Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
“O dinheiro atrai os olhos e amolece vontades, compra adulações e espicaça mentiras, apregoa benfeitorias e derrete consciências. As forças políticas usam a liberdade como se fosse dinheiro.” Padre Manuel Maria Madureira da Silva
Sabemos sem precisar de avivar a memória que a Constituição da República estabelece direitos e liberdades aos cidadãos, porém, verifica-se uma grande anemia nos deveres. O motivo pode estar associado ao facto de que os deveres, por serem responsáveis pelos calos que adquirimos, serem pontapeados pela ociosidade.
Por um lado, a cultura do trabalho deu lugar à indolência. E se os atestados médicos continuarem a ser o único meio de prova para justificar as faltas, poderá ser criado no país um estatuto de cidadão depressivo, preguiçoso, molengão, etc., como acontece nalguns países do “Velho Continente”. Porque somos mais velozes à pieguice, não tardará quem culpará o governo pela frustração pessoal, agigantando a estatística de pedintes nas ruas.
Por outro, há gente no país que tem mais do que uma sinecura, esbanjando à tripa-forra aquilo que para muitos trabalhadores de baixa renda até mesmos os andrajosos, seria um remédio santo para amainar os duros golpes da miséria. Isto não acontece no país, porque, como dizia o meu saudoso amigo Professor José Hermano Saraiva “a bondade é algo que nos dias de hoje perdeu a cotação”. Não é a pátria que está doente, é a sociedade que perdeu leme. Sabe-se de cor a letra de uma música estrangeira e capítulo de uma novela do que os 10 mandamentos de Cristo ou a letra do Hino Nacional.
Sobre as incongruências, duas realidades podem confirmar as minhas hipóteses.
A primeira: Alguém disse-me um dia e com razão que, para quem vive distante de Maputo, obter o bilhete de identidade é o mesmo que tentar tirar leite de uma pedra. O que era difícil caminha para o impossível. Perde-se dias e precioso tempo debaixo de um sol escaldante e de uma chuva torrente que às vezes carrega em suas asas um frio de rachar, para conseguir um lugar cimeiro numa fila que tem comprimento igual a da Muralha da China.
Para o espanto do utente, quando consegue, milagrosamente, entregar o expediente aos serviços de identificação civil, vai se habituando com a seguinte resposta: “o seu documento ainda não saiu”. Espera-se mais do que o tempo de validade do próprio documento. Cansado de esperar, o utente retoma à peregrinação com prejuízos irreparáveis, havendo até quem perde a vida aguardando por um direito que lhe assiste.
Em contrapartida, assistimos a olho nu casos de estrangeiros ilegais que adquirem, a troco de dinheiro, o bilhete de identidade e a nacionalidade moçambicana. O mais agravante, os órgãos de informação e comunicação já revelaram alguns locais onde funcionários públicos que juraram fidelidade à pátria, depositam toda a energia destruindo à nação moçambicana, sem que as autoridades tomem medidas enérgicas para estacar o mal. Num ápice de estalar os dedos, um cangaceiro de fronteira, ido do Corno de África e/ou do Oriente Médio ganha o tradicional e cultural apelido de Mapanzene, Salicuchepa, Mapulango, Chizonde, Manjate, Faindane, etc. Está-se mesmo a ver a jogada: é tudo candonga.
A segunda: Temos sérios problemas de representação da cor nas Forças Armadas e Segurança de Moçambique. Não cabem nas minhas duas mãos as cores que fazem o arco iris na vida militar, nos diversos ramos da polícia, nos bombeiros, etc. Não estão lá em percentagens aceitáveis os moçambicanos brancos, indianos, mestiços, canecos, etc., para que a unidade na diversidade seja uma realidade e não uma falácia. Não deve haver castas entre moçambicanos. De igual modo, não deve haver, por exemplo, gente de uma só cor nas casernas e outros nos negócios, até porque, “a competência não tem etnia, cor e raça”. É altura do Presidente Filipe Nyusi inverter este cenário que incomoda a muitos, mas que tem sido congelado.
Zicomo (Obrigado).
P.S.: Penso que é de domínio de todos que os pronunciamentos do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, preocupam sobremaneira ao governo. É verdade que estamos habituados a ouvi-lo, às vezes dando ultimatos ao governo, outras, ameaçando dividir ou arder o país. É próprio da senilidade de alguns políticos que optam por entreter a multidão que os assiste em aplausos que aguçam o apetite do ódio entre moçambicanos. O que mais me preocupa não é a materialização destas ameaças nem os adeptos que esses pronunciamentos fazem, mas sim a complacência dos órgãos de informação que preferem condenar a propaganda do Estado Islâmico e não as de Afonso Dhlakama. Que grande incongruência!!!
WAMPHULA FAX – 02.02.2015
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