O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, apontou a capital da província de Nampula como a possível sede da "região autónoma de Moçambique", que ameaça criar no centro e no norte do país, noticia hoje a imprensa local.
Discursando durante um comício em Nampula, capital da província com o mesmo nome, o líder da Renamo salientou que foram nesta cidade "traçadas as estratégias que ditaram a revolução que o país conheceu nos últimos anos", avança o diário O País, editado em Maputo.
Consubstanciada numa crise político-militar que atingiu a região centro de Moçambique durante 17 meses, a "revolução" provocou um número indeterminado de mortos e de feridos, entre os quais civis, encontrando-se suspensa desde setembro do ano passado, por via de uma acordo de cessação de hostilidades, cuja rúbrica sobre a desmilitarização do braço armado do partido se mantém por concluir.
A Renamo, que não reconhece os resultados eleitorais das eleições de 15 de Outubro, alegando que foram falseados, insistiu na criação da república autónoma do centro e do norte, o que permitiria ao partido governar nas províncias em que Afonso Dhlakama obteve mais votos do que o actual Presidente, Filipe Nyusi.
Tal como a proposta de criação de um governo de gestão formado pela Renamo e pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, a "república autónoma de Moçambique" é também rejeitada pelo actual executivo, assim como pelo partido pelo qual foi eleito.
Hoje, em declarações à estatal Rádio Moçambique, o secretário-geral da Frelimo voltou a rejeitar a possibilidade desta ideia vir a ser concretizada.
"Vou tranquilizar aqueles que votaram em nós: embora tenha havido roubo [fraude eleitoral], desta vez também vamos poder governar. Se for necessário, vamos criar a região autónoma, inclusive em Nampula", declarou o líder da Renamo, citado hoje pelo diário O País.
Em declarações à agência Lusa, no sábado, dia em que terminava o prazo de um ultimato da Renamo ao actual executivo no sentido da criação do governo de gestão, Afonso Dhlakama afirmou que o seu partido ia deixar cair esta proposta e avançar com a da república autónoma.
"Ganhámos, apesar de ter existido fraude em Sofala, Manica Tete, Nampula, Zambézia e Niassa, que vão perfazer uma região autónoma", sublinhou o presidente da Renamo, sustentando que esta medida "não fere a Constituição" e enquadra-se na descentralização da administração do Estado.
Embora sem discutirem os temas "governo de gestão" e "república autónoma", as delegações negociais do Governo e da Renamo reuniram-se na segunda-feira em Maputo, para dar seguimento ao acordo de cessação de hostilidades, cuja implementação se encontra suspensa.
Filipe Nyusi manteve à frente das negociações a equipa governamental do anterior executivo de Armando Guebuza, designadamente o antigo ministro dos Transportes e Comunicações, Gabriel Muthisse, e o ministro da Agricultura, José Pacheco, que transitou para o novo Governo.
No final da 91.ª ronda negocial, José Pacheco referiu que a Renamo procura recuperar a discussão da paridade nos órgãos de chefia das forças policiais e militares, atrasando o processo de integração do braço armado do partido.
Por sua vez, o chefe da delegação da Renamo, Saimone Macuaine, acusou o Governo de promover movimentações do exército na região centro, considerando que esta acção viola o acordo de cessação de hostilidades.
Lusa – 27.01.2015
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