terça-feira, 2 de julho de 2013

Dlhakama fala à imprensa antes de partir para o frente-a-frente com Guebuza

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, agendou para esta quarta-feira um encontro com a imprensa nacional e estrangeira na sua base em Sadjungira, na Serra da Gorongosa, centro de Moçambique. Quarta-feira era o dia suposto em que o líder da Renamo participaria de um diálogo com o Presidente da República, Armando Guebuza, em Maputo.

Uma fonte da Renamo na cidade da Beira indicou ao nosso jornal que Afonso Dhlakama entendeu que antes de partir para o ansiosamente bastante esperado encontro com o Presidente da República, fosse bom primeiro se dirigir a nação  e ao  mundo  via  imprensa, para se explicar de todo cenário político em curso no país.

“Oxa lá que Afonso Dhlakama transmita uma mensagem de paz para o conforto dos moçabicanos que já vivem ambiente de tensão” – referiu  ao nosso jornal um académico na cidade da  Beira, lembrando que os acontecimentos  caracterizados  pela  violência armada  que  se  registou  nos  últimos dias em nada dignifica o momento em que o país avança para a superação da pobreza e o alcance do bem-estar.  

Milhares de pessoas em todos os cantos do país e além fronteiras clamam pela paz e pelo fim das hostilidades militares em Moçambique. Há apelos de todos os lados para que a Renamo e o governo rapidamente se entendam e acabem de uma vez por todas com o ambiente de hostilidade entre si.

Tanto o líder da Renamo, assim como o Presidente da República já manifestaram a sua disposição em dialogar. Mas o diálogo que está a acontecer em Maputo entre as delegações da Renamo e do governo é decisivo para o frente-a-frente que se deseja seja o mais breve possível entre Afonso Dhlakama e Armando Guebuza.

No entanto, tudo mostra que as partes ora em diálogo não tem conseguido superar as suas diferenças e partir para o estabelecimento de uma pla taforma sobre a qual assente toda a realidade pura do país. O governo apareceu no início desta semana a exigir a desmilitarização da Renamo, uma condição vista como absurda por estas alturas em que tudo quanto se procura é o entendimento entre as partes.

Cronologia dos acontecimentos que resvalaram a recente violência armada no país

O país vive ambiente de tensão nos últimos dias devido a três ataques da Renamo em Sofala, centro, tendo o último causado dois mortos e dois feridos, elevando para 15 o número de vítimas mortais desde Abril, em operações atribuídas à Renamo. Uma vaga de receio abala o país, em paz desde 1992 e alguns líderes religiosos ofereceram-se já como mediadores.

Afonso Dhlakama, líder da Renamo tem o seu quartel-general na Serra da Gorongosa, de onde durante anos liderou a guerrilha contra a Frelimo até ser  assinado  um  acordo  de  paz  em 1992. Finda a guerra, o país rapidamente se está a reeguer.

Mas, no ano passado, o líder da Renamo voltou a instalar-se na Gorongosa,  depois  de  ter  afirmado  em Nampula que impediria a realização de eleições autárquicas deste ano, e as legislativas e presidenciais de 2014, caso a Frelimo não aceitasse “rever o pacote eleitoral”.

Este ano foram marcadas eleições autárquicas para 20 de Novembro mas Afonso Dhlakama anunciou que aRenamo não concorreria.

Em Abril, a Renamo atacou um posto policial em Muxúnguè, de que resultou a morte de quatro polícias e um homem seu. Atacou também uma viatura civil matando os dois passageiros e um autocarro privado, ferindo duas mulheres.

Descritos como incidentes, os casos quase caíram no esquecimento quando, após vários adiamentos, no final de Maio, a Frelimo e a Renamo se sentaram à mesa das negociações, exigindo  os  oposicionistas  paridade  numérica com o partido governamental já nas eleições autárquicas.

As conversações arrastam-se e os moçambicanos acabaram por esquecer os seus receios. Mas, nos meados do mês passado foi atacado o paiol de Savane, na província de Sofala, registando-se seis mortos e três feridos entre soldados governamentais, para além do roubo de diverso armamento, ali chegado recentemente.

O governo responsabilizou a Renamo mas esta não assumiu a autoria da operação. O receio do regresso à guerra reacendeu-se por todo o país mas, poucos dias depois agravou-se ainda mais, quando, numa conferência de imprensa na sede da Renamo em Maputo, o brigadeiro Jerónimo Malagueta, chefe de departamento de comunicação da Renamo, anunciou que, o seu partido paralisaria o país a partir do dia 20 de Junho, quinta-feira, impedindo a circulação de viaturas e comboios ao longo da linha férrea de Sena, na zona centro, usada pelas multinacionais Vale e Rio Tinto para escoarem o carvão da província de Tete.

Como justificação, o militar acusou o Governo de se estar a preparar para atacar a sua base na Gorongosa. Sexta-feira de manhã, no troço entre  o rio Save  e Muxúnguè, na província  de  Sofala,  a  Renamo  desencadeou  três ataques, contra um autocarro de passageiros e dois camiões, em que morreram  duas  pessoas  e  outras  duas ficaram feridas.

Imediatamente, militares e polícias passaram a escoltar todas as viaturas para “garantir a segurança de pessoas e bens, pois a economia não pode parar”, segundo uma autoridade local. Poucas horas depois, o brigadeiro Jerónimo Malagueta, era detido em Maputo.

Enquanto nas redes sociais se multiplicavam as críticas a Afonso Dhlakama e  ao  Presidente Guebuza, dirigentes religiosos citados pelo “Diário de Moçambique” –D. Dinis Sengulane,  da  Igreja  Anglicana,  D.  Dinis Matsolo, bispo da Igreja Metodista Unida de Moçambique e Cássimo David, chefe  da  comunidade  muçulmana  de Maputo –apelavam ao diálogo e ofereciam-se como mediadores,  se necessário.

O AUTARCA – 02.07.2013

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