quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Para a Comunidade Internacional, vale uma Frelimo corrupta que uma Renamo séria

Por Jose Carlos Cruz 

Sr Ex-Guerrilheiro, a Renamo em 1992 já tinha cercado todas as cidades capitais provinciais. 
A cidade de Maputo estava cercada, a Matola, a Machava e a Catembe já tinham unidades da Renamo escondidas à espera do ataque final. As unidades industriais nestas cidades satélites estavam todas paralisadas. 
A Cimoque, uma cerâmica a 1 Km da ponte do Rio Matola, uma das últimas indústrias a funcionar em tempo de guerra, já tinha sido atacada e paralisada desde 1988.
Toda a população sabia que o fim da Frelimo estava à vista. 
A Frelimo não podia atacar a Renamo com meios aéreos, nem mesmo com mísseis terra terra, porque os guerrilheiros estavam dentro dos bairros periféricos das cidades, disfarçados de população civil e armas em esconderijos.
O General Mabote foi acusado de tentativa de golpe de Estado fazendo uso de mísseis, a sua arma por especialização.
No fim do julgamento ele ridicularizou a acusação, explicando que se ele tivesse usado mísseis em Maputo para tomar o poder, tudo ficaria destruído e ele não teria nada para governar.
Portanto, a situação em 1992 era a de iminência dum grande massacre nas cidades em Moçambique. Foi neste momento que a comunidade internacional apareceu a convencer a Renamo e a Frelimo a acordarem a paz. Para isto a comunidade internacional teve que convencer Dhlakama que tinha uma forte probabilidade de ganhar o poder pela via das eleições - exactamente o seu grande sonho.
Todos sabemos o que aconteceu. Dhlakama foi enganado, não pela Frelimo, que não engana ninguém, mas pela comunidade internacional. No momento crítico, quando os resultados das eleições eram claramente a favor da Renamo e Dhlakama, a Frelimo e Chissano dão o golpe e declaram-se vencedores. 
Os observadores internacionais, para grande espanto de todos, prontamente declararam as eleições livres, justas e transparentes, apesar das irregularidades, e os governos ocidentais reconheceram de imediato a vitória da Frelimo e Chissano.
Ao grito de Dhlakama "fomos traídos" os governos ocidentais responderamm com apoio financeiro à Frelimo. 
Infelizmente, até agora, a comunidade internacional continua sempre pronta a trair a Renamo, embora isto pareça absurdo, porque a Renamo é precisamente o partido cuja cultura e ideologia que mais se assemelha à democracia ocidental. E nem mais, nas presentes eleições estamos a ver Portugal, França, Itália e a Comissão Europeia a felicitarem a Frelimo e Nyusi pela sua vitória, o que é grave, porque o trabalho de apuramento ainda não acabou. 
É evidente que o que está em causa são os interesses da comunidade internacional. Com efeito, para os grandes investidores estrangeiros, o petróleo, o carvão, o gás natural, as areias pesadas, a energia elétrica, o alumínio e as madeiras preciosas já estão garantidas pela Frelimo. Para quê mudar de regime? Então, daí que alimentem a Frelimo para continuar a governar e ao mesmo tempo invistam na contenção da Renamo para que CONTINUE na oposição.
Para se compreender melhor esta problemática, basta referir que para a comunidade internacional é melhor Moçambique ter um governo dócil e corrupto, mas oposto por partidos AMIGOS e duros COMO a Renamo e o MDM para fiscalizarem os dinheiros estrangeiros nas mãos dos frelimistas, que o contrário, isto é, com uma Renamo a governar, que é amiga, fiscalizada pela Frelimo, que é corrupta! Posto desta maneira, compreende-se a lógica da comunidade internacional.
Portanto, meu caro Ex-Guerrilheiro, não vale a pena estarmos aqui a culpar pessoas pela situação política de Moçambique. Nada disto depende de Dhlakama, por muito corajoso que seja, inteligente, forte, incorruptível, amado pelo povo, apoiado por todos amigos e amigos entre os inimigos, enfim, por muito forte que seja a Renamo e por muito fraca que seja a Frelimo.
A resposta a tudo isto pode ser dada pela análise das relações internacionais e geopolítica da região. A estrutura da distribuição do poder e das forças ARMADAS no sul de África não vai ser alterada tão depressa. Não é do interesse da economia mundial. A Renamo não vai conseguir tomar o poder em Moçambique à força sem desencadear uma chacina em toda a região. Os processos na região não favorecem esta revolução de imediato, como parece favorecer no norte de África e países árabes. 
Pelo contrário, o que temos visto é processos de transição pacífica do poder político em países como o Malawi e a Zâmbia, o que nos encoraja.
Daí que na Renamo, e mesmo em muitos círculos internos da Frelimo, se esteja a estudar formas de se chegar a consensos políticos sem revoluções explosivas. 

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2014/11/stv-dhlakama-na-cidade-da-beira-25112014video.html

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