Cinco anos de atraso
24.01.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
1 Vem tarde. Com pelo menos cinco anos de atraso - em 2010, Durão Barroso, então presidente da Comissão, defendeu como pôde (e pôde pouco) uma solução assim. Quem a seguiu nessa altura foram os Estados Unidos e, como se sabe, saíram mais cedo da crise. Nada é por acaso. Vem tarde, mas mais vale tarde do que nunca. A decisão do Banco Central Europeu de injetar 60 mil milhões de euros na economia europeia é sempre uma boa notícia. Para um continente a cair na inflação negativa, com um crescimento a roçar a amargura e a precisar de estímulos para fazer face à perda sustentada de competitividade. Mas é sobretudo uma boa ideia pelo que pode fazer pela reabilitação civilizacional da Europa, a qual perdeu valor neste período de políticas de austeridade duríssimas impostas aos seus cidadãos. Os resultados trágicos estão à vista.
Falta, claro, saber como irá reagir a banca e perceber se o dinheiro servirá apenas para equilibrar os seus níveis de endividamento ou se haverá efetivamente financiamento às empresas e às famílias. Mas isso são outros quinhentos.
É uma boa notícia, também, para os países periféricos que seguiram cegamente as diretivas alemãs, uma vez que lhes resolve para os próximos anos a questão da dívida externa. Mesmo para o Governo português, que acompanhou e defendeu esta política, mas que - enquanto António Costa teima em guardar para si uma ideia de país e se deixa enredar na discussão das presidenciais - pode agora erguer a bandeira de merecer um voto de confiança depois de ter tratado das más contas.
2 Seria injusto não recordar que as medidas do BCE surgem no mesmo espaço temporal em que Cavaco Silva assinala os quatro anos do seu segundo e último mandato. O presidente da República pode reclamar que não secundou, neste aspeto, os mandamentos do Governo. E que desde cedo se fez ouvir sobre a necessidade de uma intervenção mais ativa e previsível do Banco Central Europeu no mercado secundário da dívida pública dos países que enfrentam problemas de liquidez.
É também por isso que, goste-se ou não, Cavaco Silva é um dos mais influentes políticos portugueses dos últimos 40 anos. Por isso continuará a ter uma palavra, mesmo que pequenina, que não se esgotará na formação do Governo saído das próximas legislativas.
P.S.: A PT Portugal, como sonho da lusofonia, acabou. Será outra coisa, a partir de agora, talvez melhor, talvez pior, mas forçosamente diferente. A culpa do fim não é deste Governo, que podia ter tido uma palavra a dizer, nem dos anteriores. Não é dos brasileiros, que terão faltado ao compromisso, e muito menos da Altice, que apenas espreitou uma boa oportunidade de negócio e que não quererá deitar fora um investimento de 7,4 mil milhões de euros. É, sim, de quem, no conluio das relações em cadeia, não cuidou de um património empresarial sem paralelo no país. Mas essa história ainda só foi contada pela rama.
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