sábado, 21 de fevereiro de 2015

‘É um dinheiro que o presidente e sua família roubaram do povo’, diz vítima de ditador

Tutu Alicante é o principal crítico do regime, tendo feito denúncias que levaram a investigação nos EUA e na Europa
POR MARIANA SANCHES
20/02/2015 5:00

Tutu: ‘Escola foi peça de propaganda’ - Arquivo Pessoal (19/02/2015)


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SÃO PAULO — “O carnaval da Beija-Flor é um insulto para o povo da Guiné Equatorial” A afirmação é do principal defensor dos direitos humanos do país, o guinéu-equatoriano Tutu Alicante. Ele diz que 75% da população de 1,6 milhão de pessoas vivem com apenas dois dólares por dia e não têm acesso à água limpa ou à saúde. Nada disso foi para a avenida na madrugada de terça-feira, quando a escola desfilou as “belezas” da Guiné Equatorial. Alicante é ele mesmo uma das vítimas do regime. Aos 19 anos, a casa em que vivia com a família foi queimada por forças do governo Obiang. Aos 41 anos, tornou-se o principal crítico internacional do regime, fazendo denúncias que levaram o ditador a ser investigado nos EUA, na Itália, França e Espanha. Da sede de sua organização, em Washington, ele falou ao GLOBO por telefone.

O governo da Guiné Equatorial teria doado R$10 milhões à Beija-Flor. Como o senhor vê esses rumores?

Isso é um insulto para o povo da Guiné Equatorial, porque é um dinheiro que o presidente e sua família roubaram da população. É um governo que trata os recursos naturais do país e o lucro que vem deles como se fossem dinheiro privado, deles. Esse dinheiro deveria ir para as coisas mais básicas, como tratamento de água, creches, hospitais, casas para os mais pobres. Em vez disso, o presidente doa os recursos para o samba brasileiro. Ele não dá a mínima para o samba, na verdade. A Beija-Flor foi só mais uma peça de propaganda da ditadura dele.

As pessoas em Guiné Equatorial já sabem o que aconteceu?

Não há jornais lá. Não existe imprensa livre na Guiné. As pessoas não sabem o que está acontecendo nem oficial nem extraoficialmente. Não existe nenhuma rádio ou emissora de televisão livres. Aliás, a principal emissora pertence ao presidente. As pessoas da diáspora é que têm postado notícias sobre isso nas redes sociais, mas os guineenses não têm acesso a isso porque o Facebook é bloqueado, assim como a maior parte dos sites de informação.

Em contraste com a família do presidente, como vive um cidadão médio do país?

O presidente Obiang tem pelo menos 17 palácios. O país tem o maior PIB per capita da África, por conta do petróleo. Mas pelo menos 75% da população não têm onde morar, não estuda, não têm água limpa. Se ficar doente, morre. Medicamentos mais básicos, como os de malária, são inacessíveis. E as epidemias, constantes. Eles vivem de refeição em refeição. A cada dia precisam lutar para conseguir os dois dólares com os quais poderão comer no dia seguinte, e assim sucessivamente. Há uma única universidade no país, a Universidade Nacional, em que não há alunos porque os prédios não têm eletricidade, não há livros nem recursos para fazer a universidade funcionar.

Quais as violações aos direitos humanos que acontecem hoje?

Enquanto conversamos agora há alguém sendo torturado na Guiné Equatorial. Não sabemos quantas vítimas em 35 anos. Mas nos últimos dois ou três anos, pelo menos 60 mil pessoas foram sequestradas, executadas ou torturadas. Todo dia alguém tem seus direitos violados, sobretudo nas prisões. E o país mantém a pena de morte, contrariando promessa que fez aos países de língua portuguesa. A pena de morte pode ser imposta a qualquer um que cometa um crime capital. O tribunal de Justiça também está sob jugo de Obiang, então, no limite, morre quem ele decidir que deve morrer.

Como a família Obiang opera seus esquemas de corrupção?

Todos os membros da família Obiang ocupam cargos no governo: filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, cunhados e cunhadas. É um sistema nepotista de lavagem de dinheiro. Os casos mais notórios envolvem o confisco de uma mansão em Malibu, avaliada em US$ 100 milhões. Essa mansão teria sido comprada com o dinheiro depositado por empresas que exploram os recursos do petróleo em uma conta do Tesouro Nacional da Guiné Equatorial. O presidente, seu filho Teodorín e um sobrinho fizeram depósitos da conta do Tesouro para suas contas bancárias pessoais. Cada membro da família possui uma empresa. São quase todas de fachada. Mas são elas que prestam serviços para o governo.

Onde a família possui bens?

Eles têm mansões nos EUA, navios no Panamá, recentemente tentaram comprar o iate mais caro do mundo, na Alemanha. Além disso, possuem propriedades em Cingapura, França, Espanha, China, África do Sul, Marrocos e algumas no Brasil.

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2 COMENTÁRIOS



Cidadão Carioca • 20/02/15 - 15:13

O presidente e o vice da Guiné se escondem no hotel! Os caras estão morrendo de medo, no voo o diplomata deles fez um resumo do Brasil e do Rio, no Brasil ocorrem 50.000 homicídios/ano e há 12 anos de comunismo PTrolão já são mais de meio-milhão de pobres mortos(corresponde a 30% da população da Guiné), no RJ a polícia ganha prêmio para pacificar as estatísticas de violência,Obiang está mais indignado ainda, de ser tratado pelo mundo todo como ditador,lula mensaleiro e dilma ptrolão SOLTOS...




Gustavo Chaves Lopes • 20/02/15 - 10:57

E viva o carnaval! Cada vez mais refletindo a cultura e a sociedade brasileira. Como disse o próprio Neguinho da Beija-Flor, esse filósofo contemporâneo: "sem dinheiro sujo não haveria carnaval". Podemos estender essa pérola a todos os ramos: sem dinheiro sujo não haveria futebol (inclusive nossos novos estádios "padrão Fifa"), sem dinheiro sujo não haveria financiamento eleitoral (e, em última análise, política), sem dinheiro sujo não haveria um monte de coisas tão "nossas". Mas como seria bom!



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/carnaval/2015/e-um-dinheiro-que-presidente-sua-familia-roubaram-do-povo-diz-vitima-de-ditador-15387195#ixzz3SSSBxkR4
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