sábado, 1 de novembro de 2014

Guarda-costas de Fidel diz que Cuba queria controlar recursos em Angola


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Lisboa - Ex-guarda-costas de Fidel revela, em livro de memórias, segredos inconfessáveis do "comandante", desde a forma como se apropriou de recursos angolanos até ao modo como comandava as tropas à distância,
Fonte: Observador
Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro, que revela num livro o alegado envolvimento do líder histórico cubano no tráfico de droga, disse à Lusa que Havana queria controlar os recursos naturais em Angola.
“Fidel Castro queria mais de Angola. Fidel Castro dizia que ia levar de Angola apenas os mortos, mas não foi assim. Eu vi no gabinete de Fidel Castro uma caixa de tabaco repleta de diamantes. Não eram diamantes grandes, eram diamantes pequenos, mas a caixa estava cheia”, relatou.
“Fidel, através do seu ajudante José Naranjo e do secretário Chomy, mandou vender esses diamantes e depositar o dinheiro nas suas contas bancárias fora de Cuba”, disse à Lusa o homem que foi guarda-costas do Presidente cubano durante 17 anos.
As memórias do elemento do círculo de segurança mais próximo da cúpula do regime cubano é autor do livro “A Face Oculta de Fidel Castro” que vai ser lançado em Portugal na quarta-feira e que inclui não apenas questões internas de Cuba, mas também o envolvimento de Havana na guerra em Angola, sobretudo a “Operação Carlota” em 1975 e a batalha do Cuíto Cuanavale, no final dos anos 1980.
“Eu tenho informações e além do mais vi. Fidel tinha outra ideia com Angola. Essa ideia sobre o internacionalismo proletário; essa ideia de ajudar os irmãos africanos; essa ideia de ajuda entre os povos é propaganda. É um mito”, sublinhou, referindo-se ao envolvimento de Cuba com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
“Fidel Castro não queria apenas o petróleo, mas também outros recursos naturais de Angola. Queria ir buscar mais depois da guerra, mas o que aconteceu foi que o aliado incondicional – Agostinho Neto – morre e José Eduardo dos Santos não lhe deu essa possibilidade”, explicou Juan Reinaldo Sánchez.
Segundo o guarda-costas, que vive atualmente exilado nos Estados Unidos, as primeiras “contrariedades” entre o chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, e Fidel Castro dão-se nas conversações de paz após a batalha do Cuíto Cuanavale.
“José Eduardo dos Santos faz tudo nas costas de Fidel Castro que se indigna e manda vir um representante do Bureau Político de Angola a Havana e queixa-se. Começam os problemas com José Eduardo dos Santos. Uma coisa é a política e as fotografias e outra coisa é o que vem do interior das relações”, afirmou.
Sanchéz, 65 anos, começou a ser “vigiado” porque a família abandona Cuba e é finalmente detido após ter pedido a reforma, em 1994.
Consegue abandonar o país em 2008 a bordo de uma balsa em direção à costa mexicana, onde iniciou o exílio e recordou que começou a ficar “profundamente desiludido” com o líder histórico cubano depois de se ter apercebido de que Fidel coordenava uma rede de tráfico de droga.
“Fidel era o meu deus. Não era o homem pelo qual estava preparado a dar a minha vida, mas muito mais: no fundo estava inclusivamente desejoso de dar a minha vida por Fidel mas um dia ouço uma conversa entre o ministro do Interior, José Abrantes, e o presidente, em que me dou conta que Fidel está a dirigir tudo. Fiquei em choque. Senti-me utilizado, enganado porque afinal eu estava a tomar conta de um narcotraficante”, acusou Sánchez.
O autor do livro recordou que, até essa altura, Fidel Castro dizia que as acusações eram uma “manobra do imperialismo” e que Cuba era o país que tinha menos problemas de droga de todo o continente.
“Afinal quem dirigia o tráfico era Fidel. Para financiamento da revolução e para ele mesmo, para proveito pessoal para as suas contas no exterior”, afirmou.
Para Sánchez, a revolução cubana é um fracasso porque “do ponto de vista económico” abraçou uma causa que falhou no mundo inteiro, considerando que o “caso chinês é uma mistura” que não pode ser relacionada com os fundamentos originais do socialismo.
“Na China, o partido comunista exerce poder sobre a população e sobre o Estado mas na economia é capitalista. Na América Latina, a partir de Hugo Chávez, na Venezuela, querem chamar-lhe ‘socialismo do seculo XXI’ mas isto assim não é socialismo”, disse.
Juan Reinaldo Sánchez acompanha a situação em Cuba a partir de Miami, nos Estados Unidos, mas não acredita em mudanças em Havana até porque a oposição e os dissidentes não estão organizados.
“O terror do governo cubano é que haja unidade na dissidência”, conclui o antigo guarda-costas de Fidel Castro.
A guerra comandada a partir de Havana
No livro “A Face Oculta de Fidel Castro” o antigo guarda-costas do líder histórico cubano relata também as incompatibilidades com o general Ochoa, que um mês depois de ter sido criticado pelo curso da guerra em Angola acaba fuzilado.
“No Palácio ou no ‘war room’ ouvi Fidel fazer a Raúl Castro observações do tipo: ‘o Ochoa está a dar sinais de incapacidade’, o ‘Ochoa não se apercebe da realidade’, ou ainda ‘Ochoa já não tem os pés na terra’”, relatou Juan Reinaldo Sanchéz, que vive exilado em Miami, Estados Unidos.
Herói da Revolução cubana, membro destacado da resistência contra Fulgêncio Batista, além de ter participado com Che Guevara na formação de grupos de guerrilha no Congo e mais tarde na Venezuela, Ochoa foi um elemento essencial no envio de tropas cubanas para Angola em 1975, comandou as forças expedicionárias na Etiópia em 1977-1978 e foi, a mando de Fidel, conselheiro especial do ministro da Defesa da Nicarágua.
Após dois grandes desastres militares soviéticos em Angola, Ochoa é enviado para o terreno, onde participa na batalha do Cuito Cuanavale, contrariando muitas vezes as ordens diretas do próprio chefe de Estado cubano.
Em janeiro de 1988, em plena batalha do Cuito Cuanavale, o general Ochoa, caído em desgraça, é chamado a Havana, tendo sido fuzilado um mês de depois, acusado de tráfico de droga.
Segundo o autor do livro, Ochoa acaba por ser o bode expiatório daquilo que poderia transformar-se num escândalo com proporções internacionais e que envolvia o próprio Fidel Castro em esquemas de tráfico de droga como meio de financiamento da revolução.
O livro que dedica um capítulo à participação de Cuba na guerra em Angola não deixa de notar as capacidades militares de Fidel.
“O feito é extraordinário, pelo que merece ser sublinhado: durante toda a guerra, Fidel dirigiu as operações militares a partir de Havana, quase do outro lado do mundo. Era vê-lo entregue ao trabalho, o estratego no ‘war room’, rodeado de mapas do Estado-Maior e de maquetas de campos de batalha” recordou o antigo guarda-costas do presidente sobre os meses em que se travou uma das mais importantes batalhas travadas no continente africano.
Em Cuito Cuanavale, Angola, registou-se o confronto final “entre Cuba e a África do Sul” durante seis meses, de setembro de 1987 a março de 1988, resultando num impasse em que ambas as partes reivindicam a vitória mas os sul-africanos admitiram que jamais derrubariam “o governo marxista” militarmente.
“Aceitaram negociar a paz nos seguintes termos: Fidel repatriaria o seu exército para Cuba, sob a condição de que o South African Defense Force (SADF) deixasse a Namíbia e outorgasse a independência total àquela ex-colónia alemã que desde 1945 se encontrava sob protetorado sul-africano”, recordou Sánchez.
Pouco depois, é proclamada a independência da Namíbia e na “mesma época o regime racista de Pretória” foi levado a fazer outras concessões, como a libertação de Nelson Mandela. “Três anos mais tarde, Nelson Mandela declarou: ‘Cuito Cuanavale pôs fim ao mito da invencibilidade do opressor branco. Foi uma vitória para toda a África”, recordou Sánchez.
O guarda-costas de Fidel Castro referiu-se ainda à “Operação Carlota”: a ponte aérea e marítima entre Havana e Luanda em 1975 a pedido de Agostinho Neto, que tinha conhecido Che Guevara dez anos antes no Congo.
No outono de 1975 na véspera da independência milhares de soldados cubanos estão já estacionados em Angola sem que Fidel tenha informado Moscovo das “grandes manobras” africanas. Em 1980, “após a morte natural de Agostinho Neto”, a situação complica-se com a invasão norte-americana de Granada onde são capturados 638 cubanos e depois em Angola, onde os sul-africanos relançam a ofensiva militar no sudeste do país.
“No terreno as baixas não param de aumentar. Decorridos dez anos do início do conflito, as mães cubanas vivem com um medo permanente”, escreveu Sánchez referindo que “ao todo” as baixas de Havana em Angola atingiram os 2.500 mortos.
No livro Sanchéz contou que assistiu às divergências entre cubanos e soviéticos sobre o curso da guerra e as críticas de Fidel contra as más decisões de Moscovo no teatro de operações.

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