As Formas De Liberalismo De Mao Tsé-Tung
ENTRELINHAS
Por Gento Roque Chaleca Jr.
“Quando a floresta que as cerca é ignorante, as poucas árvores lúcidas secam” –
Excerto de uma conversa com um amigo
A pretexto de tomar um café como tem sido hábito na véspera de Natal e de Fim de Ano, coloquei a um velho amigo que é conhecido por ter posições muito extremas, a seguinte questão: Qual a avaliação que fazes da governação do Presidente Armando Emílio Guebuza?
A reposta não se fez esperar: “Eu não sou a pessoa mais indicada para te responder esta pergunta, porque careço de dados plausíveis para o avaliar, porém tenho um conhecimento de senso comum que me permite tirar duas conclusões.
A primeira é que, a avaliar pelos informes anuais do chefe do Estado no Parlamento, o Estado da Nação é bom. A segunda, baseada em factos que ocorrem diariamente, posso afiançar-te que com este Presidente o país nunca deixou de estar em guerra. São exemplos disso, as manifestações populares violentas, a guerra perdida contra a fome, a corrupção, o desemprego, entre outros. Pior: a guerra contra os homens armados da Renamo que resultam em morte de civis inocentes.”
Posso concordar contigo, disse eu. Mas não te esqueças que nos momentos difíceis não há cargos fáceis.
Também não é menos verdade que o presidente Guebuza esteja a cometer um erro monumental que é deixar-se cercar por falsos acólitos que se limitam a dizer o que de mais fácil existe numa catequese: amém. Esses indivíduos não questionam as acções do chefe, não articulam as suas decisões com as vontades do povo. Quando os oiço falar, muitas vezes em nome do chefe de Estado, sinto que eles já extrapolaram o campo da bajulação e roçam agora o campo da ridicularização.
Tens razão, amigo Chaleca! Realmente está a acontecer algo de muito estranho que assombra a governação do camarada e poeta Guebuza. Repare que nem tudo estava errado no marxismo-leninismo e nem com as directrizes de governação do partido Frelimo, as quais assentavam nos grandes ensinamentos de Mao Tsé-Tung, mas que as lideranças do partido entenderam mandar “às urtigas” por considerarem extemporâneas. Aqui, devo dizer-te francamente amigo Chaleca, a Frelimo cometeu outro erro, o de deitar fora, além da água suja, o bebé. Em substituição, talvez por instinto de sobrevivência, tem estado a vincar aquilo que alguns analistas de Relações Internacionais chamam de MAFIA-STATE, um Estado-Bandido.
Antes que o meu amigo dissesse mais alguma coisa, educadamente interrompi o discurso para perguntar se ele não estava a exagerar nas suas análises? Não, disse ele.
Alguma vez o Chaleca leu a obra de Mao Tsé-Tung contra o liberalismo? Faço questão de leres e no próximo encontro (propositadamente marcado para Outubro de 2014 em virtude das eleições gerais), possamos confabular sobre este assunto e, obviamente, dir-me-ás a que ilação chegaste.
Muito obrigado amigo, despedimo-nos.
Chegados aqui, resta apresentar ao amigo leitor as principais formas de liberalismo de Mao Tsé-Tung datada de 7 de Setembro de 1937.
Contra o Liberalismo
Na perspectiva de Mao Tsé-Tung, o liberalismo manifesta-se sob diversas formas:
1. Constatamos que alguém está a agir mal mas, como se trata dum velho conhecido, dum conterrâneo, dum condiscípulo, dum amigo íntimo, duma pessoa querida, dum antigo colega ou subordinado, não nos empenhamos no debate de princípios e deixamos as coisas correr, preocupados com manter a paz e a boa amizade. Ou então, para mantermos a boa harmonia, não fazemos mais do que críticas ligeiras, em vez de resolver a fundo os problemas.
2. Em privado entregamo-nos a críticas irresponsáveis, em vez de fazermos activamente sugestões à organização.
Nada dizemos de frente às pessoas, mas falamos muito pelas costas; calamo-nos nas reuniões, e falamos a torto e a direito fora delas. Desprezamos os princípios de vida colectiva e deixamo-nos levar pelas inclinações pessoais.
3. Desinteressamo-nos completamente por tudo que não nos afecta pessoalmente; mesmo quando temos plena consciência de que algo não vai bem, falamos disso o menos possível; deixamo-nos ficar sabiamente numa posição coberta e temos como única preocupação não ser apanhados em falta.
4. Não obedecemos a ordens, colocamos as nossas opiniões pessoais acima de tudo. Não esperamos senão atenções por parte da organização e repelimos a disciplina desta.
5. Em vez de refutar e combater as opiniões erradas, no interesse da união, do progresso e da boa realização do trabalho, entregamo-nos a ataques pessoais, buscamos questões, desafogamos o nosso ressentimento e procuramos vingar-nos.
6. Escutamos opiniões erradas sem elevarmos uma objecção e deixamos até passar, sem informar sobre elas, expressões contra-revolucionárias, ouvindo-as passivamente, como se de nada se tratasse.
7. Quando nos encontramos entre as massas, não fazemos propaganda nem agitação, não usamos da palavra, não investigamos, não fazemos perguntas, não tomamos a peito a sorte do povo e ficamos indiferentes, esquecendo-nos de que somos comunistas e comportando-nos como um cidadão qualquer.
8. Vemos que alguém comete actos prejudiciais aos interesses das massas e não nos indignamos, não o aconselhamos nem obstamos à sua acção, não tentamos esclarecêlo sobre o que faz e deixamo-lo seguir.
9. Não trabalhamos seriamente, mas apenas para cumprir formalidades, sem plano e sem orientação determinada, vegetamos — "enquanto for sacristão, contentar-meei com tocar os sinos".
10. Julgamos ter prestado grandes serviços à revolução e damo-nos ares de veteranos; somos incapazes de fazer grandes coisas mas desdenhamos as tarefas pequenas; relaxamo-nos no trabalho e no estudo.
11. Cometemos erros, damo-nos conta deles mas não queremos corrigi-los, dando assim uma prova de liberalismo com relação a nós próprios.
É tudo, por hoje. Ndatenda (obrigado)
O AUTARCA – 17.12.2013
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