Na patologia do êxito,
um mal nunca vem só
O Princípio de Peter
Como se já não nos bastasse os atrasos constantes, a derrapagem de um novíssimo Q-400 na pista do aeródromo de Inhambane e a súbita descompressão a quarenta minutos de voo numa aeronave similar a caminho da Beira, ou a falta de água nos seus lavabos. A LAM estende agora, o seu imenso reportório de asneiras ao famoso sistema sofisticado on-line de reservas e compra de passagens, vulgo bilhete electrónico, a jóia da coroa dos nossos spots televisivos.
Overbooking! É o que o estimado leitor desavisado vai ouvir quando pretender enfiar-se num avião da LAM – a nossa única opção no pós Air Corridor - na Beira, Nampula, Quelimane, Pemba ou mesmo Lichinga, por causa de um suposto sistema informático que faz com que, por exemplo, o chefe de escala da Beira não saiba quem embarcou em Quelimane, Nampula e por aí em diante. Nem queira imaginar o pesadelo de quem a partir de uma província do centro e do norte quiser viajar para a Europa, Ásia ou América…
É que chegado ao aeroporto, o passageiro tem de correr para ser o primeiro a ser atendido no check-in. OK no bilhete, confirmado em Maputo, reconfirmado na Beira, ou Nampula. Nem pensar, isso não serve para nada. O chefe de escala local é que decide quem é que entra no avião! Mesmo consultada a lista de passageiros com OK nada serve para lhe demover a opinião. Se um tipo estiver em 14º lugar pode, à velocidade da luz, passar para 42º. Enquanto que um tipo no 30º lugar – porque pagou um estímulo, ou declarou em tom ameaçador “ (…) sou amigo do governador, hein!...” – passa para o 1º lugar. Cenas incríveis que se registam diariamente nos aeroportos da Beira, Nampula e Lichinga. Nomes directamente, no momento, adulterados no sistema de reservas. Onde está João Santos, pode de repente passar a estar Maria Albertina. O controlo e segurança no check-in é totalmente banalizado. Se aparecer na lista CANGARRA DE GALINHAS ou OSSAMA BIN LADEN ninguém ficará alarmado, porque isso já é normal. É o fiasco do Bilhete Electrónico. Nada justifica que para um avião de 72 lugares haja 120 passageiros confirmados para o mesmo voo e à mesma hora. Em rigor, o tal do sistema informático não é on-line, porque o pessoal de terra na Beira não consegue provar quantas pessoas fizeram reserva e embarcaram em Maputo, Quelimane, Nampula ou de qualquer outro lugar do mundo com escala naquela cidade.
E a justificação dada pelo pessoal da MAHS em uníssono com o delegado da LAM é de antologia: “ Isto acontece em qualquer parte do mundo (…) . Vocês não entendem nada de aviação civil (…)”. Estão enganados senhores experts em aviação civil, por muito menos do que isto, a TAAG, transportadora aérea angolana, entrou também para a lista negra da aviação civil mundial. É que estiveram sempre a subir naquela perigosa direcção, tanto que ainda não se aperceberam da vergonha nacional que Moçambique irá passar em vésperas dos Jogos Africanos em 2011. E o pior, perderam a quota de mercado que lhes daria um impulso financeiro. Ardeu a tenda! De que vale o país investir milhões de dólares num aeroporto internacional moderno para os passageiros ficarem sistematicamente em terra?
Como é evidente, a corrupção irrompe sempre nestes momentos para se manifestar descaradamente. Com passageiros em terra, o avião viaja com lugares vazios. Numa das ocasiões não pude resistir e exigi alto e bom som no interior de um novíssimo Q-400 que, quem quer que ainda estivesse no aeroporto da Beira, embarcasse porque havia lugar disponível. Eis que se gerou logo um pequeno motim com as assistentes de bordo a correrem de um lado para o outro, a chamarem pelo chefe de escala e de repente…milagre: o fantasma toma corpo de gente e aparece o famoso ausente, que até já lá estava dentro, mas que entrou no avião sem o canhoto do bilhete electrónico que lhe foi entregue providencialmente pela equipa de terra da cidade da Beira em força no avião naquele exacto momento.
Em menos de um mês, são já três episódios testemunhados por mim apenas no majestoso aeroporto internacional da Beira, em que passageiros tiveram que ficar em terra com os bilhetes confirmados na mão. Invariavelmente, a LAM tratou de convidá-los a passar a noite (ou o dia) em hotéis. Mas também, deve-se agradecer aos jogadores da equipa de futebol do Maxaquene que numa ocasião, cederam seis lugares a outros desafortunados viajantes condenados a pernoitar em Sofala, porque aqueles atletas preferiram voluntariamente regressar no voo da LAM do dia seguinte. Nem sempre é assim, porque há situações em que o chefe de escala pura e simplesmente se evapora do local, sem que ninguém mais o veja e, nessa altura, que cada um se safe a seu contento.
É preciso apurar responsabilidades. E o governo é que tem a palavra a dizer. No calor dos protestos ouvidos no local, alguns dos passageiros prometeram mover processos judiciais contra a LAM por prejuízo nos seus negócios. Eu prefiro exigir responsabilização política. É que, como pude testemunhar, o que afinal revolta as gentes do Chiveve, não são as fraudes que a FRELIMO, RENAMO ou MDM volta e meia clamam existir nos pleitos eleitorais.
Mas é o colonialismo económico a que os beirenses têm sido sujeitos diariamente. Até como maputense, revoltou-me a situação. Mais do que as atitudes imprudentes dos representantes do governo do dia, dos imensos buracos nas ruas, as ruínas fantasmagóricas dos grandes hotéis de outrora, do Chiveve cada vez mais seco, do acesso ao porto da Beira assoreado ou o silêncio sepulcral da imensa placa do ainda maior aeroporto de Moçambique. É o desprendimento do modus operandi local das grandes empresas públicas com sede em Maputo, em cujo grupo a LAM se inclui. Para se ter uma ideia do que isso é, socorro-me de outro pequeno exemplo. Sabia o leitor que para se activar o serviço ADSL TDM Banda Larga na cidade da Beira a autorização deve vir de Maputo? Palavras para quê?
um mal nunca vem só
O Princípio de Peter
Como se já não nos bastasse os atrasos constantes, a derrapagem de um novíssimo Q-400 na pista do aeródromo de Inhambane e a súbita descompressão a quarenta minutos de voo numa aeronave similar a caminho da Beira, ou a falta de água nos seus lavabos. A LAM estende agora, o seu imenso reportório de asneiras ao famoso sistema sofisticado on-line de reservas e compra de passagens, vulgo bilhete electrónico, a jóia da coroa dos nossos spots televisivos.
Overbooking! É o que o estimado leitor desavisado vai ouvir quando pretender enfiar-se num avião da LAM – a nossa única opção no pós Air Corridor - na Beira, Nampula, Quelimane, Pemba ou mesmo Lichinga, por causa de um suposto sistema informático que faz com que, por exemplo, o chefe de escala da Beira não saiba quem embarcou em Quelimane, Nampula e por aí em diante. Nem queira imaginar o pesadelo de quem a partir de uma província do centro e do norte quiser viajar para a Europa, Ásia ou América…
É que chegado ao aeroporto, o passageiro tem de correr para ser o primeiro a ser atendido no check-in. OK no bilhete, confirmado em Maputo, reconfirmado na Beira, ou Nampula. Nem pensar, isso não serve para nada. O chefe de escala local é que decide quem é que entra no avião! Mesmo consultada a lista de passageiros com OK nada serve para lhe demover a opinião. Se um tipo estiver em 14º lugar pode, à velocidade da luz, passar para 42º. Enquanto que um tipo no 30º lugar – porque pagou um estímulo, ou declarou em tom ameaçador “ (…) sou amigo do governador, hein!...” – passa para o 1º lugar. Cenas incríveis que se registam diariamente nos aeroportos da Beira, Nampula e Lichinga. Nomes directamente, no momento, adulterados no sistema de reservas. Onde está João Santos, pode de repente passar a estar Maria Albertina. O controlo e segurança no check-in é totalmente banalizado. Se aparecer na lista CANGARRA DE GALINHAS ou OSSAMA BIN LADEN ninguém ficará alarmado, porque isso já é normal. É o fiasco do Bilhete Electrónico. Nada justifica que para um avião de 72 lugares haja 120 passageiros confirmados para o mesmo voo e à mesma hora. Em rigor, o tal do sistema informático não é on-line, porque o pessoal de terra na Beira não consegue provar quantas pessoas fizeram reserva e embarcaram em Maputo, Quelimane, Nampula ou de qualquer outro lugar do mundo com escala naquela cidade.
E a justificação dada pelo pessoal da MAHS em uníssono com o delegado da LAM é de antologia: “ Isto acontece em qualquer parte do mundo (…) . Vocês não entendem nada de aviação civil (…)”. Estão enganados senhores experts em aviação civil, por muito menos do que isto, a TAAG, transportadora aérea angolana, entrou também para a lista negra da aviação civil mundial. É que estiveram sempre a subir naquela perigosa direcção, tanto que ainda não se aperceberam da vergonha nacional que Moçambique irá passar em vésperas dos Jogos Africanos em 2011. E o pior, perderam a quota de mercado que lhes daria um impulso financeiro. Ardeu a tenda! De que vale o país investir milhões de dólares num aeroporto internacional moderno para os passageiros ficarem sistematicamente em terra?
Como é evidente, a corrupção irrompe sempre nestes momentos para se manifestar descaradamente. Com passageiros em terra, o avião viaja com lugares vazios. Numa das ocasiões não pude resistir e exigi alto e bom som no interior de um novíssimo Q-400 que, quem quer que ainda estivesse no aeroporto da Beira, embarcasse porque havia lugar disponível. Eis que se gerou logo um pequeno motim com as assistentes de bordo a correrem de um lado para o outro, a chamarem pelo chefe de escala e de repente…milagre: o fantasma toma corpo de gente e aparece o famoso ausente, que até já lá estava dentro, mas que entrou no avião sem o canhoto do bilhete electrónico que lhe foi entregue providencialmente pela equipa de terra da cidade da Beira em força no avião naquele exacto momento.
Em menos de um mês, são já três episódios testemunhados por mim apenas no majestoso aeroporto internacional da Beira, em que passageiros tiveram que ficar em terra com os bilhetes confirmados na mão. Invariavelmente, a LAM tratou de convidá-los a passar a noite (ou o dia) em hotéis. Mas também, deve-se agradecer aos jogadores da equipa de futebol do Maxaquene que numa ocasião, cederam seis lugares a outros desafortunados viajantes condenados a pernoitar em Sofala, porque aqueles atletas preferiram voluntariamente regressar no voo da LAM do dia seguinte. Nem sempre é assim, porque há situações em que o chefe de escala pura e simplesmente se evapora do local, sem que ninguém mais o veja e, nessa altura, que cada um se safe a seu contento.
É preciso apurar responsabilidades. E o governo é que tem a palavra a dizer. No calor dos protestos ouvidos no local, alguns dos passageiros prometeram mover processos judiciais contra a LAM por prejuízo nos seus negócios. Eu prefiro exigir responsabilização política. É que, como pude testemunhar, o que afinal revolta as gentes do Chiveve, não são as fraudes que a FRELIMO, RENAMO ou MDM volta e meia clamam existir nos pleitos eleitorais.
Mas é o colonialismo económico a que os beirenses têm sido sujeitos diariamente. Até como maputense, revoltou-me a situação. Mais do que as atitudes imprudentes dos representantes do governo do dia, dos imensos buracos nas ruas, as ruínas fantasmagóricas dos grandes hotéis de outrora, do Chiveve cada vez mais seco, do acesso ao porto da Beira assoreado ou o silêncio sepulcral da imensa placa do ainda maior aeroporto de Moçambique. É o desprendimento do modus operandi local das grandes empresas públicas com sede em Maputo, em cujo grupo a LAM se inclui. Para se ter uma ideia do que isso é, socorro-me de outro pequeno exemplo. Sabia o leitor que para se activar o serviço ADSL TDM Banda Larga na cidade da Beira a autorização deve vir de Maputo? Palavras para quê?
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