segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O circo dos tolos!

O circo dos tolos!
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Quando ainda era pequeno imaginava que o mun­do terminasse onde o sol despertasse e se pusesse. Imaginava, acima de tudo, que o mundo fosse um ângulo de 180 graus. Reduzia o mundo à dimen­são do local onde nasci, mesmo que o meu pai me dissesse que existia Joanesburgo, o centro de toda a beleza e de convergência de civilizações.
À medida que crescia, começava a ter uma visão ampliada das coisas e do mundo. Hoje, reconheço que estava exponencialmente enganado.
Tinha 11 anos de idade quando fui autorizado, pela primeira vez, a assistir aos filmes que eram projectados nos grupos dinamizadores. Já não me lembro do primeiro filme, mas lembro-me dos que mais me marcaram naquela altura, nomeadamente, “Sandocá, o Tigre da Malásia” e “Os Comandos”, este último produzido por actores mo­çambicanos, casos de Simião Mazuze (hoje Salimo Mahomed), Lina Magaia, entre outros. O dia seguinte ao filme estava reservado à re­produção oral e implementação do que se viu.
Foi assim que, influenciado pelo famoso “trabalho de Marracue­ne”, nasceu em mim o sonho de um dia ser produtor e realizador de um filme com o título “Circo dos Tolos”. Essencialmente, o filme teria como actores tolos que vivessem numa aldeia isolada. A ideia era procurar entender o que pode acontecer se, eventualmente, se isolar todos os tolos e colocá-los numa aldeia só deles; se seria uma aldeia com regras ou não. Certamente que teria chegado à conclusão de que, depois de certo tempo, aquele mundo seria normal, mesmo para uma pessoa sã que se submetesse a ele; que seria um mundo pouco contrário ao em que vivemos; que seria um mundo em que todo o tipo de necessidade seria feito onde a pessoa sentisse que o devia fa­zer; que as relações sexuais seriam mesmo a céu aberto, dependendo do grau de sanidade mental de quem os pratica.
De hoje por hoje, ainda sem ter concretizado o sonho do “Circo dos Tolos”, conclui que já nem preciso de realizar esse filme, porque a natureza se encarregou de o realizar sob a total inocência e con­cupisciência das pessoas. O que ontem era atitude dos loucos, hoje é de pessoas mentalmente sãs: urina-se em qualquer lugar sem que alguém o impeça. Que o digam as árvores e muros da cidade de Ma­puto; anda-se semi-nu sem que haja repressão; beija-se de forma pro­longada em vias públicas, e não só.
Hoje, assistimos à morte como se ela fosse um divertimento; quere­mos criar igualdade onde não existe; queremos permitir que o aborto seja legal só porque Portugal o fez; queremos legalizar a prostituição só porque é fonte de sobrevivência de famílias e por se tratar de um fenómeno impossível de combater; queremos estigmatizar o homem. Enfim, a este ritmo, caminhamos aceleradamente para uma socieda­de em que o sexo na rua não será proibido. Estamos à espera que os brasileiros ou outras “sociedades-modelo”, evoluídas, comecem, para imitarmos.
Hoje assistimos ainda dirigentes e políticos que, naquela altura, se o meu sonho se tivesse concretizado, reuniriam requisitos para serem actores do “Circo dos Tolos”.
É a propósito da conferência de imprensa que o Ministério dos Transportes e Comunicações, a Fematro e a Polícia Municipal con­vocaram na sexta-feira passada para esclarecer nada. Absolutamente nada! Aquele é um bom exemplo do “Circo dos Tolos” que pretendia levar a cabo. Não estou a dizer, entendam-me, que eles são tolos, mas que eles tentam confundir o povo com o “Circo dos Tolos”.
Acho que os dirigentes, definitivamente, têm de deixar de brincar com coisas sérias. Não se deve permitir que um Ministério dos Trans­portes e Comunicações, uma Fematro e uma Polícia Municipal con­voquem a imprensa para anunciar projectos, estratégias, políticas, propostas (...) que serão submetidas para a resolução de um proble­ma pontual. Ainda mais quando é um problema que envolve conflitos de interesses em que o povo é o principal sacrificado.
Quando recebi, na noite da quinta-feira, um comunicado via sms que aqueles organismos iriam falar à imprensa sobre a propalada greve de 28 de Fevereiro corrente (amanhã), imaginei que fossem dizer que “a partir de hoje já não há encurtamento de rotas”. Afinal, queriam anunciar a ladainha que se canta há mais de quatro anos, de que:
·         Queremos acabar com “chapas” de 15 lugares nas zonas urbanas a partir do segundo semestre (nem há datas, se será ou fim do ano ou não);
·         Queremos introduzir a concessão de rotas no mesmo período para que cada transportador circule na sua rota;
·         Estamos a finalizar a concertação com os municípios;
·         Temos a estratégia que preconiza a concessão de rotas;
·         Vamos lançar concurso público;
·         A situação (encurtamento de rotas) deteriorou-se quando a fisca­lização das rotas foi confiada às polícias Municipal e de Trânsito, em detrimento de fiscais das associações;
·         Os fiscais conhecem os carros e as manobras existentes;
·         É difícil garantir o controlo das rotas com milhares de operadores;
·         Há operadores que não estão filiados em nenhuma associação;
·         A polícia coloca a hipótese de agravar a multa (como se a multa a fosse solução do problema);
·         Deve haver denúncia dos infractores;
·         A população deve agir contra os violadores, entre outros.
Ora, será que o povo queria ouvir tudo isto? Com certeza que não! O que o povo queria ouvir era que, por decisão daqueles organismos, quem encurtasse as rotas seria severamente punido; que seriam colo­cados polícias ou fiscais em todas as rotas para o controlo da situação; que a população, organizada, poderia confiscar a carta ou a chave do carro do motorista infractor e baní-lo da rota; entre outras. Acima de tudo, deveriam ter vindo dar a resposta que o Governo deu após o 5 de Fevereiro do ano passado.
Os argumentos apresentados pela Fematro de que com os seus fis­cais a situação estaria resolvida não só é um argumento falso, como também é um argumento ao alcance dos actores do “Circo dos To­los”, sem princípio, meio nem fim, porque encurtamentos sempre existiram, mesmo perante os fiscais a que se referem. É também fal­so o argumento de que só a concessão de rotas vai acabar com a si­tuação. Em tempos, a Fematro e Atromap defendiam que a solução dos problemas de transporte passava pela criação de TUM. E vários TUM, de facto, foram criados, mas nada se resolveu. Hoje, vêm com outro argumento.
Entreter o povo com falsos argumentos é, em toda a parte, uma atitude de um mau dirigente; um dirigente de memória a curto pra­zo, que se esqueceu que o tempo de “estamos a envidar esforços” foi enterrado com o passado.
Hoje, os dirigentes não devem aparecer com argumentos de entre­tenimento, muito menos com discursos políticos. Têm de vir anun­ciar as medidas tomadas, em face dos problemas que se vivem, que beneficiem as populações.
Hoje, um empregado doméstico que vive na cintura da cidade, que ganha 1.000 Mt, por causa do encurtamento de rotas, acaba pagan­do, por mês, entre 600 a 900 Mt, sem contar com alimentação nem com as despesas das suas crianças que estudam em escolas distantes de casa, necessitando de transporte para lá chegarem.
Por outro lado, estão a imaginar um polícia que ganha cerca de 3500 Mt, que vive numa casa alugada, com crianças que estudam em escolas em que é preciso “chapa” diariamente? O que se espera desse polícia? Não acham isso grave, meus senhores?
Falam da solução para o segundo semestre. Quer dizer, o povo tem de esperar por mais quatro a 10 meses para a solução do problema. Acham que alguém vai pacientar até lá?
A Fematro (referimos os “chapeiros”) queixava-se, antes, da subida dos preços como causa do encurtamento das rotas. Justificava que só assim os “chapeiros” podiam fechar as receitas. Ora, hoje, o combus­tível baixou em quase 100%, no entanto, o dilema de encurtamento de rotas não só se mantém, como também piorou.
Uma coisa sei: os moçambicanos têm muitos defeitos, mas nunca foram politicamente tolos.
 
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