partidária, devemos trabalhar para superar as adversidades que enfermam este país. Moçambique é de todos nós, para nós todos, e indivisível. Viva Moçambique.
P.S.1: Fiquei indignado quando tomei conhecimento que, a partir de hoje, qualquer pagamento pela solicitação e/ou tramitação de documentos nos Registos e Notariado em todo o país deverá ser feito via depósito bancário. Esta medida é precipitada e perigosa. O êxito desta medida nunca sairá da ―incubadora mental dos seus mentores, salvo se estes forem desprovidos de sensibilidade, porque prejudicará às populações e criará ―entupimentos aos bancos. Sejamos realistas: ainda não estão criadas as condições para a imple-mentação desta medida sem lesar o povo. Sempre que um governante introduz medidas populistas, contra o seu povo, não pode ter outro fim aquele que afirmou o meu chamuale angolano Marcolino Moco ―amarra-se a si próprio ao comboio da hecatombe.
P.S.2: O meu figadal chamuale, o escritor luso-moçambicano Afonso Almeida Brandão continua a imortalizar as sumidades portuguesas ligadas à cultura. Desta feita, acaba de lançar em Portugal a Biografia referente à ―Vida e Obra do Mestre José Adjuto, um airoso pintor naturalista, falecido em 2014. Quem publica uma biografia artística, além de combater a acção demolidora do tempo, deixa preso os leitores à obrigação de gratidão. As minhas palavras de home-nagem não podem e nem devem – por uma questão de gratidão – permanecer em silêncio ou em privado, porque também sou devedor desse saber. Zicomo amigo das velhas trincheiras. Como se diz por cá, estamos juntos.
WAMPHULA FAX – 02.03.2015

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