A primeira semana de setembro começa com uma nova etapa da corrida eleitoral brasileira. A notícia que marcou o final de semana foi Marina Silva alcançando a posição de Dilma Rousseff. Agora, a batalha começa a ficar mais agitada, e os candidatos devem inventar algo para atrair mais votos.
De acordo com um leitor da Folha, “o crescimento de Marina Silva mostra que o povo quer mudanças e está cansado da tagarelice do PT”. A palavra-chave é mudanças. Se os habitantes do maior país do continente já se habituaram ao primeiro elenco de presidenciáveis, com Dilma sempre na liderança e afilhada política de Lula, a nova situação provocou certa redistribuição dos papéis nesta peça.
Primeiro, começaram as tentativas da presidente atual de se mostrar independente e atuar sem o patrocínio do presidente anterior, já um pouco pesado para a campanha em certos locais. O PT, por sua parte, parece que resolveu aproveitar e mandou os dois políticos conquistar várias regiões eleitorais.
Segundo, veio uma tragédia que de repente deu vantagem ao partido que estava no terceiro lugar das pesquisas. Da nomeação de Marina em vez de Eduardo Campos, quase não houve discussão. Era evidente, só com alguma incerteza quanto à Rede Sustentabilidade . Marina, com forte base ambientalista e com densa história brasileira, se mostrou forte dos primeiros momentos, dando energia quase inesperada ao PSB.
Deste modo, o candidato do PSDB, Aécio Neves, ocupou o terceiro lugar nas pesquisas, mostrando-se já como um candidato “auxiliar”.
A repartição dos papéis coincide com a recessão no país. Segundo certos peritos, a crise da confiança em Dilma e no PT deve-se em parte ao “Mineiraço” de julho. Não saberei dizer sobre isso, porque futebol e política são coisas distintas. Porém, Dilma, em um discurso na semana passada, ressaltou que “houve Copa”, não obstante críticas e protestos. Porém, o ministro da Economia, Guido Manteiga, afirmou que, no sentido econômico, não houve Copa. É a frase que o jornal El País usa comentando a reação do ministro, que disse que “houve feriados demais”. Um evento de futebol, no país do futebol, provocou um mês de festa, e não um mês de trabalho agitado.
Mulheres candidatas
Já notaram o aspecto mais interessante desta etapa da campanha? A batalha é entre duas mulheres, uma delas do Norte e negra. Talvez isso seja algo que traz maior vantagem ainda a Marina. O ambientalismo dela é visto pelos eleitores que teriam votado em Aécio ou Dilma por não enxergar outro candidato que lhes seja mais próximo e favorito (porque o eleitor do resto dos candidatos sabe bem que há muito poucas chances de subitamente ganharem 40% das intenções de voto) como algo intimamente ligado ao Brasil. O lema dela, “Não vamos desistir do Brasil”, parece se referir à perda nas eleições de 2010, então esta é sua segunda tentativa de conquistar o poder. Primeiro, tem que conquistar a confiança do povo.
União em vez de casamento e inovação com sotaque ecológico
Porém, Marina já deixou mostrar a sua parte vacilante ao “retificar” parte do seu programa sobre o casamento homossexual. A mídia sugere que ela o fez para não perder o apoio dos evangélicos. A própria Marina tinha afirmado, antes, que estava a favor dos direitos de homossexuais, mas não reconhecia direto o casamento entre pessoas do mesmo sexo como algo não natural. Agora, sejam os twitts do pastor Malafaia, seja algum outro acontecimento, algo a fez “recuar”.
É de notar o jogo de expressões, típico de disputas legais. No final de semana, foram tirados do programa a menção de “casamento civil igualitário” e o apelo a promulgar leis neste sentido, para facilitar a vida dos casais homossexuais. Em vez disso, agora consta a promessa de “Garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas do mesmo sexo”, sem apoio explícito a projetos de leis e emendas à Constituição. Malafaia, no domingo, saudou a correção, e os críticos acusavam a candidata de seguir o conselho do “porta-voz da homofobia”.
Outra correção, não menos importante, é a retirada do apoio formal aos estudos nucleares. A palavra nem consta no texto final, publicado no site de Marina. Pode ser a herança do ambientalismo, já que permanece ali a inovação agrícola, o biocombustível, a energia fotovoltaica e eólica e a repovoação das matas, assim como também o programa espacial brasileiro, com enfoque em “monitoramento ambiental por satélite” e o programa de veículos lançadores de satélites.
É interessante também que o programa de Marina une a ciência, tecnologia e inovação à educação e à cultura, áreas que no programa de Dilma são três. Porém, o site de Marina apresenta o texto completo, e o site de Dilma se centra na proposta de os internautas enviarem suas próprias ideias. O texto do programa de Dilma tenta manter a imagem positiva, saudando os comentários dos leitores (possíveis eleitores). Apresenta suas garantias em linhas breves. Já a tarefa do texto de Marina é apresentar uma candidata nova, que não é aquela que está terminando seu primeiro mandato. E o partido que a nomeou, não é o mesmo que está terminando o seu segundo mandato. Isto já é mudança para uma parte dos eleitores, que esperam algo novo.
Portanto, Dilma ainda tem tempo para se esforçar e inventar algo que convença os eleitores de que ela pode mudar o país de novo.
A opinião do autor pode não coincidir com a posição da redação.
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