MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
Olá Júlio
Como estás, meu bom amigo? Do meu lado tudo bem.
O que parece não andar nada bem é a protecção da natureza no nosso país.
Ainda há dias as autoridades vieram a público confirmar aquilo de que há muito se suspeitava: a extinção do rinoceronte no Parque Nacional do Limpopo (PNL), devido à caça furtiva.
Como sabes a situação do PNL é um cancro que parece ser de cura impossível. Pelo contrário, dá a ideia que se espalha e agrava à medida que o tempo passa.
O que parecia ser um projecto de enorme importância, o parque trans-fronteiriço ligando o PNL ao Kruger Park, da África do Sul, está em falência acelerada devido à nossa incapacidade de resolver o problema das milhares de pessoas que vivem no interior do parque. Pessoas que são a base de onde partem os caçadores furtivos. Quer os que actuam dentro de Moçambique, quer os que entram na África do Sul.
Os anos vão passando e os dinheiros destinados à transferência das famílias para fora do PNL vão sendo gastos mas as pessoas não saem de lá. Pelo contrário, as famílias vão crescendo, assim como crescem as cabeças de gado nos seus currais. Sobre o destino que é dado a esse dinheiro as opiniões dividem-se, mas eu creio que está a enriquecer gente sem escrúpulos enquanto o país empobrece.
Mas os atentados à natureza não se ficam por aí. Hoje, aqui em Maputo, quando passo pela Marginal fico com os cabelos em pé. As dunas primárias, que até são protegidas por lei, estão a ser totalmente arrasadas, com as árvores abatidas sem piedade, por causa da construção da estrada Circular. Tenho sérias dúvidas de que tenha sido feito um estudo de impacto ambiental sério antes de se começar a arrasar aquela protecção natural da costa. Protecção que, uma vez destruida, não teremos capacidade de substituir.
Voltando ao abate de animais, os elefantes mortos no Niassa já se contam por milhares ao ano.
Um massacre de animais sensíveis e inteligentes, um massacre da Natureza e um massacre da nossa capacidade de gerar receitas de turismo.
Sobre o desbaste das nossas florestas muito se está a falar mas, tenho a sensação, pouco se está a fazer.
E pouco se irá fazer, ou mesmo nada, enquanto as autoridades que deveriam pôr cobro a estes desmandos forem suspeitas de beneficiar, pessoalmente, com eles. Desde o irmão do madeireiro chinês até aos polícias e militares que alugam as suas armas aos caçadores furtivos.
O nosso principal problema não é a falta de meios e instituições para protegerem os nossos recursos. É o facto de esses meios e instituições se passarem para o lado dos criminosos, a troco de algumas migalhas do seu banquete.
E, enquanto não conseguirmos resolver esse problema, o cancro vai continuar a crescer descontroladamente.
Que fazer?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 26.04.2013
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