quarta-feira, 16 de julho de 2014

Escritor Mia Couto apela para bom senso da ala da Renamo "que quer fazer política"

Escritor Mia Couto apela para bom senso da ala da Renamo "que quer fazer política"

O escritor Mia Couto apelou para o bom senso do "lado da Renamo que quer fazer política", alertando para a inconstitucionalidade do braço militar do principal partido da oposição moçambicano e as suas ameaças de divisão do país.
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Lusa
Comentando à agência Lusa o objetivo de uma crónica que assina na última edição da revista Missanga, um suplemento do semanário local Sol do Índico, com o título "Uma não-carta para Afonso", Mia Couto explicou que procurava chamar a atenção dos militantes da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, maior partido da oposição) para "questões de bom senso", como o facto de "em lugar nenhum do mundo" existirem partidos que se servem da guerra para fazerem exigências.
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"Parto do princípio que haverá duas Renamos: uma que quer fazer guerra e que não sabe fazer outra coisa e outra que quer fazer política. Portanto, estou a dirigir-me aos que querem fazer política e querem ser um partido político", avançou.
No artigo, Mia Couto começa por citar trechos de uma carta que, juntamente com os escritores moçambicanos Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khossa, dirigiu em 2011 ao líder da Renamo, Afonso Dhlakama, numa altura em que este fez "ameaças contra a paz", enfatizando depois a contemporaneidade do documento.
"Poderíamos reeditar esta carta hoje e ela estaria completamente atual. Poderíamos igualmente tê-la publicado em anos anteriores quando o líder da Renamo já tinha ameaçado reacender a guerra", lê-se no artigo, no qual Mia Couto se mostra reticente quanto à capacidade de Dhlakama "colocar os assuntos da paz acima das suas ambições de poder".
"Tudo indica que isso não irá acontecer. E é pena. Porque significa que moçambicanos continuarão a ser mortos num clima de guerra oculta ou declarada", escreve, apontando algumas incongruências da Renamo, que "aceita a Constituição, mas (?) proclama que vai, por via da violência, ´dividir o país ao meio`".
À Lusa, o escritor considerou "um crime" a ameaça de divisão do país que a Renamo fez durante o seu último congresso, decorrido há cerca de duas semanas na cidade da Beira.
"Não é aceitável. Um partido não pode proclamar aquilo que é inconstitucional, estando com assento no parlamento", afirmou, apelando à ala da "Renamo que quer fazer política", para que o faça "no quadro constitucional".
Sobre a atuação do Governo moçambicano no processo negocial, o autor considera que o executivo tem demonstrado "espírito de condescendência e aceitação", apontando a alteração da Lei Eleitoral, exigida pela Renamo, como um exemplo.
No entanto, Mia Couto aponta "alguma falta de coerência" em determinadas decisões do executivo, que levaram, por exemplo, à detenção, há uma semana, do porta-voz do partido da oposição, António Muchanga.
"Não se pode estar a fazer isto [negociar e ceder a exigências] e, ao mesmo tempo, adotarem-se medidas como a prisão de um porta-voz, que nem sequer foi bem explicada. Até agora, ninguém sabe porque é que este homem foi preso", lamentou.
Considerando que o diálogo é a única solução para a crise político-militar que o país vive há mais de um ano, o escritor disse preferir que as eleições de 15 de outubro se realizem, ainda que nessa altura o diferendo não esteja resolvido.
Mas, se o ato eleitoral tiver de ser adiado, sublinhou, que seja com o consentimento dos eleitores moçambicanos.
"Eu gostaria que houvesse eleições. Mas, se não houver, que seja porque se fez um referendo popular. Que não seja uma decisão tomada numa sala fechada e por políticos só", concluiu.

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