Crise pode estar a levar mais jovens a mendigar e a prostituirem-se
Publicado às 09.49
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A crise pode estar a levar mais adolescentes a mendigar, a traficar droga ou a prostituirem-se em Lisboa, alerta o Instituto de Apoio à Criança, que promove esta sexta-feira a VII Conferência "Crianças Desaparecidas e Exploradas Sexualmente".
foto Nuno Pinto Fernandes / Global Imagens |
Equipas de rua do Instituto de Apoio à Criança |
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do Projeto Rua do IAC, Matilde Sirgado, revelou que as equipas têm detetado, desde 2012, um "maior movimento" de jovens na rua, adolescentes entre os 14 e os 16 anos que "não estão propriamente a dormir na rua, mas que utilizam ou são explorados na rua, estão em risco, alguns em perigo mesmo".
Segundo Matilde Sirgado, podem estar a "praticar a mendicidade, a prostituição e o tráfico de estupefacientes".
Jovens, apontou, com "vínculos" familiares "frágeis" ou que fugiram de instituições de acolhimento, ou em que "as condições" de vida das suas famílias "se deterioraram", com "o acentuar da pobreza económica", fruto da crise.
Os casos, sobre os quais o IAC não dispõe ainda de números concretos, têm sido diagnosticados, pelas equipas de rua ou por meio de denúncias, sobretudo na Baixa lisboeta e perto de grandes superfícies comerciais.
Trata-se de adolescentes que, de acordo com Matilde Sirgado, abandonaram precocemente a escola e que, estando "entregues a si próprios", normalmente "passam rapidamente de vítimas a infratores".
O Projeto Rua, explicou, aborda os jovens e promove a mudança de comportamentos, a sua reinserção na sociedade, incentivando o seu regresso à escola, a frequência de cursos profissionais, "treinando as suas competências para que arranjem outra forma de ganharem dinheiro".
O IAC teme que a crise possa aumentar o fenómeno, até porque, para Matilde Sirgado, "a carência generalizada de meios de várias instituições" sociais "diminui a vigilância e o apoio que poderiam dar na prevenção" de situações na comunidade.
Na VII Conferência "Crianças Desaparecidas e Exploradas Sexualmente", que se realiza em Lisboa, será lançada uma brochura de sensibilização para a mendicidade forçada, uma problemática "com tendência para aumentar, de forma ligeira", assumiu a coordenadora do Projeto Rua, associando a prática não só à "pobreza de valores", mas também à "pobreza económica".
As denúncias de mendicidade feitas diretamente ao IAC, através da linha telefónica SOS Criança, apontam para uma diminuição de casos, de 557 em 2005 para 21 em 2012. Números que, ressalvou Matilde Sirgado, não traduzem a real dimensão do problema, tanto mais que, assinalou, muitas denúncias reportam-se aos mesmos menores.
A coordenadora do Projeto Rua atribuiu a redução do número de casos denunciados ao trabalho de prevenção e vigilância das instituições sociais, da comissão de proteção de menores e das autoridades policiais, bem como à possível alteração do perfil das crianças que pedem dinheiro na rua.
Em 2005, os menores eram maioritariamente do Leste Europeu, nomeadamente da Roménia. Atualmente, são portugueses, tocados pela pobreza, que praticam a mendicidade "como estratégia de sobrevivência".
A mendicidade infantil atinge crianças de colo, acompanhadas por familiares ou "adultos explorados, obrigados" a pedir na rua, e menores entre os 7 e os 10 anos, que mendigam sozinhos. Os casos ocorrem, predominantemente, em Lisboa, segundo o IAC.
No Projeto Rua trabalham vários técnicos, entre psicólogos, pedagogos, educadores e animadores.
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