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Se conseguires controlar o Danúbio, vais passar a controlar a Europa, dizia-se no Império Otomano. Na primavera de 1999, esta sabedoria turca adquiriu nova atualidade quando, nos primeiros dias da operação militar “Anjo Misericordioso”, foram destruídas três pontes na cidade de Novi Sad. Bruxelas decidiu então transformar a Sérvia numa “ilha”, tenho-a privado dessa zona importante e de uma empresa petrolífera.
Os habitantes da Sérvia não se esqueceram daqueles 79 dias horríveis de bombardeamentos da OTAN. Na minha recente viagem à província da Voivodina encontrei-me com as pessoas que se lembram bem daqueles dias de autêntico pesadelo. Eis o que me contou a professora catedrática da Universidade de Novi Sad (capital da província), Dusanka Doban:
“A OTAN destruiu as pontes erguidas nos anos de minha adolescência, tentando punir Milosevic pela “desobediência”. Mas acabou por castigar o povo sérvio e nossos vizinhos, que continuam sofrendo prejuízos até hoje. É pena ninguém ter sido punido por esta barbaridade.”
Na primavera de 1999, a economia sérvia sofreu danos superiores a 100 bilhões de euros. O Ocidente não deu quis indenizar os prejuízos. Limitou-se a anular as antigas dívidas dos tempos do marechal Tito. Por isso, as pontes em Novi Sad foram reconstruídas pelos sérvios. Fala o habitante local Bogdan Radulovic:
“As pontes são necessárias tanto para os sérvios, como para os europeus. Aqui, no Danúbio, existe uma encruzilhada que une o sul e o norte da Europa. Creio que a UE e a OTAN devem pagar as nossas contas por terem destruído a infraestrutura da Voivodina.“
Finalmente, as pontes foram reconstruídas, mas quem irá limpar o leito cheio de bombas e minas não desativadas? Sladjana Petrovic considera que tal deve ser feito pelos que lançaram os mísseis Tomahawk:
“Os pilotos da Aliança confundiram a província Voivodina com o Kosovo. Aqui nunca habitaram albaneses, apenas húngaros e sérvios. Bruxelas não conhece bem a nossa história e geografia. Dizia-se que Novi Sad era a capital do Kosovo. Por isso, os aviões da OTAN deviam proteger os albaneses locais. Mas o que tinham a ver com isso os habitantes locais, o rio Danúbio e o Centro de TV, que também foi bombardeado?”
Hoje em dia, Novi Sad é visitada por alunos de escolas da Sérvia, o que significa que as pessoas simples não querem esquecer a tragédia recente. A União Europeia deu uma “lição de democracia”, que ficará na memória de muitas gerações.
Há já mais de 20 anos que Vesna Banjac trabalha como educadora em um jardim-de-infância de Belgrado. Como milhares de habitantes da capital, ela defendeu a cidade e seus alunos. Recorda o seguinte:
“Há 14 anos, Belgrado se tornou alvo de ataques, que lhe causaram feridas profundas. Quando vimos pela TV que Novi Sad ficou sem as pontes, eu decidi entrar nas fileiras de defensores das pontes de Belgrado por essas serem as últimas que ligavam Belgrado com a Europa. Não vimos os adversários que estavam bombardeando o nosso país, mas sentimo-nos humilhados. Os sérvios sempre sabiam defender-se, mas, desta feita, a Sérvia virou alvo de ataques aéreos da OTAN. Perante os meios técnicos modernos podíamos fazer pouca coisa. Por isso, decidimos que o agressor devia ver os que “estavam na mira”. Fui até à ponte Gazela e vi ali centenas de habitantes da cidade. No meio da agitação as pessoas se conheciam, cantavam, contavam piadas para combater o iminente ódio. Eu não tinha medo, porém corríamos o risco de morrer a qualquer momento. Quando passamos na ponte algumas semanas e o mundo tomou conhecimento disso, percebemos que o adversário tinha sido vencido. Conseguimos salvar a cidade e a nossa dignidade. Cada uma de nós tinha um emblema especial – “Atira contra mim – sou alvo da OTAN”.
Nas pontes se encontrava muita gente – jovens e velhos, habitantes da cidade e de outras vilas. Todos acreditavam no bom senso, mas os EUA decidiram punir os sérvios pela desobediência, pelo nosso desejo de preservar a integridade territorial do país. Por isso, acabamos por enfrentar um pesadelo quando, em três meses, centenas de pessoas foram mortas e a indústria destruída. Muitas pontes foram aniquiladas e as zonas contaminadas. Todavia, o povo da Sérvia foi mais forte do que o agressor. A sua vontade não foi quebrada, o povo sérvio aguentou tudo.
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