domingo, 23 de março de 2014

Governo acolheu propostas da RENAMO: Ataques são inaceitáveis

Governo acolheu propostas da RENAMO: Ataques são inaceitáveis

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OS ATAQUES protagonizados pelos homens armados da Renamo contra populações indefesas e as Forças de Defesa e Segurança (FDS) são injustificáveis, porquanto o Governo acolheu já maior parte das exigências do maior partido da oposição no país à mesa do diálogo.
Segundo políticos, académicos e religiosos ouvidos pela nossa reportagem em Maputo, depois de o Governo acolher maior parte das exigências da Renamo no âmbito do diálogo político em curso, os ataques levados a cabo pelos homens armados da “perdiz”, com incidência na região centro do país, são abomináveis e demonstram o seu carácter belicista e a incapacidade de se transformar em partido político e de se reconciliar com o povo moçambicano.
O partido liderado por Afonso Dhlakama solicitou, nos princípios do ano passado, diálogo com o Governo, colocando como preocupação quatro questões, nomeadamente a revisão da Lei Eleitoral para acomodar a paridade na composição dos órgãos eleitorais, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique, partidarização da Função Pública e assuntos económicos.
Porém, apesar de o Executivo ter acolhido maior parte das propostas da “perdiz”, sobretudo no que diz respeito à revisão da legislação eleitoral, adiamento por um período de 15 dias do início do recenseamento eleitoral e inclusão de observadores nacionais e internacionais no diálogo e nos assuntos que conduzam ao desarmamento da Renamo e integração dos seus homens armados nas instituições, os ataques ainda não cessaram na região centro do país, sobretudo na província de Sofala onde, quase diariamente, são reportados casos de assassinatos de civis e assalto e queima de viaturas.
Em Maputo, discutem-se os termos de referência para a participação dos observadores internacionais em assuntos que levem ao desarmamento da Renamo e integração dos seus homens armados nas instituições públicas. Para os nossos entrevistados, o desarmamento dos homens da Renamo antevê-se um processo difícil, porquanto o maior partido da oposição tem dificuldades de se transformar numa verdadeira força política e participar normalmente no sistema democrático vigente no país.
NINGUÉM QUER NEGOCIAR NUMA POSIÇÃO DE FRAQUEZA – JOSÉ DE SOUSA, DO MDM
Jose-de-SousaPara José de Sousa, porta-voz da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), tanto o Governo como a Renamo não querem negociar numa posição de fraqueza. “Os ataques continuam a ocorrer, infelizmente, porque cada uma das partes quer ter protagonismo na mesa do diálogo. Nós sentimos que a troca de tiros vai terminar, mas é um processo que vai levar o seu tempo até que os mediadores internacionais estejam constituídos”, disse.
José de Sousa afirmou que o Governo tem estado a acolher grande parte das exigências da Renamo, mas a questão de fundo é a desmilitarização deste partido e integração dos seus homens armados na sociedade. Acrescentou que ao exigir a desmilitarização do maior partido da oposição no país, o Governo não quer incorrer nos erros cometidos aquando da assinatura do Acordo Geral de Paz, ao ter permitido que a Renamo se mantivesse armada.
“Penso que a abertura do Governo, ao colher grande parte das exigências da Renamo, visa desmilitarizar este partido político duma vez por todas”, disse, acrescentando que tudo indica que a paz será duradoira e as armas vão se calar, pois a Renamo manifestou o interesse de participar nas eleições gerais e das assembleias provinciais de 15 de Outubro próximo.
QUADRO COMPLEXO – MOISÉS MABUNDA
Moises_MabundaO analista Moisés Mabunda disse que se está perante um quadro complexo que, provavelmente, põe em causa muitas leituras que num passado recente foram avançadas, nomeadamente que a preocupação da Renamo era somente com o quadro jurídico eleitoral.
“Fica claro que não era somente o que a Renamo queria. O quadro jurídico eleitoral foi revisto, no entanto a Renamo não dá sinais nenhuns para a sua reintegração plena na vida social do país, para o retorno ao convívio político e social normal”, disse, acrescentando que pelo contrário o maior partido da oposição no país continua a brindar os moçambicanos com cada vez mais exigências, algumas das quais inaceitáveis.
Moisés Mabunda não colocou de lado a possibilidade de a Renamo vir a fazer muito mais exigências, nomeadamente a integração pura e crua dos seus homens nas diversas instituições à margem dos regulamentos e leis do país.
“Temos agora o exemplo do STAE. Quando se caminhava para a sua profissionalização, eis que temos agora um órgão politizado”, disse, acrescentando que ao ter acolhido grande parte das exigências da “perdiz”, o Governo procurou ir ao encontro das preocupações dum certo extracto político nacional, tendo em mente os mais de 23 milhões de moçambicanos.
Na opinião da nossa fonte, a Renamo não se vai desmilitarizar completamente e aqui reside o grande problema de todo o processo do diálogo.
“A sua força está nas armas, embora se tenha demonstrado como uma instituição política. Hoje a Renamo exige monitoria internacional, amanhã poderá exigir benefícios ou contrapartidas económicas e financeiras para voltar ao convívio político, como, aliás, o fez como condição para participar nas eleições”, afirmou.
ATAQUES CONTRARIAM INTENÇÃO DE DIALOGAR – ALY JAMAL
Aly-JamalPara o académico Aly Jamal, a intenção da Renamo de dialogar com o Governo contrasta com os factos no terreno. Disse que a continuidade dos ataques numa altura em que o Governo acolheu grande parte das exigências colocadas pelo maior partido da oposição pode representar, em termos militares, um tipo de pressão para um fim ainda não conhecido.
“Aquilo que era fundamental tem avançado. Os interesses da Renamo têm sido acomodados pelo Governo. Assim, não se justifica que os ataques continuem. Estamos aqui perante um paradoxo. Podemos pensar que esses ataques visam exercer maior pressão para o Governo fazer compromissos de engajamento, mas penso que os ataques não devem estragar o ambiente negocial e conduzir ao maior entendimento entre as partes”, disse, corroborando também com a ideia de que a desmilitarização do partido liderado por Afonso Dhlakama será um processo difícil.
Aly Jamal defendeu a necessidade de se exercer uma pressão diplomática sobre a Renamo, através dos observadores.
“A desmilitarização da Renamo só vai ocorrer naquilo que é imediatamente possível. A Renamo tem armas um pouco pelo país. Portanto, a sua desmilitarização vai ser um processo difícil que vai exigir muita iniciativa. Ela tem oficiais que não estão muito ligados à estrutura de gestão do próprio partido, que podem ter o controlo armamentístico”, indicou.
NECESSÁRIA TRANSFORMAÇÃO REAL - REVERENDA FELICIDADE CHERINDZA
Para a Reverenda Felicidade Cherindza, da Igreja Presbiteriana, a Renamo precisa duma transformação real, para que compreenda que a sua posição está errada.
“Quando o pecado penetra num indivíduo, não é fácil esse mesmo indivíduo livrar-se desse pecado. Essa pessoa precisa de ser ajudada, mas também deve fazer um esforço no sentido de se abrir como deve ser para que a ajuda penetre. O dilema da Renamo é a não abertura à mudança, à transformação”, disse, manifestando, no entanto, a esperança de que algum dia a “perdiz” irá se abrir.
Segundo afirmou, os moçambicanos não devem ficar cansados nem desanimados. Os crentes devem continuar a orar e os políticos a dialogar.
“Estamos muito tristes e até envergonhados com esta atitude da Renamo. Porém, continuamos a crer que um dia ela vai compreender”, rematou.
NOTÍCIAS – 24.03.2014

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