segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Vitória do Syriza na Grécia promete grandes apuros para toda a UE

Ontem, 17:23

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Foto de arquivo. Alexis Tsipras, líder da Syriza

A vitória convincente obtida pela coalizão de esquerda radical Syriza nas eleições legislativas antecipadas da Grécia origina uma situação completamente nova não só no país mas também em toda a União Europeia. É a primeira vez na história da UE que o poder em um dos seus Estados-membros é assumido por eurocépticos. Por conseguinte, Bruxelas já não será capaz de gerir a União Europeia nem a zona do euro à maneira antiga.

A julgar pelos números mais recentes, a coalizão Syriza por pouco não ganhou maioria absoluta no parlamento, obtendo 149 dos 151 mandatos necessários para tal. No entanto, isso já é o mais importante. Conforme reconhecem os peritos tanto gregos quanto estrangeiros, o Syriza poderá formar uma coalizão com um dos partidos pequenos, o mais provável com o partido dos Gregos Independentes, com posições similares em relação à UE, que obteve cerca de 5% dos votos.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, já parabenizou o líder da coligação Syriza, Alexis Tsipras, pela vitória eleitoral. De acordo com o serviço de imprensa presidencial, o chefe do Estado russo "expressou confiança de que a Rússia e a Grécia vão continuar aumentando a cooperação tradicionalmente construtiva em todas as áreas e interagindo de forma eficaz na resolução dos problemas candentes da atualidade europeia e mundial".
No que respeita à União Europeia, esta vai enfrentar tempos difíceis por causa da Grécia. O que importa à liderança da UE não é a filiação partidária da nova coalizão mas sim o cumprimento por essa dos compromissos anteriores, particularmente os relativos ao serviço dos empréstimos, que totalizam 240 bilhões de euros. E neste tema, as perspectivas aparentam ser bastante tristes para Bruxelas.
Alexis Tsipras já disse que irá exigir que pelo menos metade da dívida externa da Grécia esteja imediatamente perdoada, o que equivale a 318 bilhões de euros, ou seja, é maior do que o pacote de créditos concedido pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e FMI. Além disso, Tsipras prometeu aos seus compatriotas que rejeitaria as medidas de austeridade e aumentaria o salário mínimo e as pensões para os cidadãos de baixa renda.
Embora tais declarações devam ser vistas, por enquanto, mais como um tributo à retórica eleitoral e uma espécie de "declaração de intenções", de qualquer forma a partir daqui a União Europeia terá de interagir com uma Grécia muito diferente e em uma situação alterada na zona do euro.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi o primeiro entre os líderes europeus a comentar os resultados das eleições, dizendo que a vitória da coalizão Syriza vai "fortalecer a incerteza econômica na Europa toda". De acordo com fontes em Bruxelas, a implementação de medidas anticrise tem sido questionada não só na Grécia mas também em outros "países críticos" da zona do euro.
Assim, em Espanha, onde as eleições legislativas serão realizadas em dezembro, um homólogo local do Syriza, o partido de esquerda radical Podemos, criado apenas em 2014, está ganhando rapidamente popularidade.
De acordo com os dados publicados em novembro pelo jornal espanhol El País, 22,2% dos entrevistados já estão prontos para votar pelo Podemos, 13,1% apoiam os socialistas e 10,4% o governista Partido Popular.
O secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, afirmou em um comício em Valência, convocado hoje por ocasião da vitória dos seus correligionários gregos: "Começa a esperança, termina o medo. Syriza, Podemos, nós venceremos!"
Se um "efeito dominó" gerado na Grécia atingir outros países da União Europeia, esta, possivelmente, não estará em condições de resistir, pelo menos na área financeira, acredita Boris Rubtsov, professor da Academia da Fazenda russa, entrevistado pela rádio Sputnik:
"Em relação à Grécia, tudo é mais que claro. Mas, para lidar com a Espanha, a União Europeia simplesmente não terá tantas forças e muito menos se, ao mesmo tempo, surgirem problemas com a Itália. Se o desenvolvimento da situação seguir o mais negativo dos cenários, a UE e a zona do euro encararão grandes dificuldades".
O triunfo dos eurocépticos na Grécia aconteceu alguns dias depois de o BCE ter anunciado o seu programa anticrise mais ambicioso para resgatar a dívida pública e privada, já apelidado do gêmeo europeu do programa de "flexibilização quantitativa" norte-americano. Com duração de 18 meses, este programa começa em março, prevendo alocar 60 bilhões de euros mensais. A evolução da situação na Grécia será o primeiro teste, e muito sério, para o referido programa e os seus autores.

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