quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Lobos e bobos


20.02.2015
CRISTINA AZEVEDO
Enquanto não se percebe bem quem são os lobos e quem são os cordeiros na cena internacional, conto-vos uma história de lobos aqui mais de perto. O lobo ibérico estava em vias de extinção. Conseguiu-se, com estímulo e cuidados, renovar as alcateias. Mas, como quase sempre, não se atentou suficientemente às condições do seu habitat atual, às características do povoamento e da atividade económica de raiz agrária do território por onde se espraia. Resultado: o lobo ibérico reorganiza-se e fortalece-se, aproxima-se perigosa e sistematicamente das aldeias da serra e, pasme-se, ataca e come, não cabras ou carneiros, mas vacas. PARA já, ainda não homens.
Descem os governantes à cidade mais próxima da serra, que é onde ficam as delegações do ministério que trata da terra, e acalmam-se autarcas e populações com promessas de corsos, injetados a 1000 euros a cabeça na serra, PARA que o lobo prescinda das vacas.
O problema é que, a 1000 euros, não dá PARA muitos corsos e ainda as delegações não tinham chegado à capital, que é onde o ministério que trata da terra tem mais gente, e já os lobos metiam os corsos todos na cova de um dente.
Devem ter tido má digestão, porque ao que consta, os corsos eram espanhóis.
Ao saber disto, e já rendidos à gula lupina, deliberam pagar o prejuízo causado por cada vaca morta desde que: as explorações sejam cercadas e as manadas acompanhadas por cães e pastores.
Não sei bem se se lembraram de mandar certificar os pastores. Afinal, há tanto dinheiro da Europa PARA formação profissional.
A chatice é que quem manda, e não gosta sequer de perguntar e ouvir de quem sabe como é que as coisas se passam, não chega a perceber que quem vive nas nossas serras não são exatamente pecuarista à brasileira que contam cabeças aos milhares. São agricultores, o mais das vezes, em part-time, que têm, no máximo, algumas dezenas de vacas que, por acaso, não se pastoreiam nem precisam de cães PARA as guiar. Simplesmente vão para o pasto sozinhas e regressam ao entardecer. Ou seja, vedações, cães e pastores é coisa que não serve para nada e será seguramente caro e despropositado como premissa para vir a ter magras e tardias compensações. Já para não falar da relação afetiva estabelecida com estes animais. Ninguém perceberá que simplesmente não basta substituir uma vaca que se criou por um cheque.
A visão economicista de quem pense que tanto faz como fez, já que o valor económico desta atividade é irrisório, é criminosa. Porque muito mais do que a manutenção de umas tantas cabeças de gado, está em causa um modo de vida que garante o povoamento, já de si tão ameaçado, de muitas aldeias serranas e um ecossistema que permite a convivência saudável de homens e bestas. E isto inclui o lobo. Num equilíbrio que há séculos se soube encontrar.
Enquanto o ónus PARA se conseguir este equilíbrio recair apenas e erradamente sobre os agricultores, então, em toda a linha, ganham as bestas!
ANALISTA, FINANCEIRA

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