Não queremos “rádio das mil colinas” em Maputo
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
AIM, STV, “Notícias”, refreiem os vossos ânimos.
Moçambique não se pode dar ao luxo de dar primazia aos promotores da intolerância. Não é porque o coronel Sérgio Viera e os seus apaniguados têm problemas em entender que os partidos políticos da oposição em Moçambique são antes de tudo moçambicanos que se deve dar primazia à sua opinião.
Os medos e receios que tiram sono ao “coronel do GPZ” não são chamados a influir no curso normal de construção de um Moçambique tolerante, pacífico e justo. Antes de perguntar pelas contas da Renamo, alegadamente controladas por Afonso Dhlakama, Sérgio Viera deveria prestar contas no Parlamento sobre a sua gestão nos ministérios por onde passou e no GPZ.
Se SV tem insónias por actos ou omissões do seu passado, deveria consultar um especialista em psicanálise ou outro especialista daquele foro.
É perigoso dar cobertura a esquemas de propaganda reducionista executada por cultores de uma maneira de estar elitista, corrosiva e destrutiva.
Quando a AIM mente nos seus despachos, afecta a estabilidade nacional e o anseio geral dos moçambicanos de viverem em país com paz efectiva e democracia.
Moçambique teve dois conflitos que configuram guerra civil por causa de razões várias e de contextos específicos. Uns defendem que foram guerras de desestabilização, e outros que se tratou efectivamente de guerra civil. Mas, no fim, foram largos milhares de inocentes mortos.
Na essência, o que tem predominado tem sido a relutância de admitir e aceitar que não há moçambicanos especiais.
O advento da Independência trouxe uma vaga de teorias socializantes que reduziam os moçambicanos em “camaradas e reaccionários”.
A liderança do movimento anticolonial, a Frelimo apropriou-se do país e dos moçambicanos sem nunca se ter preocupado em promover a construção de uma moçambicanidade inclusiva. Era o poder do partido único que contava, e os “camaradas” do comité central e do comité executivo tinham a prerrogativa do poder de decisão da vida e da morte.
Embora se tenham registado avanços na esfera política, sempre que se pretende dar um passo em frente na consolidação das instituições democráticas, há uma barreira legalista que o impede.
Esgotados os recursos habituais de fraude eleitoral indiscriminada e generalizada pelo aperto que a oposição política conseguiu realizar em Outubro, o recurso escolhido foi uma célula do partido Frelimo chamada Conselho Constitucional para homologar resultados falsos.
E, na esteira disso, como forma de legitimar um executivo e parlamento indevidos, montou-se uma máquina de propaganda a todo o vapor.
Não é por acaso que se escolhe para grandes entrevistas pessoas como o saudosista coronel Sérgio Viera. A STV sabe muito bem sobre o potencial de instabilidade existente e que a Renamo está reagindo e demonstrando uma capacidade antes não conhecida de pressionar politicamente.
Uma aliança estratégica entre as alas da Frelimo tem de recorrer a qualquer artifício para dar como concluída a farsa eleitoral e os seus resultados. E aí não nos devemos admirar que surjam mais “Damiões”, já que o “Macuácua dos imperativos” está de férias forçadas.
Quando Paul Fauvet e Sérgio Viera, cada um em seu órgão de comunicação social, quase que em sintonia, apresentam as suas versões dos factos, bem longe daquilo que é a percepção da maioria dos moçambicanos, estão prestando um serviço específico para o regime do dia. Um continua na saga de denegrir uma Renamo que mostrou sem dúvidas a sua capacidade de resposta política e militar. Outro procura dizer que Afonso Dhlakama é um “mentiroso sistemático” ao anunciar encontros da Renamo com o Governo que supostamente não se realizariam ou se realizaram.
Se SV é visceralmente oposto à Renamo e ao seu líder é já sabido. Agora que Paul Fauvet venha utilizar a AIM para difundir mentiras é outra coisa, porque aquele órgão é publico.
A criação do G40 de triste memória não cumpriu os seus objectivos e deve somar-se a outras derrotas nos últimos anos.
Urge conseguir a despartidarização dos órgãos de comunicação social públicos e privados.
Não queremos uma rádio das “mil colinas” em Maputo.
Não queremos um jornal das “mil colinas” em Maputo.
Não queremos uma televisão das “mil colinas” em Maputo.
Ninguém se esqueça que o genocídio do Ruanda foi preparado e teve na Rádio das Mil Colinas o seu meio principal de difusão informativa, incentivando ódios e vinganças.
Os moçambicanos não são “camaradas nem reaccionários”, mas sim moçambicanos.
Não queremos listas de “moderados a abater” ou qualquer outro tipo de lista de cidadãos, por não comungarem com isto ou aquilo.
O lucro, a audiência televisiva, a venda de jornais não pode servir de veículo para a instigação de violência, de guerras em nome de uma suposta pureza ideológica.
Comunicadores sociais cativos nos jornais e televisões da praça devem crescer à medida das aspirações dos moçambicanos.
Os direitos políticos e económicos estão inscritos na lei-mãe e devem ser respeitados.
Ninguém é obrigado a gostar de AMMD ou SV ou AEG ou JAC ou de DS.
Tendências políticas e liberdade de expressão são protegidos pela lei, mas isso não significa autorização para mentir e caluniar.
A última “grande entrevista” de Sérgio Viera à STV constitui um mau serviço ao país e aos moçambicanos, ao dar oportunidade a alguém com responsabilidades históricas inalienáveis de “mentir com os dentes todos”.
Ninguém está contra a linha editorial da SOICO, mas é de recomendar que os seus editores e proprietários sigam uma via que tenha em conta os reais interesses dos moçambicanos no que se refere à paz, estabilidade e democracia.
Com democracia também se ganha lucros.
Bazuqueiros e artilheiros do regime, não tenham medo da mudança, porque ninguém vos irá perseguir.
Lisboa não vai voltar.
Moscovo e Pequim também não voltarão a impor-se como mandantes do modelo político-económico seguido em Moçambique.
Se alguém tem saudades do partido único, que emigre para a Coreia do Norte, porque uma viagem a Cuba já não vai proporcionar gozar as regalias asseguradas a coronéis e integrantes do aparelho securitário.
Como tudo na vida, existem limites. Defender o indefensável também tem os seus limites.
Puros e puritanos, nem os “jesuítas” o são. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 26.01.2015
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