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As explosões em Boston acabam de abrir a época de um novo tipo de terrorismo. O autor do crime fez tudo para que o seu ato fosse gravado por uma câmera de vídeo ou fotográfica. Agora ele é conhecido de centenas de testemunhas oculares da tragédia que, por seu turno, divulgaram seus vídeos e fotos em redes sociais.
Os peritos apontam para o efeito de ressonância social do atentado bombista. Assim, um atentado priva o Estado do monopólio sobre a violência. Na ótica do criminoso, um atentado sem a devida projeção social perde o sentido. Nesta lógica de raciocínio, o atentado perpetrado em Boston pode ser qualificado como “ideal”. Na mira dos terroristas não estavam apenas as pessoas, futuras vítimas da explosão, mas sim a opinião pública mundial.
E, para dizer verdade, os terroristas alcançaram o seu objetivo maléfico, tendo provocado polêmica e múltiplos comentários. Cada usuário da Internet pôde seguir, sob diversos ângulos, a explosão e a onda de choque que atingiu as pessoas. Para matar a curiosidade, basta ligar o celular e acompanhar de novo o decurso do trágico evento.
Uma das características da nova era informática do terrorismo consiste não apenas em numerosas provas documentais do acontecido, mas também no fato de sua divulgação global por diversos canais informativos autônomos. Os canais são múltiplos e não se pode bloqueá-los.
Além disso, não existe um centro de informação único, tal como não existe também um centro coordenador de estruturas terroristas. Até as webcams instaladas no local do acidente “beneficiaram” desta feita os terroristas. Dito de forma simples, a civilização prestou a si mesma um mau serviço.
Segundo afirma o membro do Conselho de Política Externa e Militar, Alexander Mikhailov, “tudo que esteja ligado hoje ao controle e à vigilância em locais de elevada concentração de pessoas e de elevado risco de ataques terroristas é um fenômeno normal e explicável”. A questão que se coloca é que a informação sobre isso tem que estar nas mãos de serviços especiais e não deixar que haja fugas para o exterior.
Caso contrário, vamos seguir as regras do jogo propostas pelos terroristas. Eles queriam que a sociedade visse o atentado e a sociedade viu. Estamos vivendo em um novo espaço informativo. "Por isso, temos de elaborar novas formas de trabalho para aproveitar tanto as vantagens, como as desvantagens do mundo em que vivemos".
Um ato de terror pressupõe um efeito de repercussão que possa vir a produzir à escala nacional e, na medida do possível, à escala global. Dito de grosso modo, o terrorismo como fenômeno se torna possível em locais onde haja leitores das últimas notícias.
Quanto mais poderosos forem os mídia, quanto maior for o seu papel na formação da opinião pública, tanto maior será a onda de terrorismo, salienta Igor Yakovenko, filósofo. Para ele, os regimes totalitários que dispõem de elementos tecnológicos da sociedade de informação (a exemplo da Alemanha nazista, a URSS, a Coreia do Norte) e, ao mesmo tempo, impedem a troca livre de informações, usando meios e métodos policiais, se tornam menos vulneráveis perante as ameaças terroristas.
Pode admitir-se que, qualquer dia, os serviços secretos do mundo inteiro acabem por compreender o imperativo de limitar a divulgação de informações e notícias. Mas tal cenário irá desferir mais um golpe sobre a “prioridade das liberdades civis”, se bem que esse postulado nem sempre funcione como deveria funcionar.
Os atentados atos terroristas ocorridos em Boston lançaram um desfio à civilização liberal. Resta agora aceitar o desafio e reagir de forma adequada, embora, em termos técnicos, ideológicos e organizativos, tal seja uma tarefa delicada, multifacetada e provavelmente inexequível.
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