segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A agonia de Guebuza

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Tema de Fundo - Tema de Fundo
Escrito por Redação   
A figura de Armando Emílio Guebuza, Presidente de Moçambique, foi enaltecida em marcha – com direito a sumos, sopa e refrescos– pelos “militantes” da Frelimo. O seu nome foi e está a ser polido de tudo que o possa manchar de modo a preservar a popularidade do início do seu primeiro mandato para que, de tal modo, continue a receber honras pela esperança que um dia significou para o povo quando prometeu combater o “deixa-andar”. A luta consiste em colocar e perpetuar Guebuza numa lista de figuras míticas recorrendo a uma das técnicas mais antigas de manipulação da opinião pública: o culto da personalidade.
Uma mancha vermelha atravessou Maputo e, ao contrário do que se pretendia, consagrou a impopularidade do actual Presidente da República (PR), Armando Emílio Guebuza. A acção que visava enaltecer os feitos do actual PR não foi capaz de maquilhar o desgaste da imagem do líder do país. Os opositores mais enérgicos e viscerais levantavam a voz nas redes sociais enquanto o uso de bens do Estado deixava claro o desespero dos organizadores...
“Havia um número elevado de autocarros da TPM, da FEMATRO e da ETRAGO. Achais que estavam lá pela militância dos respectivos condutores? Ou pretendeis que fervorosos militantes os fretaram? Não foi isso. Foram os vossos impostos que transportaram aqueles carneiros todos, que preferiram perder um dia de amor-próprio do que um de salário. Por isso houve quem dissesse que não sabia o que se estava a comemorar. Talvez tivesse sido melhor em tempo de aulas, em homenagem às borlas para a rapaziada”, sintetizou um cidadão sobre o espírito da marcha de exaltação.
A ignorância das pessoas em relação aos objectivos da marcha tão-pouco passou despercebida. “Eu não vim porque quis, fui obrigado”, diziam em contraposição ao mastodôntico discurso oficial pregado pelos defensores do regime. As imagens aéreas não deixam lugar para dúvidas. Tratou- se de uma marcha raquítica e repleta de senhoras e um punhado de jovens fiéis ao partido Frelimo. Um número muito aquém dos 20 mil esperados.
Efectivamente, a marcha organizada pelo partido Frelimo, no sábado último, para a exaltação do Chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, pelos seus “feitos” nos seus dois mandatos e homenagem pelo seu 71º aniversário natalício, serviu principalmente para tornar evidente o que já se sabia, mas que algumas pessoas ainda teimam em não reconhecer: a impopularidade do Presidente da República perante o povo que dirige.
Mesmo com a disponibilização de meios de transporte para a deslocação gratuita de pessoas que iriam tomar lugar na marcha, o tiro acabou por sair pela culatra. Estavam no locam autocarros de escolas públicas. Numa fila @Verdade contabilizou cinco autocarros.
A Escola Secundária Franscisco Manyanga disponibilizou um autocarro com chapa de inscrição MLX-93-29. O Instituto Comercial fez-se representar com um carro de 25 lugares com a matrícula MMZ-07-18. A Direcção da Educação e Cultura da Cidade de Maputo levou o EAA 157 MC. A empresa TPM esteve presente com cinco autocarros e a Direcção Provincial de Plano e Finanças de Maputo disponibilizou uma viatura.
Enquanto, os organizadores estavam na expectativa de juntar não menos de 20 mil pessoas na Praça da Independência, a realidade tratou de mostrar que a população da cidade e província de Maputo, e não só, não simpatiza com Guebuza. Ou seja, menos de dez mil pessoas estiveram presente no local. Aliás, estima-se que tenham sido cerca de cinco mil.
Homenagear Guebuza pela obra feita durante os dois mandatos da sua governação e comemorar a seu aniversário foi o móbil oficial que levou à realização da marcha. Lavar a imagem do PR que se encontra demasiado desgastada é o que ficou explícito nos discursos dos “camaradas”. O secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúde, condenou os críticos de Guebuza e o primeiro secretário desta organização a nível da cidade de Maputo repudiou o que chama de “tentativa de empurrar o povo moçambicano contra o seu Presidente”.
A caminhada iniciou às 8h00, na estátua do arquitecto da Unidade Nacional, Eduardo Mondlane, e foi desembocar às costas da estátua do primeiro Presidente de Moçambique independente, Samora Machel, na Praça da Independência. Já na praça, quando se esperava pela chegada de mais pessoas para corporizarem a multidão que se encontrava ao sol escaldante, mais ninguém chegou, senão um número pouco significativo de participantes.
Disseram que vínhamos ver Guebuza
O ambiente de concórdia que reinou antes, durante e depois da marcha não foi suficiente para disfarçar os rostos de decepção com que ficaram alguns grupos de cidadãos que, com argumentos falsos, foram arrastados para participarem na marcha. Segundo contaram alguns grupos, aquando do convite para fazerem parte do evento, os chefes de quarteirão alegavam tratar-se de um encontro de despedida do Presidente da República, um vez que o seu mandato já está na recta final. Porém, contra essa expectativa, Armando Guebuza não esteve no local.
“O que nos disse o chefe de quarteirão do bairro de Hulene “B” foi que papá Armando Guebuza queria despedir-se porque está a terminar o mandato e nós vínhamos ouvi-lo e pedir-lhe paz, mas estamos a ver que ele não está”, conta Luísa Massango, sentada à sombra do muro do edifício do Tribunal Administrativo e para quem a governação de Guebuza foi normal, pois ninguém consegue fazer tudo. A adolescente de nome Etelvina Geraldo confirma a expectativa da outra entrevistada ao afirmar que a sua ida à Praça da Independência tinha em vista a interacção com o PR que, segundo lhe disseram, pretendia conversar com a população sobre a sua saída da governação do país. “Quando chegámos aqui não vimos o Presidente”.
Por sua vez, o idoso Paulo Silva Nhanale do posto administrativo de Phessene, distrito de Moamba, província de Maputo, afirma que ele e o seu grupo foram “pedir ao Presidente para parar com os conflitos com a Renamo”. Este sabe de ciência certa e experiência acumulada com o tempo que enquanto existir um conflito armado, “não será possível manter o desenvolvimento do país”. E mesmo diante da decepção de não poder, naquele momento, ouvir do Presidente Guebuza possíveis soluções para a “guerra”, rogou que? sente e converse com a Renamo.
Devemo-nos orgulhar do PR que temos
O secretário-geral (SG) da Frelimo, Filipe Paúnde, no seu discurso, depois de percorrer a biografia de Armando Guebuza na tentativa de mostrar que este é, realmente, uma figura com credenciais para dirigir os destinos do país, condenou os críticos do Presidente que reprovam a sua forma de governação. Diz ele que as pessoas tentam desgastar a imagem do estadista moçambicano, promovendo mensagens distorcidas e campanhas de insultos.
Paúnde fez referência à electrificação de 118 distritos do país como sendo o resultado obra de Guebuza e não mencionou nada sobre a péssima qualidade desta mesma energia vinda de Cahora Bassa. Disse que actualmente cada um dos distritos tem pelos menos um médico, o que significa a existência também de unidades sanitárias. Sobre o diálogo com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, afirmou não ser verdade que Guebuza esteja a “furtar-se”.
“A Renamo está a matar. Não se pode dar razão a alguém que mata”, considerou. Na sua apresentação da mensagem da Frelimo, explicou ainda que a Renamo deve ter a paciência de esperar pela realização de eleições para alcançar o poder e não tentar obtê-la pela força das armas. Para Paúnde não é verdade que Guebuza pretende continuar no poder, tal como avançam alguns círculos da sociedade, muito menos que a sua esposa poderá vir a substitui-lo.
O SG do “batuque e maçaroca” entende que Armando Guebuza merece o reconhecimento pelo seu engajamento na busca de soluções para o desenvolvimento do país e pelos seus feitos e realizações “indeléveis” em prol do bem-estar dos moçambicanos.

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