Alcidio Do Rosario Bombi partilhou a publicação de Calado Calachinicov.
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Segunda, 23 Fevereiro 2015
DECORRE, neste momento, um debate “convocado” pela presidência da Renamo: o das regiões autónomas. Trata-se, a nosso ver, de um “falso debate” na medida em que há razões históricas que provam que a Renamo, nunca se organizou para governar. Ao contrário de alguns movimentos rebeldes como a UNITA, por exemplo, que desde sempre teve e efectivou o interesse de governar, criando durante os processos político-militares em que esteve envolvido, zonas sob sua administração directa, a Renamo, nunca demonstrou interesse em administrar qualquer território senão o controlo das pessoas, bens e recursos que a região dispunha por via da intimidação e do terror para além de abate e saque indiscriminado dos mesmos, privilegiando em contrapartida a formação de bases militares e usando a população como escudo e as crianças e adultos como soldados.
Findo o conflito e em tempos de paz, quando, em algum momento tiveram a oportunidade de governar por via da municipalidade e, desse modo, materializarem por via de acções concretas o projecto de governação que os fez combater os seus próprios irmãos sem trégua e ética, em nenhuma das circunscrições municipais demonstraram capacidade para tamanha responsabilidade.
A prova máxima do seu fracasso governativo foi a derrota nas urnas quando sonhavam com a reeleição. Para não suportarem a dor da indignação popular e da sua incompetência, mais tarde, optaram por não participar dos escrutínios, um subterfúgio, aliás, bastante peculiar na estratégia desta formação política.
O que parece não ter ficado claro para muita boa gente é que a Renamo fugia de algo que revelaria todas suas fragilidades, visto que nunca se tinha preparado para governar e a planificação era e continua a ser um lugar que não existe no contexto daquele partido.
Não preciso lembrar que a Frelimo – no tempo da Luta Armada de Libertação Nacional – tinha um propósito de luta, como se pode verificar no ensaio dos modelos de educação e saúde nas zonas libertadas, uma experiência que ao nível da educação, por exemplo, revelou-se um tremendo e respeitável sucesso.
A Frelimo, desde cedo, queria ocupar um espaço onde pudesse comprovadamente mostrar que tinha planos e objectivos específicos em declarar a insurreição geral e armada contra o governo colonial português e as zonas libertadas serviram exactamente para demonstrar este desejo, isto para além de que a Frelimo antes de iniciar a luta debateu com profundidade quem era o inimigo, qual era a sua natureza assim como as formas de relacionamento com a população nos locais onde iria iniciar a luta.
A insistência de Eduardo Mondlane em realizar o segundo Congresso da Frelimo em Moçambique, quando uma linha reaccionária queria que fosse num outro país, mostra a importância da clareza de luta que a Frelimo estava a empreender. Ou seja, mesmo sem todas as condições criadas revelava-se através de actos a veia patriótica e nacionalista da Frelimo. Daí que algumas fotos que nos são reveladas desse evento mostram os bancos e mesas de estacas de madeira e bambu improvisados, afinal, apesar das insuficiências havia um foco correctamente elaborado.
Mesmo em relação a Tanzania, foi sempre claro para a Frelimo que não passava estrategicamente da sua retaguarda segura, espaço onde podia implantar-se e lutar por Moçambique, daí que sempre que lograsse afastar o opressor colonial de uma certa área, ocupava-a de seguida, implantando suas escolas, os seus hospitais, campos de treino e de produção onde convivia em harmonia com a população liberta, engajando-a, defendendo-a e os seus guerrilheiros orientados nas tarefas da produção e respeito pelo povo. Demonstrava em suma, com acções e planos e mesmo sob um elevado quadro de carências que tinha um sonho, um propósito, um objectivo e que tinha formas de implementá-los.
Como é que um movimento que nunca quis governar haveria de querer agora?
É por todos sabido que a Renamo, em nenhum momento, viu-se na situação de articular e forjar os objectivos da sua luta. Na verdade, desde a sua criação funcionou como um instrumento de sabotagem, o que lhe impediu de olhar para o país e seu povo como unidades que deveria sustentar e criar bases sólidas para que se desenvolvessem. Parte do atraso económico e dos maiores traumas que o povo moçambicano hoje, se recompõe vem da guerra movida pela Renamo e até hoje, todo este movimento que ocorre é justamente porque a Renamo já se deu conta que estamos na senda do desenvolvimento e por isso inventa qualquer artimanha para nos atrasar como o é com a questão das regiões autónomas que, no lugar de ser ela mesmo a explicar, encarregam-se alguns editores em debates forjados para o efeito.
As regiões autónomas como se apresentam, não passam de mero logro ideológico, são na verdade o prolongamento desta estratégia de sabotagem. E é mesmo uma estratégia de sabotagem porque a Renamo, como sumariamente demonstrámos, nunca teve qualquer propósito em governar e se o país e o povo moçambicano fossem uma ficção entregaríamos o poder a Renamo com certeza de que o devolveria no dia seguinte por falta de plano como fez com as autarquias sob sua governação que se revelaram autênticos desastres numa altura em que toda a sua força e engenho deveriam ali ser aplicados como forma de mostrar aos nacionais e ao mundo que a Renamo é de facto alternativa de governação.
Mas nem o povo e nem o país são uma ficção mesmo que a Renamo assim os considere e por isso mesmo que não procede a ideia de entregar o poder a quem sempre demonstrou apatia e incapacidade para governar, mesmo porque contraproducente que quem demostrou incapacidade em dirigir um espaço menor (autarquias) queira o maior (regiões autónomas). E pior, com o discurso alicerçado na ameaça, no ódio aos seus opositores, um discurso baseado na região como se a vida dos moçambicanos se circunscrevessem aos locais onde nasceram, como se os moçambicanos fossem incapazes de estabelecer relações de consanguinidade sem ter em conta a região onde nasceram.
Não podemos admitir como povo que hoje, depois de uma longa e perniciosa caminhada, depois de consentir sacrifícios para que nos tornássemos uma Nação una e indivisível venha um grupo com pretensões claras de separar-nos. Nós moçambicanos transcendemos os logros e formatos ideológicos, pelo que não devemos aceitar que nos separem porque no fundo é a divisão do povo moçambicano que a Renamo quer promover com este tipo de discurso; a Renamo sabe que a nossa força reside na nossa unidade e enfraquecendo-a abre espaço para nos desintegrarmos como Nação.
A Renamo está a fazer neste momento uma guerra ideológica usando o seu único conhecimento: a estratégia de sabotagem, do terror e do medo. Mais do que querer dar respostas as pretensões da Renamo de criação de regiões que a história nos provou que nunca teve interesse em criar devíamos perceber que a Renamo nos pretende atrasar, nos desviar do foco, nos ensinar que somos moçambicanos de norte, centro, sul, ela quer nos isolar de nós mesmos porque ciente de que a nossa força reside na unidade. Amosse Macamo
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