sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Casa dos Estudantes Alfobre de patriotas

A Casa dos Estudantes Alfobre de patriotas

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Na Casa dos Estudantes do Império levou-se a cabo uma grande actividade a favor da promoção e difusão da cultura dos nossos países, sem subsídios, sem incentivos, sem apoio de doadores e ONG, sem dinheiros de fora, com os nossos próprios meios. Aí se fazia o precioso Boletim, editou-se a primeira colectânea de literatura das colónias elaborada por Mário de Andrade e Francisco José Tenreiro

Há cinquenta anos que o governo colonial-fascista em Portugal dissolveu a Casa dos Estudantes do Império –CEI–, por ele mesmo fundada em 1944 pelo então Ministro das Colónias, Marcello Caetano. Acontecera, que após a II Guerra Mundial uma primeira geração de angolanos, cabo-verdianos, guineenses (B), goeses e moçambicanos, são-tomenses se apossaram da CEI. Entre eles, e que me perdoem a memória por omitir outros, Agostinho Neto, Alda Espírito Santo,Amílcar Cabral, os irmãos Dáskalos, Eduardo Mondlane, Fernando Reis e Lima,Francisco José Tenreiro, Gualter Soares, João Mendes, Marcelino dos Santos, Mário António de Oliveira, Noémia de Sousa, Orlando Costa.
Ali na Duque de Ávila em Lisboa, no final dos anos cinquenta, eu e muitos outros nos iniciámos numa actividade política mais orientada, saindo da emoção para a análise e aprendizagem, onde com confiança, dialogávamos e colhíamos ensinamentos dos mais experimentados. Havia uma delegação da CEI em Coimbra e recordo- me de uma outra no Porto, ainda que em fase embrionária.
O Eneas Comiche poderá falar dela,pois que animou durante um certo período. Evocarei aqui alguns mais velhos que nos guiaram na Casa dos Estudantes do Império, o Gentil Viana, que nos deixou em 2008 no mesmo dia em que o Joaquim Pinto de Andrade, os saudosos amigos Gika, Fidélis Cabral, Daniel Chipenda, Carlos Ervedosa, Africano Neto e Pedro Gomes,Eduardo dos Santos (médico) e Américo Boavida, o Edmundo Rocha, Vasco Cabral, os felizmente ainda connosco irmãos Almeida, o Mário Afonso e o Luís, o Fernando Vaz, o Hélder Martins, o Videira, o Carlos Pestana Heinecken e o seu irmão Augusto, Costa Andrade, o José Júlio de Andrade, Guinapo, França Van Dunen, Manuel Araújo, os Mingas, incluindo o Rui assassinando pelos Nitistas, e tantos outros, todos combatente da luta de libertação e personalidades que nos seus países fizeram ou ainda fazem a História.
Quando entrei na CEI, o Fernando Vaz presidia. Quando o Governo a dissolveu estava o Óscar Monteiro como Vice-Presidente. Impuseram-nos numerosas comissões administrativas no intuito de nos quebrar. Quando o governo colonial-fascista se sentia incomodado destituía a direcção democraticamente eleita e nomeava funcionários –uma Comissão Administrativa — para pôr na ordem a CEI.
O Governo queria, numa tentativa de esconder o gato com o rabo de fora, que nos denominássemos Casa dos Estudantes do Ultramar. Com firmeza recusámos. Argumentávamos que havia uma seguradora Império sediada em Lisboa, um cinema a dois passos da CEI com o nome Império, um paquete Império, uma companhia de navegação Colonial, etc.
Em 1960, o Comissário Geral da Mocidade Portuguesa, Silva Cunha, nomeou mais uma comissão administrativa. A última por sinal, pois já em 63, ele dissolveu e extinguiu a CEI, como todas as associações estudantis. Na CEI realizamos uma reunião geral, dirigida pelo Hélder Martins que presidia a Assembleia-Geral (oficialmente dissolvida!). Decidimos resistir. Fizemos mensagens para o exterior de Portugal e um abaixo-assinado. Muitas centenas de estudantes das colónias assinaram o documento, incluindo alguns que podiam sofrer graves represálias, como o Mocumbi e o Chissano, que viviam no Lar da Mocidade Portuguesa, dirigido por Alberto João Jardim. Adriano Moreira, Ministro do Ultramar pôs termo à bacorada. Recebeu os dirigentes da CEI e das associações estudantis e da noite para o dia, mandou extinguir a Comissão Administrativa, após receber as direcções das Associações de Estudantes. Estive no encontro na minha qualidade de Secretário-Geral da RIA. Adriano Moreira, ironicamente, questionou sobre quem colonizava quem, pois constatava que os estudantes do Ultramar, a começar pelo Secretário-Geral da RIA, os Vice-Presidentes das Associações Académicas de Coimbra (Videira), Instituto Superior Técnico (Paulo Jorge), e muitos outros se encontravam nas direcções das Associações.
Na Casa dos Estudantes do Império levou-se a cabo uma grande actividade a favor da promoção e difusão da cultura dos nossos países, sem subsídios, sem incentivos, sem apoio de doadores e ONG, sem dinheiros de fora, com os nossos próprios meios. Aí se fazia o precioso Boletim, editou-se a primeira colectânea de literatura das colónias elaborada por Mário de Andrade e Francisco José Tenreiro.
O Alfredo Margarido, angolano, tal como o Luís Polanah, moçambicano, editaram antologias, a do Polanah Poetas de Moçambique, e pela primeira vez em livro se publicaram Craveirinha e Luandino, Dáskalos, Mário António e outros mais que a censura colonial-fascista desejava asfixiar. Nós mesmos dactilografávamos as ceras para a máquina GESTETNER, ciclostilávamos, fazíamos os cadernos, agrafávamos e vendíamos. Ninguém nos pagava por isso, nem tal nos passaria pela cabeça! Trabalhávamos pela noite a dentro para tornar conhecida a nossa riqueza. O Fernando Ganhão, Tomás Medeiros, Paulo Jorge e eu tornámo-nos então peritos no trabalho da reprografia, que muito nos viria a servir nos anos subsequentes.
Havia igualmente um lar da Casa dos Estudantes do Império onde muitos colegas se albergavam. Havia uma biblioteca excelente com obras literárias e científicas. Muitos colegas doavam as suas sebentas e livros ao terminarem os cursos. Jogava-se pingue-pongue damas e xadrez, o Paulo Jorge de Angola tornou-se campeão universitário de pingue-pongue. Fazíamos teatro, organizávamos recitais de poesia e realizávamos festas e bailes
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