segunda-feira, 29 de julho de 2013

“Nunca me passou pela cabeça candidatar-me”

“Nunca me passou pela cabeça candidatar-me”
Primeira-dama em Grande Entrevista à Stv e ao “O País”
Maria da Luz Guebuza aborda com abertura a sucessão dentro da Frelimo e garante que nem ela nem o Chefe de Estado avançam para concorrida às presidenciais
O presidente da República está a caminhar a passos galopantes para o fim do seu mandato. A senhora vai ou não se candidatar à Presidência da República?
Isso nunca passou pela minha cabeça. Acho que no fim do mandato do meu marido temos o direito de fazer a nossa vida pessoal. Demos a nossa contribuição durante estes 10 anos para o desenvolvimento do país. acho que também será uma oportunidade para que os outros moçambicanos possam fazer ainda melhor que nós. há muitos e muitos quadros no nosso país que poderão dar a sua contribuição de uma forma muito boa.
Se porventura o partido Frelimo lhe colocar essa proposta, qual será a sua resposta?
Impossível. Sou quadro sénior da Frelimo, mas não é possível. Acho que este tempo foi de trabalho muito intenso, então é o momento para darmos também a nossa contribuição de uma outra maneira. Não nesta posição, porque a Frelimo e Moçambique têm muitos quadros. Vão surgir muitos quadros para desempenhar essa função.
Como é que olha para a actual situação política do país, em particular, a tensão política que se vive em Muxúnguè?
Olhamos para esta situação com muita preocupação, porque eu, em particular, e penso que aqueles que têm quase a minha idade viveram momentos de horror e terror e não querem voltar para esse tipo de situação. Moçambique está em paz há 20 anos e queremos continuar em paz, queremos que as nossas crianças desfrutem da paz. Queremos que as nossas crianças e nós continuemos a desenvolver o nosso país sem nenhuma perturbação. Por isso, todos os moçambicanos, todos nós, vamos trabalhar para que a paz continue no nosso país. Quem deve manter a paz somos todos nós. Não é apenas a polícia, não é apenas o Ministério da Defesa, cada moçambicano no local em que estiver tem o dever de manter a paz no nosso país.
A questão da recandidatura ou não do presidente da República tem sido motivo de forte debate. Como esposa do Presidente, como é que olha para esta questão?
Digo com toda a franqueza: ele não se vai recandidatar. Ele disse em público várias vezes e eu digo aqui que ele não se vai recandidatar. No fim do mandato ele vai entregar as pastas ao outro presidente. Então, não adianta criarmos preocupações ou insistências. A verdade é uma, ele não se vai recandidatar.
Se lhe colocassem a proposta de um terceiro mandato, o que o aconselharia?
Não o aconselharia a ir ao terceiro mandato, porque devemos ser nós os primeiros a respeitar a Constituição. Devemos ser os primeiros a respitar o mandato. Se são 10 anos, então no fim tem que haver este processo de eleições e um novo presidente.
Como é que a primeira-dama reage quando lê jornal, vê televisão, escuta rádio e depara-se com críticas fortes à governação do seu marido?
Muitas vezes, vejo que são pessoas que não estão informadas; são pessoas que não conhecem o Moçambique real; são pessoas que não conhecem as realizações do país. Se formos a Manhiça, a Gaza, iremos ver as mudanças que há, aquilo que está a acontecer. Mas estamos num país em democracia e com liberdade de expressão, então cada um pode falar o que bem acha. Eu não digo que não se faça críticas, mas elas devem ser construtivas.
“O cancro é uma preocupação no país... há muitos jovens com esta doença”
A primeira-dama foi uma peça-chave para a organização em Maputo da VII Conferência do Colo do Útero em Maputo. Que mensagem gostaria de deixar para os moçambicanos?
a mensagem que tenho a deixar para os moçambicanos é que o cancro do colo do útero, o cancro da mama, o cancro da próstata são doenças possíveis de se prevenir e são, igualmente, possíveis de tratar, caso sejam detectadas no início. Não tenhamos receio de nos dirigir ao hospital e de contactar o pessoal de saúde para podermos fazer as perguntas e obter qualquer esclarecimento. Nas unidades sanitárias estão criadas as condições para fazer o rastreio do cancro da mama, cancro do colo uterino e o Ministério da Saúde está a trabalhar na preparação de estratégias de rastreio do cancro da próstata.
Qual é a situação do cancro em Moçambique?
A situação é preocupante e não nos esqueçamos que o cancro do colo uterino é exacerbado pelo HIV/Sida. Aparecem muitas jovens com esta doença. O Ministério da Saúde está a criar condições para que se comece a administrar às meninas de tenra idade uma vacina de prevenção. O trabalho será feito a nível das escolas, porque elas terão que ser vacinas em três doses. Esta sétima conferência foi um momento oportuno para podermos fazer a divulgação do que são estas doenças, como é que as mesmas se manifestam e o que é que podemos fazer para reduzirmos a taxa.
É a primeira vez que se realiza uma conferência do género num país de expressão portuguesa. Sente-se realizada pelo facto de ter conseguido alcançar esse objectivo?
É verdade que é um grande avanço para nós e uma grande honra para Moçambique poder ser anfitrião desta reunião, porque envolve primeiras-damas do nosso continente. Envolve também presidentes dos parlamentos do nosso continente, ministros de saúde dos países africanos e envolve ainda investigadores, cientistas, médicos não só do continente africano, mas de todo o mundo. Por isso, podemos dizer que foi uma honra e orgulho para Moçambique e uma grande oportunidade para o nosso país criar condições para mais pessoas serem tratadas no nosso país. A realização desta conferência foi uma grande oportunidade para o nosso país.
Por que o lema “juntos podemos salvar vidas” e que mensagem se pretende transmitir?
Existe um grande significado, porque nós queremos salvar a vida de muitos moçambicanos e isso não pode ser feito por uma pessoa. Queremos que todos os moçambicanos se abracem e digam não ao cancro da mama, não ao cancro do colo do útero, não ao cancro da próstata.
Recentemente, a primeira-dama visitou unidades hospitalares que fazem o rastreio do cancro do útero e da mama. Qual é a realidade que encontrou no terreno?
Ficámos satisfeitos com aquilo que vimos e ouvimos. Vimos ainda as condições do Centro de Saúde da Polana Caniço, que tem condições para poder assistir às mulheres e ao nosso povo. Vimos também as salas preparadas para fazer o rastreio e uma série de consultas. Há ainda sessões de planeamento familiar e uma série de actividades.
Como é que a primeira-dama iniciou os contactos para ter esta conferência em Moçambique?
Não fizemos nenhum “lobby” para que a conferência fosse realizada em Moçambique, mas devido à nossa participação, ao nosso engajamento depois da sexta conferência, que teve lugar em Lusaka, Zâmbia, os organizadores tomaram essa decisão.
A ideia de que um simples caroço no corpo pode levar-nos  à morte não estará a alimentar esse tabu sobre a doença? Não seria esta a altura para levarmos à população explicações mais profundas sobre a doença?
Aquilo que o Ministério da Saúde tem estado a fazer nas localidades e noutros pontos tem ajudado a população a perceber estas doenças (...). Se a pessoa vai ao hospital na fase inicial desta doença nem há necessidade de amputar a mama, e sim de se retirar apenas o caroço. é um trabalho que temos que fazer de forma contínua, mesmo por causa desse tabu que está à volta da doença.
Senhora primeira-dama, quando é que começam as suas actividades pelas causas sociais?
Às vezes iniciámos este tipo de trabalho de uma forma muito simples: quando estamos com a família, ela chama-nos atenção para uma criança ou para o nosso próximo. Vai-nos sendo incutida uma nova forma de estar e acabamos pensando nos outros antes de pensarmos em nós mesmos. Se temos duas ou três capulanas, podemos dispensar uma a quem não tem nada. E é assim que vamos desenvolvendo este espírito.
Quais são os alicerces da sua actividade social?
Temos o nosso povo, um povo trabalhador, muito determinado, que quando quer algo faz. O povo moçambicano é que nos inspira, está sempre connosco. Conseguimos fazer o que fazemos porque temos o suporte do nosso povo.
Moçambique é um país que tem na mulher o elo mais fraco. Como primeira-dama, acredita na visão da mulher no processo de desenvolvimento de Moçambique?
Acredito que a mulher faz a diferença no nosso país, a mulher faz a diferença em qualquer canto do mundo. No nosso país, em particular, eu acredito porque vemos hoje aquilo que a mulher faz que no passado não fazia. Desde o processo da luta de libertação nacional, acompanhámos o envolvimento da mulher, todo o seu crescimento e o trabalho que foi feito para empoderá-la. hoje vemos a diferença que a mulher faz. vemos que a mulher, em todas as sociedades, é o epicentro do núcleo familiar, tudo gira à volta dela. A mulher deve ser valorizada. A mulher deve ter o seu próprio lugar para poder crescer, para poder participar neste processo de desenvolvimento do país e, acima de tudo, para poder assistir à sua família. Por isso, a mulher é, de facto, decisiva e, para o nosso país, temos visto o número de mulheres no parlamento, não estão lá só por o serem, estão sim porque demonstraram as suas capacidades. Temos visto o número de mulheres no governo. uma vez mais, elas estão lá não só para preencher números, mas porque mostraram que são capazes e fazem a diferença. Hoje temos uma presidente no Parlamento, algo que muitos países europeus não têm, mas nós temos.
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