Luanda – Curiosamente, Emiliano Catumbela, de 22 anos de idade, agora dispensa qualquer tipo de apresentação. O jovem entrou (com dois pés) na curta lista de “presos políticos do MPLA no século XXI” depois de permanecer, injustamente, cerca de 30 dias atrás das grades do "regime neocolonialista", sob forte tortura. Onde, inclusive, foi lhe arrancado uma unha com alicate por um dos agentes da polícia nacional.
Fonte: Club-k.net
Fonte: Club-k.net
Almocei funje com água amarela na Comarca de Viana; Cagava nos sacos; e escapei ser violado
Após a sua arbitrária detenção no dia 27 de Maio do corrente, pela polícia angolana, Ti Creme (como também é conhecido) viveu na carne o que ninguém imagina. Primeiro: ficou vários dias sem se alimentar. Segundo: era constantemente espancado pelos seus carrascos. Uma das sessões (de espancamento) foi testemunhada pela então comandante provincial de Luanda da Polícia Nacional, a comissária Elizabeth Rank Frank “Bety”.
Terceiro: foi acusado de ter ido a Moçambique a fim solicitar armas de guerra ao partido maior partido da oposição local (RENAMO), a fim de combater o governo angolano. Quarto: garantiram-lhe que muito brevemente será abatido juntamente com os outros membros do Movimento Revolucionário, por reivindicar seus direitos, consagrados constitucionalmente.
Quinto: almoçou funje com água amarela na Comarca de Viana, depois de tomar um leite expirado que lhe causo diarreia. Sexto: partilhou durante largos dias uma cela sem sanita, com outros detidos mais perigosos que escaparam de lhe violar. E era obrigado a defecar nos sacos, para deitar no dia seguinte. Sétimo: acusaram-no de ter posto fogo defronte a sede provincial do MPLA. Oitavo: please, acompanhe a conversa:
Como é que foste detido durante a vigília do dia 27 de Maio?
Durante a vigília a polícia procurou prender um dos elementos que aparentava-se ser um dos líderes do Movimento Revolucionário. Foi dai que me prenderam e, fui cruelmente torturado. Até chegar ao ponto de me arrancarem uma das unhas do braço esquerdo.
No momento em que estava a ser torturado, a comandante Bety (então comandante provincial de Luanda da polícia nacional) estava presente com uma outra senhora. Dizia ela que eu estava drogado, porque ninguém podia realizar aquele tipo de actividade seriamente.
Eu respondi-lhes que não estava drogado. E, toda vez que respondia as perguntas que me colocavam, batiam-me com um porrete na cara. Isto aconteceu repetidamente até começar a sangrar pelas narinas e ouvidos. Esta acção toda se registou no Largo das Escolas (escassos metros do largo 1º de Maio, onde decorreu a vigília).
Depois me levaram para a Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) onde fui novamente espancado. E lembrou muito bem dos elementos que me torturavam.
O que aconteceu na DPIC?
Quando estive na DPIC, um dos investigadores me reconheceu e disse firmemente que eu tivera ido a Moçambique no ano passado. Alegou que havia um relatório (com as imagens) que lhes fora enviada pela embaixada angolana em Moçambique.
Depois disso me separaram de outros manifestantes. Quimbinza também explicou que nós viajamos juntos a Moçambique, e que fomos recebidos por alguns membros do governo local, onde trocamos impressões sobre a política africana.
Mas os investigadores da DPIC inverteram as coisas. Acusaram-me de ter ido falar com os membros da RENAMO para nos dar armamento para combatermos o governo angolano.
Disseram nem você (Emiliano), nem Adolfo, nem Luaty, nem Nito Alves, vai ser Presidente deste país. (…) Vocês vão ser abatidos rápidos. Dai, comecei a rir porque notei que o tal investigador não tem noções sobre a política, muito menos da lei Constitucional.
Quais são as questões que te colocavam durante as sessões de tortura?
Eles procuraram saber se eu pertencia a um dos partidos da oposição. Seguidamente, perguntaram-me quem nos manda realizar manifestações. Respondi-lhes firmemente que não pertencia a nenhum partido político, e ninguém nos manda sair as ruas e, tudo que o Movimento faz é da nossa inteira responsabilidade.
De que o acusava?
Primeiro disseram que eu coloquei fogo defronte a sede provincial do MPLA. Respondi logo que era pura mentira. Depois apareceu um outro agente com um saco cheio de pedras e disse que me pertencia. Voltei a negar. Trouxeram mais tarde uma lâmina de comprimidos azuis, alegando que tiraram do meu bolso. Neguei respondendo-lhes que não me encontrava doente e logo não havia necessidade de tê-los.
Era o único detido na altura?
Não. Éramos um grupo de manifestantes. Mas, reconheci apenas um deles, que se chama Quimbinza, porque viajamos juntos para Moçambique no ano transacto. Outros pareciam-me ser dos núcleos de Cacuaco e Sambizanga (em Luanda).
No dia seguinte soltaram todos menos eu, e acusaram-me de ter aleijado o comandante Eduardo António Nunes com uma pedra.
Fizeste mesmo isto?
Claro que não. Numa manifestação como aquela era difícil distinguir que este atirou pedra naquele. Éramos centenas de pessoas. E durante a vigília não segurei em nenhuma pedra, porque a nossa acção era pacífica. E quem estava a tirar pedras à polícia eram as pessoas que estavam de passagem.
Quanto tempo ficaste na DPIC?
Passei simplesmente uma noite e no dia seguinte fui levado para a esquadra do Catinton, onde fui novamente interrogado na presença do comandante daquela esquadra, juntamente com três agentes da inteligência. Estes garantiram-me que deram 100 dólares a cada núcleo do Movimento Revolucionário para que realizássemos a vigília. Ignorei-lhes uma vez que não dominava o assunto.
Mais tarde começaram aconselhar-me a deixar essa vida. Disseram ainda que estão a nos aliviar muito e daqui a pouco vão nos fuzilar todos (…); e que nós não temos capacidade para fazer nada, porque somos marginais. Um deles disse que o país está bom e não precisa mais de manifestações. Tentaram pôr-me tudo isso na mente.
Foste levado em quantas esquadras?
Estava primeiro na 5ª Divisão onde passei duas noites. Receberam-me tudo e depois me levaram no Catinton onde fiquei três dias a sofrer. Depois me mandaram para a Comarca de Viana, onde encontrei-me com vários consofredores.
O que exactamente aconteceu no Catinton? Ouvia-se várias versões …
Passei dias sem me alimentar na esquadra do Catinton. E quando me transferiram para a Comarca de Viana, procurei manter contacto com a minha família e pedi que me trouxessem comida porque o que me deram no almoço não era adequada para ninguém.
No primeiro dia me deram leite que depois de tomar causou-me, imediatamente, uma disenteria. Na cela onde estava não há sanita. Defecávamos todos nos sacos. Enquanto a alimentação, as 12H00 nos serviram funje com água amarela (água misturada com óleo de palma e sal) para o almoço.
O que achaste do trabalho dos advogados?
Gostei imenso. Também gostei dos esforços de todos membros do Movimento Revolucionário. Foi muito importante sentir o calor dos manos.
Qual é a mensagem que deixa para os outros membros do Movimento e não só?
Estive detido e sai graça a Deus. Isso faz parte da política. Agradeço, mais uma vez, a todos meus manos e aos advogados que fizeram tudo para hoje estar livre. Dizer também que pelo tempo que lá estive, fiquei mais animado e tenho novas propostas que brevemente vou submeter aos manos para a sua avaliação.
Como é que foste detido durante a vigília do dia 27 de Maio?
Durante a vigília a polícia procurou prender um dos elementos que aparentava-se ser um dos líderes do Movimento Revolucionário. Foi dai que me prenderam e, fui cruelmente torturado. Até chegar ao ponto de me arrancarem uma das unhas do braço esquerdo.
No momento em que estava a ser torturado, a comandante Bety (então comandante provincial de Luanda da polícia nacional) estava presente com uma outra senhora. Dizia ela que eu estava drogado, porque ninguém podia realizar aquele tipo de actividade seriamente.
Eu respondi-lhes que não estava drogado. E, toda vez que respondia as perguntas que me colocavam, batiam-me com um porrete na cara. Isto aconteceu repetidamente até começar a sangrar pelas narinas e ouvidos. Esta acção toda se registou no Largo das Escolas (escassos metros do largo 1º de Maio, onde decorreu a vigília).
Depois me levaram para a Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC) onde fui novamente espancado. E lembrou muito bem dos elementos que me torturavam.
O que aconteceu na DPIC?
Quando estive na DPIC, um dos investigadores me reconheceu e disse firmemente que eu tivera ido a Moçambique no ano passado. Alegou que havia um relatório (com as imagens) que lhes fora enviada pela embaixada angolana em Moçambique.
Depois disso me separaram de outros manifestantes. Quimbinza também explicou que nós viajamos juntos a Moçambique, e que fomos recebidos por alguns membros do governo local, onde trocamos impressões sobre a política africana.
Mas os investigadores da DPIC inverteram as coisas. Acusaram-me de ter ido falar com os membros da RENAMO para nos dar armamento para combatermos o governo angolano.
Disseram nem você (Emiliano), nem Adolfo, nem Luaty, nem Nito Alves, vai ser Presidente deste país. (…) Vocês vão ser abatidos rápidos. Dai, comecei a rir porque notei que o tal investigador não tem noções sobre a política, muito menos da lei Constitucional.
Quais são as questões que te colocavam durante as sessões de tortura?
Eles procuraram saber se eu pertencia a um dos partidos da oposição. Seguidamente, perguntaram-me quem nos manda realizar manifestações. Respondi-lhes firmemente que não pertencia a nenhum partido político, e ninguém nos manda sair as ruas e, tudo que o Movimento faz é da nossa inteira responsabilidade.
De que o acusava?
Primeiro disseram que eu coloquei fogo defronte a sede provincial do MPLA. Respondi logo que era pura mentira. Depois apareceu um outro agente com um saco cheio de pedras e disse que me pertencia. Voltei a negar. Trouxeram mais tarde uma lâmina de comprimidos azuis, alegando que tiraram do meu bolso. Neguei respondendo-lhes que não me encontrava doente e logo não havia necessidade de tê-los.
Era o único detido na altura?
Não. Éramos um grupo de manifestantes. Mas, reconheci apenas um deles, que se chama Quimbinza, porque viajamos juntos para Moçambique no ano transacto. Outros pareciam-me ser dos núcleos de Cacuaco e Sambizanga (em Luanda).
No dia seguinte soltaram todos menos eu, e acusaram-me de ter aleijado o comandante Eduardo António Nunes com uma pedra.
Fizeste mesmo isto?
Claro que não. Numa manifestação como aquela era difícil distinguir que este atirou pedra naquele. Éramos centenas de pessoas. E durante a vigília não segurei em nenhuma pedra, porque a nossa acção era pacífica. E quem estava a tirar pedras à polícia eram as pessoas que estavam de passagem.
Quanto tempo ficaste na DPIC?
Passei simplesmente uma noite e no dia seguinte fui levado para a esquadra do Catinton, onde fui novamente interrogado na presença do comandante daquela esquadra, juntamente com três agentes da inteligência. Estes garantiram-me que deram 100 dólares a cada núcleo do Movimento Revolucionário para que realizássemos a vigília. Ignorei-lhes uma vez que não dominava o assunto.
Mais tarde começaram aconselhar-me a deixar essa vida. Disseram ainda que estão a nos aliviar muito e daqui a pouco vão nos fuzilar todos (…); e que nós não temos capacidade para fazer nada, porque somos marginais. Um deles disse que o país está bom e não precisa mais de manifestações. Tentaram pôr-me tudo isso na mente.
Foste levado em quantas esquadras?
Estava primeiro na 5ª Divisão onde passei duas noites. Receberam-me tudo e depois me levaram no Catinton onde fiquei três dias a sofrer. Depois me mandaram para a Comarca de Viana, onde encontrei-me com vários consofredores.
O que exactamente aconteceu no Catinton? Ouvia-se várias versões …
Passei dias sem me alimentar na esquadra do Catinton. E quando me transferiram para a Comarca de Viana, procurei manter contacto com a minha família e pedi que me trouxessem comida porque o que me deram no almoço não era adequada para ninguém.
No primeiro dia me deram leite que depois de tomar causou-me, imediatamente, uma disenteria. Na cela onde estava não há sanita. Defecávamos todos nos sacos. Enquanto a alimentação, as 12H00 nos serviram funje com água amarela (água misturada com óleo de palma e sal) para o almoço.
O que achaste do trabalho dos advogados?
Gostei imenso. Também gostei dos esforços de todos membros do Movimento Revolucionário. Foi muito importante sentir o calor dos manos.
Qual é a mensagem que deixa para os outros membros do Movimento e não só?
Estive detido e sai graça a Deus. Isso faz parte da política. Agradeço, mais uma vez, a todos meus manos e aos advogados que fizeram tudo para hoje estar livre. Dizer também que pelo tempo que lá estive, fiquei mais animado e tenho novas propostas que brevemente vou submeter aos manos para a sua avaliação.
De recordar que primeiramente Emiliano Catumbela tinha sido acusado de ofensas corporais conforme visto no processo número 5618/013-02, aberto na Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC). Já num segundo momento foi mudado o número do seu processo para 2176/2013 de passando a ser acusado de tentativa assassinato contra o comandante da polícia nacional, Eduardo António Nunes.
Sem comentários:
Enviar um comentário
MTQ