Não pensei que um dia fosse ganhar a coragem de usar a história que se vai seguir para trazer ao epicentro o alcance do mal que nos causam as mentiras institucionalizadas do G 40. É claro, dirão que isto é pura ficção. Que lá vem o gajo com mais uma das suas. Mas eu conto. Os senhores acreditem se quiserem. Eram cerca das 21 horas da noite do dia 24 de Dezembro de 2011 quando cinco agentes da Força de Intervenção Rápida vieram nos encontrar, eu e a minha consorte de então, sentados na pedra, ali na entrada que dá acesso à minha casa, a apanharmos o ar fresco, dado que fazia imenso calor. Eles exigiram-nos que nos identificássemos. Mostrei-lhes o meu B.I. Ela não trazia o dela, mas eu expliquei que não havia qualquer problema uma vez que eu estava identificado e nós só havíamos saído para apanhar o ar. Perguntaram-me o que eu trazia nos bolsos e eu fui tirando o que tinha: um maço de cigarros no bolso esquerdo e um isqueiro no bolso direito. Mandaram-me virar, que eu desse de frente com a parede e que abrisse as pernas. Um deles aproximou-se, chutou os meus pés, um para lá, outro para acolá, tendo começado a me vasculhar de cima para baixo, apalpando-me as nádegas e todo o resto. Pedi que eles não fizessem o que estavam a fazer, que eles não me humilhassem em frente da minha parceira. Eles não me ligaram à mínima, continuaram a fazer das suas, como se tivessem achado em minha humilhação o objecto do seu divertimento, diante da minha parceira, sem que eu tivesse cometido nenhum crime. Eles queriam que eu reagisse, devia ser essa a intenção deles. Foi então que me virei para eles e pedi que eles parassem com aquilo. Pedi-o civilizadamente. Eles empuraram-me com tanta força que fui bater com a testa na parede. Um deles, o mais nervoso, qual cão vadio cheio de raiva, aproximou e apontou-me uma arma. Uma AK-47. Uma AKM, portanto. A kalash da nossa bandeira! Senti o frio do cano da gaja encostada na minha nuca como nunca havia sentido antes. Já tinha ouvido dizer-se que os homens da FIR eram assim, que torturavam cidadãos indefesos, mas nunca tinha pensado que isso fosse se passar comigo um dia. Foi ali que tirei lágrimas, djon. Ainda ouvi a minha parceira a gritar, vendo a arma que me havia sido apontado. Ela começou a chorar, a pedir que parassem de me seviciar. E eu, que sempre pensei que fosse duro Zé, vendo-a chorar, também chorei. Chorei mesmo. Quando de repente senti que eu já não era eu, virei-me para eles, enquanto empurava civilizadamente a AK-47 que me havia sido apontado na nuca. Quando dei por mim, eu estava já no chão, caído de bruços, resultado de uma daquelas rasteiras de Van Damme que um deles veio me dar. Bati com a cabeça no chão na queda. Depois senti o peso das botas daqueles cinco paquidermes a ser descarregado nas minhas costas e todo o meu corpo de magrizela. Pontapés sucessivos, madala. Quando eu tentava me levantar, eles desferiam-me sucessivos golpes, transformando-me num saco de pancada para o seu desfrute. Afinal era só o começo. Não me recordo de ter sentido dores, mas me lembro de ouvir a minha parceira a chorar, copiosamente, já naquele mesmo instante. Seguia-se assim uma chuva de socos, pontapés e bofetadas. No meio de todos aqueles vizinhos que foram saindo das suas casas por conta dos berros, dos gritos e das coronhadas que se faziam ouvir, cortando o silêncio da noite, apenas consegui ver a minha mãe, que também saíra para testemunhar a pancadaria de que eu estava a ser vítima, sem que ela pudesse fazer nada. A minha parceira disse a minha mãe que nós não tinhamos feito nada de mal, que apenas havíamos saído para apanhar o ar, mas aqueles polícias chegaram ali e começaram a me torturar que nem uma besta. Nem a presença da multidão serviu para dissuadir a acção daqueles animais selvagens que, entretanto, continuaram a me fazer passar pela humilhação de ser visto pela minha mãe e pela minha parceira a ser torturado, como se eu fosse um criminoso. Mandaram-me levantar, para que eu fosse com eles. Teria preferido que me matassem, mas que não fosse diante da minha encarregada de educação, por isso aceitei ir com eles. Era o fim da primeira parte. O pior ainda estava por vir. Depois de alguns poucos metros, quando vi que a minha encarregada de educação tinha ficado em casa por ordens do meu irmão que nos seguiu, ofereci resistência, dado que eu queria que aquilo terminasse logo, uma vez que eu não tinha feito nada de errado. Começava assim a segunda parte. Eles começaram a torturar-me novamente. Espancaram-me até eu dizer chega. Bayete! Mandaram-me deitar de barriga e começaram a me chamboquear nas nádeas, diante dos tantos mirones que assistiam toda aquela brutalidade, sem poderem fazer nada. Um deles disparou para o ar a fim de dispersar a multidão e ela se dispersou. Depois me levaram com eles, enquanto iam me empurrando com as suas armas, pelas costas, como se eu fosse um burro. Era violência gratuita. Foi assim até ao Parque de Estacionamento do Xipamanine, quando o meu irmão chegou, acompanhado de um nosso amigo polícia. Tinham deixado de me espancar e eu sentia dores, com o lábio rasgado e os olhos inchados. Nunca tinha sentido tanta dor nas costas, nos ombros, nos pulsos, em todo o corpo. Tinha a camisa manchada de sangue. Vendo-me naquele estado irreconhecível, igual ao de quem tivesse escapado a explosão de uma mina anti-pessoal, o nosso amigo polícia disse-lhes que eu era jornalista. Vocês não sabem que este senhor é jornalista?, perguntou, como se ser jornalista fosse cartão para os cidadãos não sofrerem maus tratos nas mãos da FIR. Vi aqueles agentes da FIR a ficarem atrapalhados com a notícia. Por que o senhor não nos disse há muito tempo que era jornalista?, perguntou um deles. Não respondi. Dentro de mim eu disse “vai a merda”. Foi o que me ocorreu depois de tanta porrada que me tinham dispensado injustamente. Gostaria mesmo de lhes ter mandado um “vai a merda”. Mas não lhes disse. Estava sem forças para lutar. O medo transforma pessoas saudáveis em farrapos humanos. Já o tinha dito Baltazar Garzon. Eu estava um farrapo humano, cheio de medo. Nunca precisei invocar a profissão para seja o que for, muito menos para escapar de uma chicotada policial sem motivo aparente. Tinha visto a FIR a actuar assim nas manifestações. Estive lá no dia em que eles lançaram gás lacrimogéneo de um lado para o outro e mataram Virgílio Amade. Pensei que aquela brutalidade acontesse só com os coitados madgermanes, mas naquele dia aprendi o que eles sentiam na pele quando eram maltratados cobardemente pela FIR sem terem feito mal nenhum ou só por exercerem os seus direitos e liberdades fundamentais. Depois houve quem lhes ofereceu uma nota de 100 meticais, a pedir que me soltassem. Eles soltaram-me. O chefe deles, visivelmente bêbado, devolveu-me o B.I. De qualquer forma, a nota de 100 meticais foi o modo que eles encontraram para justificar a minha soltura, embora naquele instante me tenha parecido que eles me tivessem largado por lhes ter sido dito que eu era jornalista. Lembro-me hoje de ter sido um dos primeiros jornalistas a chegarem ao local onde o menino Hélio Rute foi atingido mortalmente por uma pretensa “bala perdida”, quando regressava da escola, num dia de manifestações populares. Quando um homem foi alvejado mortalmente por um polícia em Lichinga por não ter a licença da sua bicicleta, os populares revoltaram-se junto da esquadra e foram vergastados pela FIR. Há uns 10 anos, o meu amigo Jorge, o puto do meu amigo João José Sambo, desapareceu numa esquadra, onde havia sido detido. Eu e o Marré corremos atrás dos factos, mas Jorge nunca mais apareceu até hoje. Pode ter sido executado. Execuções sumárias, “balas perdidas” e torturas são o nosso pão de cada dia. Os meus irmãos não gostam quando eu conto a história da minha tortura pelos homens feios da FIR. Eles dizem para eu não me meter com os polícias. Para aqueles jagunços, aquele tinha sido um dia normal de trabalho. Toda a gente tem medo da polícia. Sempre que penso na polícia fico traumatizado. Tenho medo até de lhes dizer “bom dia”. Na verdade, eu sou uma pessoa traumatizada. Jamais me esquecerei de toda aquela vergastada, nem mesmo de ouvir a minha mãe a chorar e a suplicar: “Não matem o meu filho, por favor chefe!”. Lembro-me de ainda ter ido ali a esquadra apresentar a queixa naquela mesma noite, mas debalde. Eles até ficaram felizes com os serviços de tortura que os seus colegas me haviam proporcionado. Talvez dissessem é bom, é para aprender a lição. De modo que esta é a primeira vez que conto esta minha história, porque tive tanta vergonha de contar antes. É assim mesmo. Somos torturados sem apelo nem agravo e ainda sentimos vergonha. Chegados aqui, espero que o G 40, que é pago para defender o governo na rádio e televisão pública, tenha percebido a mensagem. Ter força não significa ter razão. Há pessoas traumatizadas pelas torturas que esses jagunços encapuzados de Estado tem andado a protagonizar do Rovuma ao Maputo. Será mesmo que aqueles energumenos da FIR, que me “mataram” na noite do dia 24 de Dezembro de 2011, não sabiam que eu era jornalista? Ou estavam a cumprir “orientações superiores” para me intimidarem. Como vocês os 40! Se vocês fossem simples cidadãos e não os escolhidos a dedo, talvez estivessem já a ser torturados nas celas da Brigada Montada, a ver se confessavam o crime ou revelavam quanto dinheiro recebem no partido para promoverem a intoxicação da opinião pública.
Major-General Henry Miller
Cléo Mafu Atitude tipica de cobardes.
Cust Costa ihhh ya nenane bay essa eh de assustar. mas xpero k o trunfo dessa gente xteja nunca de se exibir
Rui Miguel Lamarques Aterrador.
Muhamad Yassine TOU arrepiado ....
Nkuyengany Produções os matsangas da frelimo
Ariel Sonto Bandidos armados.
Geraldo Tete Arrepiante. Viva Direitos Humanos e o Respeito pela Cidadania!
Jose Pires é o legado da frelimo para o bom povo Moçambicano.
Circle Langa Carácter macabro!
José de Matos Filme de terror, mas o pior é que certamente que nao se trata de um caso isolado!
Alfredo Macuácua Obrigado por partilhares esse "crime" cometido pelos jagunços que nos deviam proteger mas, porque a voz de comando é dada a partir da ex Pereira do Lago e não propriamente do comando policial, é o que se vê...
Jose Alexandre Faia A HORA DA RETRIBUICAO CHEGARAH BEM DENTRO EM BREVE ...
Cléo Mafu Culpa vossa q votaram nos falsos libertadores, lamento o q te aconteceu. A nossa policia anda com raiva sem sei de q e gente inocente é q paga. Um jovem 'depois duns copos' foi torturado pela policial pq ter dito 'ati homo'. Tinham q ter visto como a policia saltou do carro para pega-lo como se fosse um criminoso. PUTA QUE PARIU ESTES GAJOS.
Ismael C. Gocaldas A nossa policia,a dita Fir são uma lastima e vergonha para o povo moçambicano,tu com ou sem razão eles vao cm tdo para cima de ti.
Milton Chembeze Profundo. A nossa polícia não está preparada para lhe dar com as pessoas.
São verdadeiros cães sarnentos que lambem pornograficamente as feridas do seu dono.
Armando Nenane, revejo me no que contou, podera eu também ter "estofo" para contar o que sucedeu comigo há 2 anos.
Adelino Branquinho Eu acredito! nao porque quero, `e de acreditar. `E terrivelmente traumatizante.
Sergio Baloi Sergio triste historia mais um bom disso e que agora vai server de licao ao g40
Elidio Cuco Epha, aconteceu isso meu caro Major-General, afinal os nossos impostos sao para financiar a nossa vergastada? que triste.....
Álvaro Xerinda Quanto abuso aos nossos impostos
Markito Baltazar Que vergonha da nossa prm
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