Tomada de Marínguè: FADM avisaram a Dhlakama da acção, pedindo que se rendesse
Contra todas as previsões dos ocupantes, o bastião da Renamo, no distrito de Marínguè, na província de Sofala, foi esta semana tomada pelo comando conjunto das Forças de Defesa de Moçambique (FADM) e Força de Intervenção Rápida (FIR), desvendando os mistérios do lugar que outrora foi a retaguarda segura daquela organização, durante os 16 anos de conflito armado no país.
Quando a notícia sobre a possibilidade de se tomar a base da Renamo pelas FDS se espalhou, muitas pessoas mostravam-se incrédulas.
Analistas políticos e sociais e a população em geral diziam que se tratava de uma falácia das Forças de Defesa e Segurança e que isso jamais aconteceria por se tratar de uma zona de difícil acesso.
A nossa Reportagem fez parte do grupo de jornalistas que se interessou em trazer tal novidade, que, quanto a nós, era improvável devido ao mito que gira em torno da base de Marínguè.
Conduzir de Nhamapaza até a vila-sede distrital de Marínguè tornou-se pesado a avaliar pelo silêncio dos ocupantes da viatura. A estrada estava deserta e as casas praticamente abandonadas num raio de 40 quilómetros. Reparando para a zona norte de Marínguè, podia-se ver fumo negro a espalhar-se pelo ar. Eram minas explodindo feito fogo-de-artifício.
O nosso repórter e outros dois de uma televisão estrangeira, Guy Henderson e o seu operador de câmara, Adil Bradlow, foram recebidos no comando distrital da PRM e depois encaminhados para outros pontos. Jovens das forças especiais das FADM com cara de poucos amigos receberam-nos num ponto que dá acesso à pista outrora utilizada por homens de Afonso Dhlakama.
Depois de uma demorada apresentação seguiu-se um longo percurso, com paragens em quase todos os pontos de avanço. O fim era chegar ao “coração” da base, onde se encontravam as patentes superiores das forças armadas. Durante o percurso a desconfiança imperava.
Labirintos e mitos
As pessoas que julgavam que a base de Marínguè era impenetrável podiam ter as suas razões. Até porque os próprios guerrilheiros da Renamo nunca imaginavam que um dia o “seu espaço” seria tomado, a avaliar pelos volumosos documentos tidos como importantes deixados numa mala de madeira.
Um oficial das forças armadas e perito militar que falou ao nosso Jornal na condição de não ser identificado disse que as dúvidas que pairavam no seio das pessoas tinham a sua razão de ser. Explicou que a base ora sob controlo governamental é um autêntico labirinto.
Tal especialista militar das FADM disse que apesar de se ter tomado o quartel em pouco tempo (cinco horas), não foi um trabalho fácil.
Entre a coragem e o medo, jornalistas protegidos por militares de diferentes especialidades mostravam-se todos atónitos, não sabendo o que lhes aconteceria nos minutos seguintes. Perante uma mata fechada e com árvores frondosas, percorremos trilhos que não se sabia se estavam minados ou não.
Todos os militares envolvidos na operação da tomada do quartel general de Marínguè estavam proibidos de errar nos seus procedimentos.
“Aqui só há ordens e nada de iniciativas pessoais”, confidenciou-nos, reiterando que não havia nada a inventar na operação, pois estava tudo milimetricamente programado.
Refira-se que, na sua fuga precipitada, os homens armados da Renamo deixaram vários documentos importantes para a história da organização, sendo de destacar um passaporte que era usado pelo líder do movimento durante a guerra dos 16 anos.
Através deste documento, Afonso Dhlakama fazia-se passar por um empresário de nacionalidade queniana com o nome de Alfonsi Muanacato Barão. Com o mesmo viajou para vários países de África, Europa, América e Ásia, com destaque para a África do Sul, Quénia, Suécia, Itália, França e Estados Unidos da América (EUA).
Por exemplo, no dia 26 de Outubro de 1991, conforme os vistos contidos naquele passaporte, o líder da Renamo teria estado na Suíça.
Ainda há troca de tiros
A Força de Defesa e Segurança (FDS) estacionada no posto administrativo de Vunduzi, distrito de Gorongosa, em Sofala, tem enfrentado nos últimos dias alguma resistência dos homens armados da Renamo, que tentam aos disparos esporádicos reocupar a base de Sandjudgira tomada no passado dia 21 de Outubro.
Nas passadas terça e 4.ª feiras, por exemplo, os homens de Afonso Dhlakama trocaram tiros com a força governamental durante algumas horas, não tendo sido registadas quaisquer vítimas em ambas as partes, pois muito cedo os primeiros recolheram para o seu esconderijo.
A acção dos guerrilheiros da Renamo é descrita pelos oficiais da corporação de defesa e segurança como sendo de desespero, pois não têm como sobreviver escondidos nas montanhas.
Homens da Renamo estão já há 10 dias nas montanhas localizadas próximo da base de Sandjudgira. Acredita-se igualmente que o seu líder, Afonso Dhlakama, também se tenha refugiado nas colinas.
Uma fonte militar que falou ao nosso Jornal na condição de anonimato disse que a corporação está aguardando ordens para ver se “acabamos com estas brincadeiras. Porque isto não é vida”.
Falámos igualmente com certos cidadãos que vivem próximo das montanhas que disseram haver muitas famílias por lá onde se supõe Dhlakama esteja escondido.
“Deixamos de nos dirigir à montanha temendo que fôssemos confundidos com guerrilheiros da Renamo, mas as pessoas que se fizeram àquela zona antes do ataque à base de Sandjudgira continuam lá confinadas, temendo descer. Lá há mulheres e crianças que sobrevivem da agricultura”, disseram algumas das pessoas ouvidas pelo nosso jornal em Vunduzi, temendo que qualquer intervenção militar nas colinas possa matar muitos inocentes.
Tomada de Sandjudgira foi anunciada a Dhlakama
A tomada da base de Sandjudgira no passado dia 21 de Outubro não foi surpresa. Antes de se registarem confrontações as Forças de Defesa e Segurança usando megafones convidaram a todos que se encontravam no quartel de Sandjudgira para se renderem.
De acordo com um vídeo produzido naquele dia pelos militares, os oficiais superiores da Polícia e das FADM gritavam alto “viemos em paz, senhor presidente da Renamo. Entregue-se que o acompanharemos....”.
Tal vídeo que está na posse de militares retrata o momento da entrada na base de Sandjudgira e as acções que lá decorreram depois da ocupação.
Uma das fontes militares referiu que se o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, tivesse se rendido não haveria tanto sofrimento.
Com jornalnoticias.co.mz
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