quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Acentua-se hipótese de convulsões sociais em Angola


FACE À PRONUNCIADA QUEDA DOS PREÇOS DO PETRÓLEO
Ø Em locais de Luanda sujeitos a acções de vigilância apertada, foi recentemente afixado um panfleto considerado particularmente ameaçador em relação aos “dirigentes”. Estão a vulgarizar-se, em locais públicos, manifestações individuais de protesto e desconfiança em relação ao Governo.
Ø Para os próximos dias é esperada uma remodelação do Governo, calculada para demonstrar vitali­dade e confiança na decisão de enfrentar a crise.
XAVIER DE FIGUEIREDO *
A hipótese da ocorrência de convulsões sociais resul­tantes de uma prevista acen­tuação de descontentamentos gerados na população pelos efeitos negativos que a queda do preço do petróleo já está a ter nas suascondições de vida começou a ser admitida em meios de Intelligence que acompanham/analisam a situ­ação deAngola.
Dentro em breve o Governo terá de aprovar um novo orça­mento, destinado a substituir outro, aprovado em Dezem­bro de 2014, cujas contas se tornaram caducas por terem sido calculadas com base num preço referência do barril de petróleo, USD 80, já bastante aviltado; o petróleo representa cerca de 95% da receita das exportações.
De acordo com “percep­ções” correntes nos referidos meios de Intelligence, se o novo orçamento, como se espera, acarretar cortes de despesas sociais e agrava­mentos de preços de produtos básicos, estes por fim de sub­sidiações do Estado, o risco de se registarem reacções populares capazes de escapar ao controlo das autoridades é grande.
Entre os factores conside­rados predisponentes de um tal cenário são especialmente apontados os seguintes:
- Estão a aumentar e a ad­quirir ousadia sentimentos de descontentamento e menos­prezo em relação ao Governo notados da população;
- A autoridade do Governo, outras instituições do Estado idem, aparenta ter esmorecido por reflexo de reacções inter­nas de embaraço, perplexidade e incerteza face à situação.
2 . Os sentimentos de des­contentamento ora identifica­dos na população de Luanda, considerados mais nítidos do que antes, estão especialmen­te relacionados com aumentos de preços – reais ou tenden­ciais:
- Os combustíveis e outros bens essenciais de consumo aumentaram ou estão a au­mentar, por vezes em con­dições consideradas oportu­nísticas.
- Há um ambiente de expectativas negativas de novos aumentos, que o Governo atribuirá à crise como forma de se redimir.
Em locais de Luanda su­jeitos a acções de vigilância apertada, foi recentemente afixado um panfleto considera­do particularmente ameaçador em relação aos “dirigentes”. Estão a vulgarizar-se, em locais públicos, manifesta­ções individuais de protesto e desconfiança em relação ao Governo.
3. O embaraço que o Gover­no deixa transparecer, também visto como fulcro de fenóme­nos de enfraquecimento e isolamento, é em larga escala devido a duas consequências da presente emergência:
- O sistema económico vi­gente, baseado no recurso do petróleo, entrou em falência; considera-se que o Governo, tendo condições para alterar o sistema, não o fez.
- Aparentemente o país não dispõe de reservas financei­ras para enfrentar a situação criada; sob a forma de fundos, foram alegadamente constituí­das reservas resultantes de ex­cedentes da receita petrolífera.
- A diversificação da econo­mia requer tempo e recursos cuja grandeza não permite apresentá-la como solução pronta para os problemas actuais.
De acordo com rumores con­siderados “não descabidos”, o mais recente pagamento de salários dos funcionários do Estado foi garantido com o recurso a fundos da reserva estratégica do BNA – algo com que o anterior governador, José Massano, não teria con­cordado, acelerando-se assim a sua demissão.
Na atitude do Governo e do regime face à especial delica­deza da actual situação, con­tinuam a ser notados esforços tendentes a manter a coesão interna, cativar a oposição e a sociedade civil e evitar o iso­lamento externo – objectivos considerados necessários para mobilizar o apoio da po­pulação.
Para os próximos dias é esperada uma remodelação do Governo, calculada para demonstrar vitalidade e con­fiança na decisão de enfrentar a crise. Carlos Feijó, um qua­dro especialmente competente e prestigiado, regressa ao Governo, agora na qualidade de ministro de Estado para a Coordenação Económica e Reforma do Estado.
in Africa Monitor Intelli­gence
CORREIO DA MANHÃ – 29.01.2015

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